Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriel Neiva (PPGCOM (UERJ).)
Minicurrículo
- Mestre em Antropologia Cultural pelo PPGSA-UFRJ (2012). É parte do corpo docente do Instituto de Humanidades da Universidade Cândido Mendes, do Departamento de Comunicação de PUC Rio e do Departamento de Comunicação da PUC Rio e do Departamento de Comunicação Social da FACHA. Em 2014, ingressou no programa de doutorado de Comunicação na UERJ (PPGCOM/UERJ) no qual articula uma tese sobre produções fílmicas contemporâneas situadas no Rio de Janeiro.
Ficha do Trabalho
Título
- Rio em Chamas: Cinema de Conflito.
Resumo
- A comunicação procura analisar o documentário Rio em chamas, filme-manifestação que fala da crise social por que passa a cidade do Rio de Janeiro e dos protestos públicos que se tornaram constantes desde meados de 2013. O Rio de Chamas se enuncia como um cinema de engajamento, atestado firme de um discurso de visibilidade contra hegemônica em que as imagens de violência revelam a posição crítica dos seus realizadores às instituições policiais.
Resumo expandido
- O longa metragem “Rio em chamas” concentra-se em armazenar cenas de conflitos sociais e institucionais registrados em 2013, tendo como principal catalisador as ondas de manifestações realizadas em junho daquele mesmo ano. Dividido entre doze realizadores, a película se apresenta como um “filme manifesto”, que mistura imagens de protestos, encenações, registros jornalísticos e diálogos entre poetas, acadêmicos, cineastas, manifestantes.
Propõe-se aqui pensar o “Rio em chamas” como ramificação do chamado “cinema de garagem brasileiro do século XXI”, termo cunhado por Marcelo Ikeda e Dellani Lima (2012), referindo-se a filmes de baixo orçamento e “narrativa não tradicional”, mas detentores de uma grande potência afetiva, transbordando o desejo quase explosivo em refletir sobre o universo ao seu redor. O filme segue tal linha ao fugir da linearidade narrativa, evitando também o tradicional “cinema de autoria”, misturando segmentos dirigidos por cineastas “profissionais” como o de Daniel Caetano, Cavi Borges e Clara Linhart com diversos registros “amadores” de imagens que foram vinculados pelos “midiativistas”.
O “Rio em chamas”, porém, tem um mote discursivo bem diferente: o seu fio condutor é o jogo de confronto entre os poderes institucionais (interpretado pelos policiais militares) e uma parcela da sociedade civil (representada pelos manifestantes). Uma das frases ali contidas elucida de forma cristalina que além da rua, o cenário fílmico principal tem a rua como um “território de disputa”.
O filme tem cerca de uma hora e cinquenta minutos. Escolhe-se, então, alguns trechos para análise, principalmente as cenas e os segmentos cujo conflito social está mais presente. As imagens geradas pelos “midiativistas ” Tamur Aimara e Guilherme Rodriguez registraram alguns eventos chaves dos ciclos de manifestações em 2013. Do início ao final da película, Aimara e Rodriguez revelam algumas cenas de confronto delineando uma representação de cidade “em chamas” e demonstrativa da posição crítica dos seus realizadores em relação às ações das instituições policiais.
Assim sendo, para melhor compreender o contexto histórico dos confrontos presentes em “Rio em chamas”, parte-se aqui de um repertório que repensa o cinema independente brasileiro no século XXI e suas modalidades. Além dos já citados Ikeda e Lima (2011), Cezar Miglorin (2011) articula propostas para um “cinema pós industrial”, fruto das novas vontades e potências criativas, situadas fora dos grandes cinemas. Além disso, em estudos sobre esse novo cinema, Luiz Zanin Orrichio (2003), Lúcia Nagib (2006) e Franthiesco Ballerini (2012) refletem sobre as novas possibilidades estéticas que vem emergindo no Brasil.
Através da ótica das representações de cunho confrontativo, é preciso recordar o inventário histórico que Jean Claude Bernardet (1985) realizou sobre o documentário brasileiro de cunho político em “Cineastas e imagens do povo”. Anita Leandro (2011) investigou os caminhos do cinema militante em uma série de documentários. E sob um olhar mais atual, Cezar Miglorin (2012) se debruça sobre as possibilidades de engajamento político no cinema contemporâneo.
Voltando ao “Rio em chamas”, analisa-se aqui principalmente aas cenas em que a representação de um ambiente em constante embate é hegemônica, sendo a violência o principal vínculo entre instituições policiais e cidadãos manifestantes. As imagens aqui geradas parecem também revelar uma narrativa de conflito. Quais são os possíveis sentidos desse discurso imagético?
Bibliografia
- BALLERINI, Franthiesco. Cinema brasileiro do século XXI. São Paulo: Editora Summus, 2011.
BERNARDET, Jean Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 1985.
IKEDA, Marcelo & LIMA, Dellani (org). Cinema de garagem: Um inventário afetivo sobre o jovem cinema do século XXI”. São Paulo: Caixa Cultural, 2011.
LEANDRO, Anita. “O tremor das imagens: notas sobre o cinema militante”, in: Revista Devires, v. 7, n. 2. Belo Horizonte: UFMG, 2011.
MIGLORIN, Cezar. “Por um cinema pós industrial”, in: Revista Cinética, vol. 3, 2011. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/cinemaposindustrial.htm. Acesso em 15 de novembro de 2015.
________________. “Figuras de engajamento: o cinema recente brasileiro”, in: Revista Devires, v. 8, n. 2. Belo Horizonte: UFMG, 2012.
NAGIB, Lúcia. A utopia no cinema brasileiro. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2006.
ORICCHIO, Luiz Zanin. Cinema de novo: um balanço crítico da Retomada. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2003.