Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Joice Scavone Costa (UFF)

Minicurrículo

    Joice Scavone Costa possui graduação em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (2010) e mestrado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2013). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Cinema, atuando principalmente nos seguintes temas: cinema, preservação e estudos de som. Coordenadora do Encontro Nacional de Profissionais de Som do Cinema e curadora dos troféus CineMúsica e Curta Light no Festival Cinemúsica de Conservatória/RJ. Dirigiu o média-metragem “Fome” (2015).

Ficha do Trabalho

Título

    “Mulher” (1977): A nova trilha sonora de “Mulher” à moda antiga.

Seminário

    Teoria e Estética do Som no Audiovisual

Resumo

    Em 1977, o filme “Mulher” de 1931, sofreu uma intervenção que se pretendia ser a restauração do filme. Entretanto, o procedimento realizado foi a reedição da imagem e a inclusão de uma nova trilha sonora (em som ótico) com onze composições da pianista Carolina Cardoso de Menezes especialmente para o filme. Sem qualquer ligação com a trilha sonora original, são músicas apenas ao piano com características da época anterior ao início da padronização de trilha sonora.

Resumo expandido

    Em 1977, o filme Mulher de 1931, sofreu uma intervenção que se pretendia ser a restauração do filme. Entretanto, o procedimento realizado foi a reedição da imagem e a inclusão de uma nova trilha sonora (em som ótico) com composições da pianista Carolina Cardoso de Menezes, sem qualquer ligação com a trilha sonora original. As alterações foram feitas porque se exigiu da obra uma atualidade sinônima de moda.

    A intervenção de 1977 contou com a reedição da imagem do filme, também no intuito de modernizá-lo e deixá-lo mais dinâmico. No caso, Alice Gonzaga desconhecia o paradeiro dos discos Vitaphone e quis fazer uma nova versão, que denominou “versão sonorizada” do filme Mulher. Como trilha sonora, uma simulação do que seria a “idealização” dos “acompanhamentos” de filmes silenciosos nos anos 1930. Carolina Cardoso de Menezes compõe onze músicas especialmente para o filme “Mulher”. Como instrumento, apenas um piano não automático com características da época anterior ao início da padronização de trilha sonora.

    A trilha composta por Menezes remete aos primeiros anos do cinema, quando as composições originais eram mais raras. Menos próximas das cue sheets, que se sofisticaram (chegando a indicar não apenas fragmentos de obras que deveriam ser tocadas, mas também, a sua duração), a ponto de motivar o mercado editorial a publicar compilações de partituras – separadas por “categorias”. As músicas de Cardoso de Menezes fazem um sólido uso do leitmotiv como ferramenta dramática, característica da música originalmente composta para filmes – cuja vinculação sofisticada com fatos narrativos passa a ser realmente compreendida como importante dispositivo do espetáculo cinematográfico. Tal recurso também foi utilizado na trilha sonora de 1931; entretanto isso não mudava o fato das composições da pianista, ou mesmo o tema “Mulher” de Zequinha de Abreu, não fazerem parte da trilha sonora original do filme em 1931.

    Carolina Cardoso de Menezes foi a responsável pela contribuição criativa à banda sonora da versão de 1977 do filme “Mulher”. Ela nasceu em uma família de músicos e estreou na Rádio Sociedade em 1928. Como solista, acompanhante e compositora, tornou-se um dos grandes nomes da “Era de Ouro do Rádio”. No relatório sobre o processo de feitura da versão de 1977 de Mulher, há a declaração de que ela foi “A PRIMEIRA MULHER a compor para cinema no Brasil” – informação não confirmada. O acordo “sobre a sonorização do filme ‘Mulher’” foi firmado com a pianista em 25 de abril de 1977. As definições do contrato são importantes, pois indicam que a autoria das “músicas adicionais” é de Menezes, apesar de não haver nenhuma listagem com suas denominações ou registro. Somando-se à valsa “Mulher” de Zequinha de Abreu que seria “executada e gravada” também por Carolina Cardoso de Menezes “ao piano”.

    A banda sonora produzida em 1977 mantém a característica de possuir apenas músicas, entretanto, se distanciam da trilha sonora original de 1931, tanto estética quanto historicamente, pois a trilha sonora escolhida por Alberto Lazzoli, indicava a vontade de cumprir com a padronização do som propagada pelos estúdios de Hollywood, ou seja, evitando-se “qualquer estilo musical demasiado popular que possa concorrer com a imagem”. Apesar de utilizarem tanto valsas brasileiras e músicas populares brasileiras para violão no núcleo familiar de Carmen e ragtimes, foxtrot e charlestons no núcleo de Flávio, a maior parte da trilha musical é composta de música erudita (como a suíte orquestral e a valsa de uma ópera de Tchaikovsky e Victor Herbert). Além disso, as músicas foram executadas por uma orquestra, o que aproxima a trilha sonora sincronizada às execuções de orquestras nas grandes salas de cinema (os palácios) e não do acompanhamento de piano dos filmes silenciosos. Por sua vez, a trilha sonora composta por Carolina Cardoso de Menezes adota um estilo musical completamente popular, ainda que no núcleo burguês utilize música incidental não brasileira.

Bibliografia

    CARRASCO, Ney. Sygkhronos: a formação da poética musical do cinema. São Paulo: Via Lettera, 2003.

    CHION, M. La musique au Cinema – Le chemins de La musique. Paris: Fayard, 1995.

    COSTA, F. M. “O som, desde o início do cinema”. In: Catálogo da mostra E o som se fez São Paulo: Centro Cultural do Banco do Brasil, 2007

    FELICE, F. A apoteose da imagem – Cineclubismo e crítica cinematográfica no Chaplin-Club. São Carlos: Dissertação defendida na UFSCAR, 2012

    MIRANDA, S. R.. “A música das teclas e suas múltiplas funções”. In: SÁ, S. P.; COSTA, F. M. Som + Imagem, pp. 42-54

    ________________. “A clássica música das telas: O uso e a formação do tradicional estilo sinfônico” In: Ciberlegenda, 2011, pp. 19-28

    PEREIRA, C. E. A música no cinema silencioso no Brasil. Inédito, 2013.

    PEREIRA. C. E. A música no cinema sonoro brasileiro na década de 1930: nacionalismo, música popular e identidade cultural. Defesa de mestrado. Rio de Janeiro: Dissertação defendida na UFRJ, 2008.