Ficha do Proponente
Proponente
- Debora Regina Taño (UFSCar)
Minicurrículo
- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos, é bacharel em Audiovisual pela mesma universidade. Foi bolsista Fapesp de Iniciação Científica com o projeto intitulado “História argentina recente em Nueve Reinas: análise da presença histórica no filme de ficção”. Seus estudos permeiam o cinema argentino contemporâneo e realiza trabalhos tanto teóricos quanto práticos na área de som do audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- A voz como objeto sonoro: flutuações vocais em Família Rodante
Resumo
- Partindo do filme Família Rodante (Pablo Trapero, 2004), analisaremos quais formas e espaços a voz ocupa no cinema. Observando-a como um elemento sonoro e com diferentes bases teóricas, podemos encontrar flutuações da fala, que alterna entre “relevante” e “periférica” a cada momento, criando, assim, diferentes relações entre ela e a construção dos personagens, o desenvolvimento narrativo e a polifonia de sonoridades e significações.
Resumo expandido
- A presente comunicação é parte da dissertação de mestrado intitulada “Sonoridades vocais no cinema: a fala flutuante em Família Rodante (2004) de Pablo Trapero”, atualmente em fase de desenvolvimento. Neste recorte iremos abordar o início das reflexões acerca da utilização da voz de forma flutuante, ou seja, nem sempre relacionada diretamente ao desenvolvimento narrativo da ação, mas sim a outros elementos constituintes do filme Família Rodante (2004), do diretor argentino Pablo Trapero. Neste filme, as falas dos personagens parecem não estar amarradas a informações comumente interpretadas como “relevantes”, mas sim flutuando por assuntos passíveis de serem entendidos como “periféricos”. Tal característica diminuiria o papel primordialmente semântico das vozes, abrindo espaço para a sua presença enquanto “som”.
Entendendo a voz como mais uma camada da construção sonora de um filme e como fator importante na configuração de personagens e de ações, observaremos quais são as possíveis potências implicadas em suas sonoridades. Observaremos, ainda, as significações que emergem da interação entre a voz e os demais componentes sonoros e em que medida tal polifonia é capaz de articular camadas narrativas específicas. Estas diversificações no uso da voz podem ser abordadas de acordo com suas demandas, levando-nos a diversas perguntas e abordagens teóricas diferentes a partir do que o filme nos apresenta como formas de uso das sonoridades vocais.
Entre as questões abordadas na pesquisa está, em primeiro lugar, como a voz alcançou o status de centro da mixagem sonora. Os diálogos, e portanto as vozes, são geralmente o foco de atenção ao qual o espectador é direcionado, para que seu conteúdo semântico – e também narrativo – não seja perdido. Percorrendo a história do cinema podemos perceber este direcionamento da gravação e edição de som para a clareza da voz. Entretanto, em um filme no qual não são todos os momentos em que a presença de diálogo está no centro do entendimento, ou realmente diz algo, como mais ele pode aparecer?
Dando sequência às investigações, analisaremos a relação das vozes dos personagens entre si, como e quando elas aparecem. Estão sozinhas ou em um amontado sonoro? Seu conteúdo semântico realmente dá informações sobre o desenvolvimento narrativo, ou mais auxilia na criação e aprofundamento do personagem? Essas falas são ditas para quem? Um personagem, vários, para o espectador? Como essa voz aparece em relação à imagem? O que ela fornece à narrativa?
Estas questões, em conjunto com a análise de sequências específicas do filme, serão discutidas a partir de diferentes frentes teóricas. Partindo da bibliografia básica sobre som no cinema, com Michel Chion (1993; 2004), para abordagens acerca das qualidades da voz, incluindo o conceito de “grão” proposto por Barthes (1986) e respiração, com Davina Quinlivan (2012); passando pelas análises da oralidade na poesia (ZUMTHOR, 2001) e no cinema (HORTON, 2013), até o pensamento da voz enquanto linguagem, mas também fora dela, como objeto sonoro responsável pela subjetividade e pela sociabilidade do ser humano, com Ihde (2007) e Dolar (2007).
É, portanto, nosso intuito, levantar questões e encontrar possíveis caminhos de interpretação para o objeto “voz”, tão pouco aprofundado nos estudos de audiovisual para além de seu significado ou direta relação com o quadro. Sendo a voz o foco de atenção sonora, como afirma Chion (1993) com o conceito de vococentrismo, pretendemos, sem deixar de lado o verbo, deter-nos aos demais elementos e possibilidades que a emissão sonora humana traz ao contexto audiovisual.
Bibliografia
- BARTHES, Roland. El “grano” de la voz. In: Obvio obtuso – imagenes, gestos, voces. Barcelona: Ediciones Paidós Iberica SA, 1986. p 262-271.
CHION, Michel. La Audiovisión. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica SA, 1993.
________. La voz en el cine. Madrid: Ediciones Cátedra, 2004.
DOLAR, Mladen. Una voz y nada más. Buenos Aires: Manantial, 2007.
IHDE, Don. Listening and Voice – Phenomenologies of sound. Albany: State University of New York Press, 2007.
HORTON, Justin. The unheard voice in the sound film. Cinema Journal. University of Texas Press. v. 52, n 4, 2013. p 3-24.
QUINLIVAN, Davina. The place of breath in cinema. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2012.
VERARDI, Malena. Nuevo cine argentino (1998 – 2008): formas de una época. Buenos Aires: UBA, 2010. Tese (Doutorado) Facultad de Filosofia y Letras, Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2010..
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.