Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Scheilla Franca de Souza (UFBA)

Minicurrículo

    Doutoranda em Comunicação e Culturas Contemporâneas pela UFBA (2013-2017), onde desenvolve projeto sobre a expressão do comum no cinema brasileiro independente com bolsa de pesquisa do CNPQ, orientada pelo Prof. Dr. José Francisco Serafim. Mestre em Letras: linguagens e representações pela UESC (2012). Graduada em Comunicação Social, Rádio e Tv, também pela UESC (2009).

Ficha do Trabalho

Título

    A intimidade nos filmes Estado de Sítio e Ela volta na quinta

Resumo

    O objetivo deste trabalho é discutir a questão da representação a partir da intimidade nos filmes Estado de Sítio (2010) e Ela volta na quinta (2014), ambos os filmes realizados dentro do cenário recente de cinema independente brasileiro.

Resumo expandido

    Nos últimos anos, a cinematografia brasileira está sendo alimentada por, dentre outras tendências, uma série de filmes e discursos que evocam uma relação mais próxima entre vida cotidiana e arte, enaltecendo sempre a questão da importância de partilhar a experiência cinematográfica, criando espaços para realização de um cinema também cotidiano. Percebemos que mais do que um movimento, dada a natural distinção entre as obras e discursos que nasce dentro do contexto do cinema brasileiro dos últimos anos, estamos diante uma tendência estética, que se fortalece não apenas no cinema, mas nas artes, no trabalho e na sociedade como um todo.
    Nada inviabiliza que essa tendência estética se materialize em filmes de grande ou baixo orçamento, de grandes produtoras ou “filmes de autor”. No entanto, acreditamos que filmes com um orçamento e equipes mais reduzidas, sem grandes patrocínios e captação de recursos milionários, onde é notada e evidenciada certa des-hierarquização da produção – como vem acontecendo, sobretudo a explosão dos coletivos audiovisuais – sejam um lugar privilegiado para fazer da intimidade matéria prima do filme, fazendo-a reverberar na sua forma e acrescentar força ao gesto estético da obra.
    Essa renovação, através dessa tendência estética de reaproximação entre vida e arte também pode ser vista como uma prática de cinefilia, pois, em muitos casos há o ideal de fomentar e defender a produção de um determinado tipo de cinema. Amizade e cinefilia são duas questões caras a este contexto de produção, em diversos filmes, pois como bem pontua Oliveira (2014) parece haver para esta geração de cineastas um borrão entre a vida profissional e pessoal, sobretudo com o surgimento de contexto de produção menos hierarquizados, como é o caso dos coletivos. Acreditamos que esse borrão interfere diretamente na forma do filme, por diversos aspectos (desde a escolha dos temas, às performances e corpos em cena, ao corpo audiovisual da obra e o que ele também performatiza).
    Assim, trazemos aqui para a discussão os filmes “Estado de Sítio” (2009) e “Ela volta na quinta” (2014) dois filmes brasileiros desse contexto de produção mais independente e de baixo orçamento – denominado por alguns críticos, realizadores e pesquisadores como Novíssimo Cinema Brasileiro (BRAGANÇA, 2011), Cinema de Garagem (IKEDA e LIMA, 2011) ou Cinema pós-industrial (MIGLIORIN, 2011).
    “Estado de Sítio” (2010) é um filme realizado coletivamente por 8 diretores mineiros, que também atuam no filme. Realizado em conjunto pelas produtoras-coletivo Filmes de Plástico e Sorvete Filmes, a obra coloca sob o mesmo teto os oito amigos sob o pretexto de que o mundo iria acabar. O que fica encenado então é a relação em comum entre eles, confinados em um sítio, convivendo intimamente.
    “Ela volta na quinta” (2014), por sua vez, é um longa-metragem assinado por André Novais, um dos diretores-atores-personagens do Estado de Sítio. Em “Ela volta na quinta”, André faz um filme com seus familiares, em que os atores interpretam a si mesmos.
    Em ambos os filmes trazidos à análise a intimidade se apresenta como importante matéria prima para a obra realizar-se, marcando fortemente sua forma. Uma espécie de gesto autoficcional, conjugado no plural, que move ambos os filmes, pode ser lido como uma manifestação desta intimidade, afinidade e amizade entre os participantes.
    O termo ‘expressão de nós’, que propomos como forma de compreender parte da cinematografia nacional, torna evidentes dois aspectos dessa produção de cinema realizado de maneira (em) comum. Diz respeito inicialmente à compreensão e a constituição da experiência de realização cinematográfica como partilhada, que está presente. Remete ainda à questão que advém normalmente deste primeiro aspecto, que se desdobra, portanto, num segundo: os nós no sentido além da primeira pessoa do plural (em que boa parte dos filmes parece se conjugar), mas laços (nós) entre os gêneros e modos de leitura da obr

Bibliografia

    MIGLIORIN, Cezar. Por um cinema pós-indústrial. 2011. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/cinemaposindustrial.htm. Acesso em: 09/set./2012.

    NEGRI, Antonio (em entrevista a Giuseppe Coco e Thiado Andrade). O comum: dos afetos à construção de instituições. 2013. Disponível em: http://uninomade.net/tenda/1948/ Acesso em: mai./2015.

    ODIN, Roger. A questão do público: uma abordagem semiopragmática. In. RAMOS, Fernão P. (Org). Teoria Contemporânea de Cinema Vol II: Documentário e Narratividade Ficcional. Editora Senac, SP, 2012.

    VASCONCELOS-OLIVEIRA, Maria Carolina. ‘Novíssimo’ cinema brasileiro: práticas, representações e circuitos de independência. 2014. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: . Acesso em: 2016-05-18.