Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Marise Berta de Souza (UFBA)

Minicurrículo

    Doutora Artes Cênicas/ UFBA, Mestre Artes Visuais/UFBA.
    Professora do Bacharelado Interdisciplinar em Artes IHAC /UFBA
    Coordenadora do Mestrado Profissional em Artes PROF-ARTES UFBA.
    Coordenadora do Laboratório de Tecnologias Educacionais – LABTEC/UFBA
    Membro do grupo de pesquisa Audiosfera – música, tecnologia e cultura, linha de pesquisa – imagens, poéticas audiovisuais e narrativas orais.
    Produtora e realizadora audiovisual

Ficha do Trabalho

Título

    A Jornada de Cinema e o mercado paralelo de exibição (1972-1985)

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidade e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Esta proposta tem o objetivo de apresentar um panorama da primeira fase da Jornada de Cinema da Bahia a partir da sua programação paralela, entendida como uma alternativa de difusão de produções audiovisuais independentes. A Jornada deixou marcas pelo forte engajamento e militância em prol de um circuito alternativo contribuindo de modo fundamental para o estabelecimento do filme curto no Brasil.

Resumo expandido

    Depois do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro a denominada Jornada Internacional de Cinema da Bahia, título da sua última edição, foi o mais antigo Festival de cinema do país. Na sua trajetória contou com 39 edições, não completando a sua quadragésima edição. Ao longo de quatro décadas deixou fincadas sua significação e importância, tanto pela longevidade, quanto pelas dimensões social e cultural. O modelo adotado pelo evento, de traço peculiar, fugia de modelos predominantes e permitia o surgimento de iniciativas que ajudavam a desenhar a paisagem da atividade cinematográfica, principalmente no que diz respeito aos segmentos da produção e difusão.
    A Jornada Internacional de Cinema nasceu em janeiro de 1972 sob a organização de Guido Araújo, cineasta e professor de cinema da UFBA, com o nome de I Jornada Baiana de Curta-Metragem. De certa maneira, se inicia com o retorno de Guido ao Brasil, em 1967, recém-chegado da Tchecoslováquia, quando foi convidado para compor os quadros da UFBA e desenvolver o campo do cinema na instituição, tendo como parceiro nessa empreitada o advogado e crítico Walter da Silveira, fundador do Clube de Cinema da Bahia (1950), responsável pela educação/formação cinematográfica da geração que produziu o Ciclo Baiano de Cinema.
    Do encontro de Guido com Walter além do surgimento do Grupo Experimental de Cinema, tendo como base um curso livre em que Walter ministrava as aulas teóricas e históricas e Guido as práticas, destaca-se a inauguração de um Cineclube no salão nobre da reitoria da UFBA. Guido e Walter programavam os filmes e produziam os folhetos informativos com a análise crítica das obras. Essas exibições foram interrompidas em 1968, por força do AI-5. Após a interrupção desse circuito de exibição, o caminho encontrado para dar continuidade às exibições foi a criação de uma retrospectiva de 10 anos do cinema baiano em longa-metragem, os filmes produzidos pelo Ciclo Baiano de Cinema, realizada no Cine Bahia, em 1971. Após a morte de Walter da Silveira, em 1970, Guido reativou o Clube de Cinema, junto a alguns sócios fundadores, e em 1971 consegue a sala do cine Rio Vermelho, às sextas-feiras, para as sessões do cineclube.
    Ainda há um outro encontro que favoreceu o surgimento da Jornada. Em uma viagem ao Rio de Janeiro Guido foi apresentado a Roland Schaffner, que dirigia o centro cultural binacional ICBA/Instituto Goethe no Rio e que assumiria, na sequência, a direção do ICBA em Salvador. Schaffner desejava trazer a mostra de 10 anos do Festival de Obenhause para a Bahia. Cosme Alves Neto entrou no circuito e com a sua experiência à frente da Cinemateca do MAM/RJ contribui para efetivar a proposta. A partir dessa articulação a mostra aconteceu no Cine Rio Vermelho.
    A retrospectiva de 10 anos do cinema baiano em longa-metragem e a Mostra de 10 anos do Festival de Obenhausen pavimentaram a trilha da Jornada e imprimiram no seu DNA os registros tanto da formação de público como da estratégia alternativa da exibição cinematográfica.
    Essa digressão direcionada para a origem da Jornada serve como justificativa à proposta apresentada neste Seminário Temático, que consiste em traçar um panorama da primeira fase da Jornada de Cinema da Bahia a partir da sua programação paralela. Programação que tem no tripé Guido, Schaffner e Cosme, a base inicial de sua curadoria e no Simpósio sobre o Mercado do Filme de Curta-Metragem, realizado na segunda edição da Jornada em 1973, a demarcação do território da Jornada como espaço privilegiado de discussão sobre o mercado paralelo de exibição no país.
    Voltar à fase mais dinâmica Jornada, quando ela se fez potente no ambiente cinematográfico, e relacioná-la ao contexto de exibição paralela, como uma alternativa de difusão da produção independente, é promover uma reflexão que pode provocar/estimular o debate acerca do redesenho da paisagem da difusão/exibição audiovisual no país em um exercício onde o recurso ao passado é chave para vislumbrar o futuro.

Bibliografia

    ALENCAR, Mirian. O Cinema em festivais e o caminho do curta-metragem no Brasil. Rio de Janeiro: Embrafilme/Artenova, 1978.
    ALMEIDA, Paulo S.; BUTCHER, Pedro. Cinema: desenvolvimento e mercado. Rio de Janeiro: Primeiro Plano, 2003.
    ALMEIDA, Maria F. F. A. Jornada Internacional de Cinema da Bahia: A História. Monografia FACOM/UFBA, Salvador, 2006.
    AMORIM, Maria F. M. Um exemplo de curadoria cinematográfica na Bahia: A programação paralela da Jornada Internacional de Cinema da Bahia. Monografia FTC, Salvador, 2008.
    CRUZ, Marcos P.P. O super-8 na Bahia: história e análise. Dissertação PPGAC, USP, São Paulo, 2005.
    MELO, Izabel C. C. Cinema é mais do que filme: uma história do cinema baiano através das Jornadas de cinema da Bahia. Dissertação PPGH, UFBA, Salvador, 2009.
    SETARO, André. Das Jornadas baianas. Escritos sobre cinema: Trilogia de um tempo crítico. Salvador: EDUFBA: Azougue Editorial, 2010.
    TAVARES, Bráulio. O curta-metragem brasileiro e as Jornadas de Salvador. Salvador, 1978.