Ficha do Proponente
Proponente
- Luis Fernando Severo (UTP)
Minicurrículo
- Mestrando em Comunicação e Linguagens – Linha de Cinema na Universidade Tuiuti do Paraná. Professor de Direção Audiovisual no Curso de Cinema e Audiovisual da Faculdade de Artes do Paraná/Unespar. Criador e Supervisor Acadêmico do Curso de Cinema do Centro Europeu. Diretor do MIS-PR de 2011 a 2015. Realizador de diversos filmes de longa e curta-metragem premiados nos festivais de cinema de Gramado, Rio, Brasília, e selecionados para Locarno, Oberhausen e Clermont-Ferrand.
Ficha do Trabalho
Título
- Visionários: cinema como convergência de estudos práticos e cinefilia
Seminário
- Teoria dos Cineastas
Resumo
- Reflexão sobre os processos criativos empregados na realização do documentário experimental Visionários (2002), evocando as diversas influências que nele convergiram a partir do contato com filmes, realizadores, teóricos e pesquisadores, ocorrido na Cinemateca de Curitiba durante seus primeiros anos de existência. A busca de uma estética do sensível e de uma poética cinematográfica no campo do documentário. Revisão desse processo à luz da obra de teóricos e críticos contemporâneos.
Resumo expandido
- Este trabalho pretende estabelecer uma reflexão sobre os processos criativos que empreguei na realização do documentário experimental Visionários (2002), a partir de uma evocação de diversas influências que nele convergiram, motivadas principalmente pela visão de cinema que absorvi frequentando sistematicamente a Cinemateca de Curitiba na gestão do cineasta e escritor Valêncio Xavier (1975-1982). Essa instituição, à época sintonizada com as vertentes mais criativas do cinema brasileiro, sedimentou o terreno para o surgimento da chamada Geração Cinemateca, grupo de realizadores curitibanos que transformou sua paixão cinefílica alimentada no local em prática cinematográfica, num processo análogo ao descrito por Antoine de Baecque em estudos sobre o mesmo tema na França.
Embora tenha estreado quase duas décadas após o final dessa gestão, Visionários foi profundamente influenciado por eventos que nela ocorreram, como mostras ou exibições individuais de filmes de rara circulação no circuito comercial, resultando num filme elogiado pela crítica, multipremiado e exibido em importantes festivais internacionais como Clermont-Ferrand.
Considero a primeira exibição em Curitiba de Fata Morgana (1971), viagem iniciática de Werner Herzog pelo Norte da África, um divisor de águas que me lançou, no final dos anos 1970, na busca de um olhar próprio sobre o cinema, num processo alimentado no interior da Cinemateca através de cursos e palestras ministrados por figuras seminais da crítica brasileira, como Ismail Xavier, Jean Claude Bernardet e Jairo Ferreira, e fora dela através de seus livros e textos críticos, amplamente discutidos entre os frequentadores regulares do local. O contato com criadores como Rogério Sganzerla, Ozualdo Candeias e Peter Przygodda (montador dos filmes de Wim Wenders) fomentou em mim um desejo de cinema, e está na gênese de minhas primeiras experimentações em Super 8, uma das quais vai originar Visionários anos mais tarde. Nesse filme, onde registro os últimos vestígios de dois santuários construídos ao Norte do Paraná por pequenos agricultores, me inspiro em diversas teorias que instigaram por anos meu imaginário cinematográfico, fundamentadas em textos como Metáforas da Visão, de Stan Brakhage, e Cinema: Instrumento de Poesia, de Luis Buñuel, lidos em coletânea organizada por Ismail Xavier, também autor de obra paradigmática dos estudos de cinema desse período, O Discurso Cinematográfico: A Opacidade e a Transparência, que muito me influenciou no processo de converter minha visão de mundo numa força expressiva na tela.
Essa busca de uma estética do sensível também se forjou em uma moviola existente na instituição, onde orientado por um decano da montagem brasileira, Mauro Alice, penetrei pela vez primeira nos domínios da construção do sentido de um filme pelo corte e encadeamento dos planos. Visionários é também um filme profundamente influenciado pelo cinema soviético visto na tela da Cinemateca, perceptível na procura de uma unidade orgânica da montagem (reconhecida em filmes de Eisenstein e textos de Reflexões de Um Cineasta), e também em pesquisas estéticas que ecoam a imagética e o universo sonoro de Tarkovski.
Ressalto que a reflexão desejada sobre o processo criativo de Visionários não pretende se limitar a uma revisão de procedimentos do passado, mas tem entre suas aspirações a de compreender a metodologia que levou à criação do filme cotejada com a obra de teóricos contemporâneos que se debruçam sobre o específico documental, como Bill Nichols, ou aprofundam estudos referentes ao olhar sobre o mundo intermediado pela câmera, como Fernão Ramos.
“Se ver um filme deflagrador é, antes de mais nada, uma viagem lisérgica de prazer e aperfeiçoamento sensível, Visionários, de Fernando Severo é o limite (“Limite”, revisitado).”
(Carlos Reichenbach, Blog Reduto do Comodoro)
Bibliografia
- BAECQUE, Antoine de. Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura, São Paulo: Cosac Naify, 2010.
BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo, Brasiliense, 1985.
EISENSTEIN, Sergei. Reflexões de um Cineasta. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
FERREIRA, Jairo. Cinema de invenção. São Paulo, Max Limonad / Embrafilme, 1986.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2010.
RAMOS, Fernão Pessoa. A Imagem-Câmera. Campinas: Papirus, 2012.
TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o Tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
TAVARES, Hugo Moura. Cinemateca de Curitiba – 30 Anos. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2005.
XAVIER, ISMAIL. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
XAVIER, Ismail (org.) A Experiência do Cinema: antologia. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.