Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Karla Holanda (UFJF)

Minicurrículo

    Professora adjunto do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens, do Instituto de Artes e Design, da Universidade Federal de Juiz de Fora, é doutora em comunicação, pela UFF, e mestre em multimeios, pela Unicamp. É também cineasta, tendo realizado, dentre outros filmes, “Kátia” (2012).

Ficha do Trabalho

Título

    Personagem feminina no documentário brasileiro

Seminário

    Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais

Resumo

    Investigação da personagem feminina nos documentários brasileiros entre as décadas de 1960 e 1980. Se na primeira década é bastante reduzido o número de diretoras e a personagem feminina está quase ausente nos documentários, salvo raras exceções, nas décadas seguintes a presença das mulheres será bem mais marcante. Motivadas pelas agenda feminista da segunda onda, muitas cineastas vão tratar de temáticas caras ao movimento e as personagens femininas terão maior relevância – como serão abordadas?

Resumo expandido

    Esta comunicação parte de uma pesquisa em fase inicial que pretende investigar a personagem feminina nos documentários brasileiros. Nosso recorte está entre os anos 1960, quando surgem as características que vão marcar o documentário moderno brasileiro – especialmente temáticas de cunho social e estética motivada por novas tecnologias – e os anos 1980, início da redemocratização do país após duas décadas de ditadura civil/militar, passando pelos 1970, quando o feminismo no Brasil é impulsionado pelas bandeiras da chamada segunda onda que desde a década anterior, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, questionam a demarcação rígida de papeis de gênero e a sobrecarga da dupla jornada das mulheres (CAVALCANTE; HOLANDA, 2013).

    Em praticamente todos os documentários brasileiros dos anos 1960 não se veem personagens femininas relevantes, salva raríssimas exceções. Quando aparecem, geralmente ocupam condição secundária. E é a partir dos anos 1970 que as mulheres também vão dirigir mais documentários no Brasil. Para se ter uma ideia do avanço, nos anos 1960 as mulheres dirigiram (ou codirigiram) 11 documentários; na década seguinte esse número passa para 184 e para 202 na década de 1980, de acordo com o banco de dados do site Documentário Brasileiro (documentariobrasileiro.org).

    Acreditamos que em consequência da presença significativa de mulheres na direção e pela pauta feminista que chegava aos movimentos sociais, às artes em geral e às universidades, mais personagens femininas passam a ocupar espaço relevante nos documentários brasileiros a partir dos 1970. Essa tendência é mais expressiva a partir de meados dessa década. De acordo com o referido banco de dados, podemos ver que na segunda metade da década, os filmes que tratam mais diretamente de questões ligadas às mulheres e aos seus interesses aumentam. Consequentemente, aumentam as personagens mulheres que têm protagonismo nos documentários.

    Após traçar um breve painel dos filmes que discutem temáticas feministas, desde os narrativos e engajados (predominantes) aos experimentais (raros), nossa proposta é sistematizar esses contextos e verificar como as personagens femininas são abordadas em filmes de meados dos 1970 (recrudescimento dos lemas feministas) a meados dos 1980 (fim do regime militar) realizados por duas cineastas que estrearam na direção na década de 1970: Sandra Werneck e Eunice Gutman. Nessas duas décadas, a obra das duas cineastas é marcada por preocupações sociais. Werneck tratou de prostituição, infância vulnerável e prisão feminina, em filmes como Damas da noite (1979), Ritos de passagem (1979) e Pena prisão (1983). Enquanto Gutman abordou assuntos como alfabetização, aborto, maternidade e pobreza em filmes como E o mundo era muito maior que a minha casa (1976), Vida de mãe é assim mesmo? (1983), A Rocinha tem histórias (1985) e Duas vezes mulher (1985). Interessa-nos investigar como se expressam suas personagens, considerando a distinção entre as que falam em nome de um saber e as que esboçam algo de si – como são atualizadas suas dimensões virtuais, de que forma as documentaristas se relacionam com elas e como lidam com as situações de controle nas nem sempre previsíveis ações das personagens.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Brasiliense, 1985.

    BEZERRA, Cláudio. A personagem no documentário de Eduardo Coutinho. Campinas, SP: Papirus, 2014.

    CAVALCANTE, Alcilene; HOLANDA, Karla. Feminino Plural: história, gênero e cinema. In: BRAGANÇA, Maurício de; TEDESCO, Marina (orgs). Corpos em projeção: gênero e sexualidade no cinema latino-americano. Rio de Janeiro, 7 Letras, 2013.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Invenção da histeria: Charcot e a iconografia fotográfica de Salpetriere. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.

    GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

    HOLLANDA, Heloisa Buarque. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde – 1960-1970. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2004.

    PIEDRAS, Pablo. El cine documental en primera persona. Buenos Aires: Paidós, 2014.

    REZENDE, Luis Augusto. Microfísica do documentário: ensaio sobre criação e ontologia do documentário. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2013.