Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Leandro Rocha Saraiva (SESI-PR)

Minicurrículo

    Foi professor do Depto. de Imagem e Som da UFSCar (2006-2007), e Gerente de Conteúdos Colaborativos da TV Brasil (2008-2009).Foi editor da revista Sinopse e é editor de cultura da Retrato do Brasil (www.retratodobrasil.com.br). Publicou Manual de Roteiro (Conrad, 2004), foi roteirista da séries Cidade dos Homens e 9mm, e coordenador geral do projeto Ponto Brasil (Tv Brasil). É parecerista doFSA, coordenador de dramaturgia da produtora Acere e do Núcleo de Dramaturgia Audiovisual- SESI/PR.

Ficha do Trabalho

Título

    Trajetória no subdesenvolvimento: ponto de chegada ou eterno retorno?

Mesa

    Atualidades de Paulo Emílio

Resumo

    Que aspectos de do texto clássico de Paulo Emílio ajudam a iluminar as contradições do audiovisual nacional hoje? E quais estão ultrapassadas por fatos novos? A atual configuração do audiovisual, ampliada em seu escopo, no contexto da digitalização, e modificada em seus mecanismos, sob a regulação da Ancine, tem novas formas de relação entre os produtores independentes nacionais e os atuais distribuidores internacionais. Vivemos mais um ciclo ou este trajetória foi finalmente superada?

Resumo expandido

    Que aspectos de Cinema: Trajetória no subdesenvolvimento ajudam a iluminar as contradições do audiovisual nacional contemporâneo? E quais estão hoje ultrapassadas por fatos novos?
    “O cinema é incapaz de encontrar dentro de si energias que lhe permitam escapar à condenação do subdesenvolvimento, mesmo quando uma conjuntura particularmente favorável suscita uma expansão na fabricação de filmes”.
    Desde a Lei 12485, sob o comando da Ancine, o audiovisual vive uma dessas conjunturas favoráveis, com expressivo avanço na produção de longas, circuito exibidor, conteúdo nacional na tv, além de um avanço geral do acesso ao audiovisual no período (bilheteria, tv paga, banda larga e VOD) . Será que ainda somos subdesenvolvidos?
    A trajetória traçada por Paulo Emílio , com sua famosa caracterização do caráter intermitente, por ciclos, de nosso cinema, vê em conjunto as expressões culturais e os entraves de mercado. Assim, o sucesso da Chanchada, por exemplo, aparece como síntese da cultura urbana em formação, reformulação das artes populares do espetáculo, via rádio, mas permanece trazendo “como seu publico, a marca do mais cruel subdesenvolvimento” – naquilo que António Cândido chamou de “consciência amena do atraso. Já no Cinema Novo, que buscou superar essa marca cruel, “a homogeneidade social entre os responsáveis pelos filmes e seu público, nunca foi quebrada”. Como observa Ismail Xavier, apontando a presença no texto da ideia de formação, “a natureza e posição peculiar do cinema na sociedade exigem uma capacidade de inclusão do “ocupado” ainda não alcançada. Para que o sistema chegue a termo são ncessários os tres lados do triângulo (autores, obras e público).
    Paulo Emílio aponta o fundamento econômico destes entraves: o controle internacional da distribuição. E este vínculo de dependência estrutural, que condena o cinema nacional, atravanca seu desenvolvimento em diálogo com um público amplo e marca a produção, em suas formas variadas (como mostra o autor em sua resenha da diversas vertentes do cinema daquele momento) .
    Hoje, distribuição de “conteúdo” é o nome de um jogo muito mais amplo e pesado. As teles, tentando fugir do o Condecine, que sustenta o FSA, declaram que conteúdo não é seu negócio – uma falácia, que tem como alvo o conteúdo independente nacional. E as programadoras da tv paga, em larga escala filiais de conglomerados internacionais, até ontem meras repetidoras, em resposta à cota de conteúdo nacional, vão criando, para os projetos de acesso ao FSA, sistemas de seleção e controle (em termos de perfil das produtoras e das formas narrativas – tendendo a um barateamento dos conteúdos que implica em repetição de fórmulas mais rasteiras da tv). Já no cinema, as distribuidoras, em sua maioria ainda internacionais, dominam o mercado com os filmes americanos, mas com um espectro bem ampliado de parcerias de produção de filmes nacionais, via artigo 3o A – numa situação semelhante a das programadoras estrangeiras, mas sem a obrigatoriedade de cota.
    No conjunto, a produção independente, com raras exceções, não conquistou o público (ou públicos) brasileiro. E por isso vê a obra dos anos Ancine ameaçada.
    Cabe a reposição dos argumentos de Paulo Emílio? A dicotomia ocupados x ocupantes ainda se observa, nas caraterísticas acima esboçadas?
    A resposta vislumbrada é que, em parte sim, em parte, não. Por um lado, há um efetivo exercício de parcerias entre a produção nacional e os atuais poderes distributivos instalados (distribuidoras de cinema e programadoras de tv). Mas, por outro, esta relação se estabelece segundo critérios, comerciais e estéticos, muito restritivos, que repõem o vínculo de subordinação. Estes vínculos – numa nova versão da dialética ocupado e ocupante – incluem os produtores e criadores nacionais, que, nestas relações e nas obras audiovisuais criadas, reproduzem a sina subdesenvolvida, sem conseguir efetivar os laços com os públicos do país.

Bibliografia

    *CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. in A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989. p. 140-162:
    *GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
    *SCHWARZ, Roberto. “O nacional por subtração”, em Que horas são?. São Paulo, Companhia das Letras, 1987
    *XAVIER, I. N. . O subdesenvolvimento como estigma e desafio: o cinema brasileiro e os impasses nacionais. In: Carlos Lessa. (Org.). Enciclopédia da Brasilidade: auto-estima em verde e amarelo. 1 ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005, v. 1, p. 378-387.
    *Informes e tabulações variadas na Ancine – http://www.ancine.gov.br/publicacoes