Ficha do Proponente
Proponente
- gilmara Martins feliciano (UFSCAR)
Minicurrículo
- Artista plástica. Mestranda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), com bolsa CAPES.
Ficha do Trabalho
Título
- O olhar pictórico de Van Gogh pela lente poética de Resnais
Resumo
- O documentário biográfico Van Gogh (1948), de Alain Resnais, não é um desfile cronológico das pinturas de Vincent Van Gogh, mas um trabalho crítico e intelectual do diretor que penetra no universo artístico-existencial do pintor holandês. Resnais ‘pensa’ Van Gogh por meio da linguagem cinematográfica e ao buscar refazer o percurso do olhar e do ‘estar no mundo’ do pintor, constrói o seu. Temos ali a representação pensando a construção da representação.
Resumo expandido
- Van Gogh (1948), de Alain Resnais, transcende as fronteiras convencionais do gênero documental. Ao mesmo tempo que a voz over narra cronologicamente episódios da vida do pintor, as imagens descrevem seu fazer artístico de forma poética, unindo o ser e o estar no mundo do pintor. Essas peculiaridades aproximam o curta do conceito de filme-ensaio, de Arlindo Machado, (2003) autor que concebe esse tipo de produção cinematográfica como forma de constituir pensamento por meio da imagem e do som. Procurar-se-á discutir e aplicar esse conceito recorrendo também à Ismail Xavier, (2013) que afirma que essa forma, que seria a ensaística, configura-se como “uma experiência intelectual mais aberta em que o pensamento se arrisca em terrenos onde a exatidão é impossível”. (2013, p. 11) Vai-se tratar nessa comunicação do cinema meditado como veículo estético por meio do qual a realidade é filtrada e devolvida enquanto representação, ou seja, uma visão particular e pessoal do diretor. Nessa obra de Resnais, a imagem fonte não provém da realidade objetiva, ao contrário, seus planos e sequências são constituídos pela própria pintura de Van Gogh, por isso, representação da representação. Conforme dito por André Bazin, em seu ensaio ‘Cinema e Pintura’, (1991) quando o cineasta toma a pintura por meio da câmera e promove sobre ela uma reestruturação ‘desconstruindo’ seus limites físicos (moldura), sua unidade, sua sintaxe e sua semântica primeva, (ele) recria o espaço visual e a visão do pintor.
Ainda, ao converter a singularidade pictural em natureza sequencial, Resnais está a realizar o que Haroldo de Campos (2013, p. 5) chama de transcriação, na qual a tradução de um “texto criativo será sempre recriação, ou criação paralela, autônoma, porém recíproca”. (2013, p.5) Assim, os quadros permanecem enquanto essência, porém sua materialidade palpável (tinta) é traduzida ou transcriada na película em matéria incorpórea (luz).
Para discutir essas hipóteses, será apontada e analisada uma passagem do documentário em que Resnais narra o momento em que Van Gogh se vê imerso em ‘temporais’ mentais que convergiram na grande crise que o levou à primeira internação em Saint-Rémy, com base principalmente nos teóricos acima citados.
Bibliografia
- ALTMAN, Rick. “A semantic/syntactic approach to film genre? In: Film/Genre. London: BFI, 2012, p. 216-226.
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BAZIN, André. “Cinema e pintura”. In.: O cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991, pp. 172-177.
CAMPOS, Haroldo. Transcriação. São Paulo: Perspectiva, 2013.
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VAN GOGH, Alain Resnais, 1948, França, 17m e 53s.
VAN GOGH, Vincent. Cartas a Théo