Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernanda Omelczuk Walter (UFRJ)

Minicurrículo

    Psicóloga, Doutora em Educação e professora substituta da Faculdade de Educação da UFRJ. Membro do grupo de pesquisa CINEAD (Cinema para Aprender e Desaprender), do Laboratório de Educação, Cinema e Audiovisual (LECAV) da UFRJ. Nos últimos anos tem se dedicado a pesquisar o encontro da infância com experimentações cinematográficas, o audiovisual e o cinema infantil, especialmente junto ao projeto Cinema no hospital? que acontece no horário escolar do hospital pediátrico da UFRJ.

Ficha do Trabalho

Título

    Educação e Cinema no/do hospital: experimentações e deslocamentos

Seminário

    Cinema e educação

Resumo

    A Educação e o Cinema no/do hospital deslocam o que entendemos de antemão sobre essas duas experiências e sobre essa aproximação. Com o presente texto desejamos compartilhar três reflexões: o tipo específico de experimentações com o cinema que emergem nessa situação; a relevância de experimentações cinematográficas no horário escolar de crianças hospitalizadas; e as ressonâncias desse encontro para o fazer cinema e educação dentro e fora da escola, e em especial no âmbito da lei 13.006 .

Resumo expandido

    Bombas de medicação, televisões ligadas, ar condicionados barulhentos, adultos falando ao celular, profissionais que chegam para aplicar medicação, o paciente que sente dores e solicita ajuda, equipe de limpeza que entra para lavar o piso, o rapaz da manutenção que chega com uma escada para consertar uma lâmpada queimada: o ambiente hospitalar apresenta uma agitação de sons e imagens. Como reproduzir o silêncio e a imersão da sala escura nessa situação? Como controlar os movimentos na sala da enfermaria para garantir às crianças o que tradicionalmente entendemos como a forma cinema?

    Pensar a Educação e o Cinema nesse espaço intensifica os deslocamentos que essa aproximação já vem sinalizando em outras recentes experimentações audiovisuais dentro e fora da escola. Nesse sentido, este trabalho visa compartilhar as possibilidades de iniciar as crianças na história do cinema e nos elementos da criação cinematográfica – reflexões aprendidas junto ao projeto de pesquisa e extensão Cinema no hospital?, que acontece no horário escolar de crianças internadas no hospital pediátrico da UFRJ (FRESQUET, 2010).

    Como fazer cinema como arte dentro de um hospital? É possível aprender cinema nas condições acima descritas? Com que recursos? Para quê? Por quê?

    Um primeiro aspecto que sinalizamos é que o encontro da situação cinema com a situação hospitalar parece produzir algo sobre o qual não temos controle. Cinema e hospital juntos criam uma situação que desconhecemos. As imagens projetadas e as histórias contadas são atravessadas pelos sons, pelos corpos, pelos procedimentos, pelo que é próprio, afinal, do hospital.

    Algumas experimentações que viemos ensaiando sinalizam que o jaleco branco de médicos pode não ser um anteparo que impede a visualização da tela mas uma atração mágica: o corpo é o veículo das imagens em movimento. A sombra de mãos, cabeças, macas e pés, que obstruem a projeção podem virar uma desculpa para brincar com a luz e aprender sobre a história do cinema. Esses atravessamentos dos dispositivos hospitalares junto ao dispositivo cinema nos sugerem que o hospital demanda um cinema expandido, que se assemelha algumas vezes a um cinema instalação, já que não se fixa na tela como estrutura preestabelecida, mas hibridiza-se com e no espaço ao redor (MACIEL, 2009).

    O segundo aspecto que pretendemos desenvolver diz respeito a possibilidade de que o cinema no hospital possa funcionar como uma unidade subjetiva de desenvolvimento, capaz de desterritorializar a criança da condição convencional de paciente para o lugar de agente (REY, 1995). Aprender cinema no hospital afirma uma narrativa distinta sobre o tempo da internação que afasta a criança da escola, instituição onde tradicionalmente se centraliza a educação e a aprendizagem. De que modo as experiências de cinema no hospital expandem o espaço-tempo do aprender?

    A terceira reflexão que fazemos é que reproduzir as condições “perfeitas” do cinema talvez não acolha as subjetividades deste território. Ao tentar “adequar” o cinema ao hospital esquecemos de integrar uma qualidade de “desordem” que é própria da infância (na escola, em casa, na rua, no hospital) – e da arte – necessária para construir uma outra pedagogia (MIGLIORIN, 2015). O que é ser professor nesse espaço errante? Como planejar em meio ao imprevisível e aos desvios?

    Nesse contexto, pensamos que as experiências com o cinema no hospital são cenas frutíferas para ensaiar formas de docência capaz de ressoar reflexões e fazeres junto a Lei 13.006, não apenas no contexto das classes hospitalares, mas em qualquer experiência de educação e cinema. Durante a internação a duração se arrasta, mas paradoxalmente, tudo também acontece com a marca da fugacidade do tempo. Com o cinema no hospital sentimos de modo explícito a urgência do encontro, de viver uma experiência que encerre em si, numa primeira e talvez única vez, uma experiência de cinema, de educação e igualdade (RANCIÈRE, 2011).

Bibliografia

    FRESQUET, Adriana. CINEMA NO HOSPITAL? Projeto de pesquisa e extensão do Laboratório de Educação, Cinema e Audiovisual da Faculdade de Educação da UFRJ. Registrado sob o Código UFRJ/SIGMA 17763: Rio de Janeiro, 2010.

    MACIEL, Kátia (Org.) Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2009.

    MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.

    RANCIÈRE, Jacques. O Mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte, Autêntica editora, 2011.

    REY, Fernando González. Comunicación, personalidade y desarrollo. Editorial Pueblo y Educación: La Habana, 1995.