Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Luiza Cristina Lusvarghi (USP)

Minicurrículo

    Luiza Lusvarghi é formada em Letras pela FASB (1977), em Comunicação Social (Jornalismo) pela PUC São Paulo (1986), com mestrado (2002) e Doutorado (2007) em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, e Pós-Doutorado pela UFPE (2009). É autora de “De MTV a Emetevê” (2007), “Cinema Nacional e World Cinema” (2010) e “Fora do Eixo: Indústria da Música e Mercado Audiovisual no Nordeste” (2010). Acaba de concluir pesquisa sobre a ficção policial na TV da América Latina na ECA USP pelo PNPD Capes,

Ficha do Trabalho

Título

    Narrativas Criminais e Convergência na TV da América Latina

Resumo

    O objetivo desta comunicação é analisar as recentes tendências da produção audiovisual ficcional televisiva em um contexto de convergência que assinala o surgimento de novas formas de circulação e distribuição dessas obras na América Latina. A emergência de plataformas como Netflix contribui para o acirramento do processo de transmidiação gerando obras interculturais e transnacionais que visam conquistar o mercado regional e mundial.

Resumo expandido

    A ascensão da plataforma Netflix como distribuidora e produtora de conteúdos na região vem impulsionando a consolidação de um novo modelo de negócios multiplataforma que privilegia projetos transmídia, interculturais e transnacionais. O movimento afeta tanto as emissoras tradicionais, que buscam eliminar essa defasagem, quanto as instituições públicas, que vêm lançando serviços similares, disponibilizando gratuitamente suas produções em ambientes virtuais, caso da CDA – Contenidos Digitales Abierto – da Argentina. Em minha pesquisa Transmidiação, Transnacionalismo e Interculturalismo. A Lei, o Crime e a Nova Ordem na Ficção Seriada da América Latina, busquei analisar o processo de transmidiação em seus aspectos transnacional e intercultural por meio da identificação e classificação dos modos de endereçamento das séries televisivas criminais, policiais e de ação. O recorte foi motivado pelo surgimento, tanto no cinema quanto na televisão, de fórmulas hollywoodianas consagradas de narrativa, caso de thrillers de suspense e psicológicos, criminais e de ação – que se distanciavam do cinema de crítica social em geral associado às produções do “terceiro mundo”, mas também das telenovelas. Essas produções, além de evidenciarem o crescimento de ficções de gênero, buscam uma inserção no mercado internacional e na própria região latino-americana, e por este motivo incorporam padrões estéticos e narrativos consagrados e tradicionais. Foram identificados 313 produtos ficcionais de 11 países – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Estados Unidos, México, Peru, Venezuela e Uruguai – com distintos formatos: minisséries, docudramas, séries e telefilmes. Muitos projetos incluíam filme e série, e alguns telefilmes foram utilizados como estratégia de divulgação das séries, ou vice-versa, gerando processos de transmidiação. Séries como a brasileira Na mira do Crime (FX, 2015), telefilme e série, a argentina Signos (Telefe, 2015), a mexicana Deus Inc (HBO, 2016) e a estadunidense La Reina del Sur (Telemundo, 2011) representam distintas facetas deste momento.
    Para as majors, caso da HBO e do grupo Time Warner, essa regionalização da produção corresponde a novas estratégias de mercado, dentro do contexto de expansão das transmissões a cabo, para competir com os produtos locais e para poder beneficiar-se de leis de fomento direto e indireto. No caso do Brasil, o fenômeno é estimulado ainda pela cota da TV Paga, devido à aprovação da Lei 12.485/2011, que passou a permitir a exploração de serviços de televisão paga pelas concessionárias de telefonia e a exigir cotas de até 3h30 de produção nacional nos canais de televisão pagos provisionados no FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). Além disso, cresceram os serviços por assinatura na web, como o Netflix, que não apenas distribui conteúdos audiovisuais, mas também investe na produção. A primeira série criminal latino-americana foi Narcos (2015-2016), sobre Pablo Escobar, estrelada por Wagner Moura, e dirigida por José Padilha, e foi anunciada a produção da primeira série brasileira, 3%.
    Essa produção abre espaço para o surgimento de uma narrativa de gênero policial que flerta com o noir, com os thrillers de ação e suspense de décadas anteriores, popularizados, sobretudo, pelo cinema e pelos seriados americanos, mas que se depara com a inevitabilidade do crime e da transgressão como única forma de estabelecer a ordem. A cidade das obras latino-americanas não é a do espetáculo, do desenvolvimento e das novas tecnologias, como Nova York, Barcelona, Berlim, mas as cidades “paranoicas” : Buenos Aires, Caracas, Lima, México e Rio de Janeiro, outrora destinos turísticos e de investimento, são agora descritas pela mídia como “paisagens catastróficas, arruinadas por assaltantes, narcotraficantes, catadores de papel e sem-teto” (CANCLINI, 2008, pág. 23).

Bibliografia

    CANNITO, Newton (2010). A televisão na era digital – interatividade, convergência e novos modelos de negócio. São Paulo: Summus
    COSTA, Ana Paula Silva Ladeira (2013) Fluxos Internacionais da Comunicação: A Circulação de Formatos Televisivos Franqueados na América Latina. Tese de doutorado. UFF, Niterói.
    GARCIA CANCLINI, Nestor (2001) CULTURAS HÍBRIDAS : Estrategias para Entrar y Salir de la Modernidad. Buenos Aires, Barcelona, México: Editora Paidós.

    JENKINS, Henry (2009). Cultura da convergência. São Paulo: Aleph.
    MITTELL, Jason (2004), Genre and Television. From Cop Shows to Cartoons in American Culture. New York and London: Routledge.
    NAREMORE, James (2008). More than Night. Film Noir in Its Contexts, Updated and Expanded Edition Berkeley: University of California Press.
    NEALE, Steve (ed. 2000). Genre and Hollywood. New York: Routledge, 2000.
    SARLO, Beatriz (2014). Escenas de la vida posmoderna. Intelectuales, arte y videocultura en la Argentina. Buenos Aires: Siglo Veinteuno