Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Lara Santos de Amorim (UFPB)

Minicurrículo

    Doutora em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (2002), doutorado Sandwich em Antropologia no Graduate Center, na City University of New York (2011). É professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia na UFPB, atuando na linha Imagem, Arte e Performance. Pesquisa e orienta na área de antropologia e imagem, patrimônio cultural e antropologia urbana. Publicou os livros Reinvenção da Tradição (2012) e Cinema e Memória- O Super 8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980 (Org.) (2013).

Ficha do Trabalho

Título

    Antropologia e Cinema: análise fílmica e memória narrativa do Super8

Seminário

    Cinema e Ciências Sociais: diálogos e aportes metodológicos

Resumo

    Pretende-se debater a experiência de fazer pesquisa na interface entre antropologia e cinema. Propor uma discussão que analise um corpus de filmes produzidos em Super8 na década de 1980 na Paraíba e que representam formas inovadoras de abordar temáticas políticas e sociais. Refletir sobre como estes filmes podem ser lidos como “artefatos culturais” capazes de revelar intuições e valores de uma época. A partir desta memória narrativa, pensar a filmografia de realizadores contemporâneos na Paraíba

Resumo expandido

    O livro Cinema e Memória- O Super 8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980 foi o resultado de um Projeto de Pesquisa realizado na Universidade Federal da Paraíba e financiado pelo Programa Petrobrás Cultural, entre 2012 e 2014, o qual catalogou, digitalizou e disponibilizou no site cinepbmemória.com.br um acervo de 88 filmes. Este texto se debruçará sobre um corpus de filmes (que ainda serão) selecionados a partir deste acervo digitalizado, disponíveis para exibição no site referido.
    Entre 1970 e 1980 o Núcleo de Pesquisa e documentação da universidade da Paraíba- NUDOC foi preenchido por uma produção audiovisual que foi influenciada em 1980 pelo convênio realizado entre a Associação Varan de Paris e a UFPB, encabeçado por Jean Rouch e que culminou na criação do Atelier de Cinema Direto do NUDOC. O projeto acima referido levantou a memória deste momento da produção audiovisual na Paraíba marcado por diferentes influências culturais e estéticas: o neo-realismo italiano que influenciou Linduarte Noronha, diretor de Aruanda (1960), o pré-tropicalismo ou o tropicalismo de Jomar Muniz de Brito e a estética do cinema direto, com a chegada dos Ateliers Varan na UFPB.
    O início dos Ateliers Varan em João Pessoa coincide com o terceiro ciclo de cinema na Paraíba, caracterizado por uma produção plural e pela predominância do Super8, o qual permitia produções de baixo orçamento e mais simplificadas em relação a outras bitolas profissionais. Surge então uma noção de cinema mais radical, voltada para temáticas sociais, regionais, mais politizadas, assim como temáticas relacionadas à sexualidade e homoafetividade. Encontramos esta diversidade temática no acervo do Nudoc, o qual inclui filmes sobre miséria urbana, luta camponesa, trabalho, política cultural, campanhas eleitorais, meio ambiente, cultura popular e manifestações artísticas e tradicionais.
    Há um número significativo de filmes que possuem orientação documental mais próximos do “método” do cinema direto, mas há também um corpus relevante de filmes que tratam da questão da sexualidade, discutindo formas de punição e controle, com uma orientação narrativa orientada para a ficção (em torno de 13 filmes) e driblando a orientação do estágio do cinema direto.
    Assim, a relação entre os meios de produção da imagem, a conjuntura política brasileira e a linguagem estética são alguns dos elementos que norteiam boa parte do debate travado sobre a produção audiovisual na Paraíba durante os três ciclos que se desenvolveram no século XX.
    Os diferentes ciclos deflagrados pela produção de Aruanda, em 1960, pelo movimento superoitista, em 1979, com Gadanho, e pela atuação do Centro de Formação em Cinema Direto de Paris (Associação Varan), em 1980, demonstram que a produção cinematográfica paraibana respondeu a determinado contexto político e econômico regional e nacional, onde os meios de produção da imagem, bem pouco acessíveis até a década de 1970, deixaram de ser escassos e passaram a estar disponíveis para a classe universitária, a partir da iniciativa do Estado, como foi o caso do Convênio que possibilitou a formação do Atelier Varan.
    A partir do contexto descrito, pretende-se empreender uma análise de um corpus de filmes capazes de revelar em conjunto, ou individualmente, uma perspectiva narrativa que marcou a época (1980) e compará-las com produções de realizadores contemporâneos, buscando um diálogo entre o cenário da produção do Super8 e o atual contexto de produção digital na Paraíba. Uma pesquisa de mestrado orientada por mim no PPGA/UFPB está entrevistando realizadores que pertencem a ambas as gerações, indagando em que medida as inovações estéticas da época do cinema direto e do pré-tropicalismo ficcional que marcou a década de 1980 dialoga ou rompe com as recentes narrativas ficcionais e documentárias de jovens realizadores. Quais os símbolos e narrativas que poderiam ser identificados na análise? Por fim, seria possível pensarmos em termos de uma epistemologia da antropologia do cinema?

Bibliografia

    AMORIM, L. S. de, TREVAS, F. T. Cinema e Memória- O Super 8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980 (Org.) (2013). João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
    AUMONT, J., MARIE, M. A Análise do Filme. Lisboa: Edições Texto e Grafia, 2013.
    BARBOSA A., CUNHA, E. T. da, HIKIJI, R. S. G. (orgs). IMAGEM-CONHECIMENTO: Antropologia, cinema e outros diálogos. Campinas, SP: Papirus, 2009.
    FREIRE, M., LOURDOU. (org.) Descrever o Visível. Cinema Documentário e Antropologia Fílmica. São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 2010.
    JULLIER, L., MARIE, M. Lendo as Imagens do Cinema. São Paulo, Ed. Senac, 2009.
    MARTINS, J. de S., ECKERT C. (orgs), NOVAES, S. C. O Imaginário e o poético nas Ciências Sociais. Bauru: São Paulo, Edusc, 2005.