Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Andrea C. Scansani (ECA/USP – PPGMPAV)

Minicurrículo

    Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP e professora do curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
    Área de pesquisa e atuação: direção de fotografia, materialidade da imagem, corpo e câmera.

Ficha do Trabalho

Título

    Corpos acolhidos, retocados e revelados: os gestos da câmera e o ator

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    Os gestos da câmera cinematográfica são estabelecidos pelas possibilidades de criação disponíveis em seu mecanismo e em sua operação. As combinações são infindas e a cada configuração diferentes estímulos são arquitetados. Por sua vez, cada corpo filmado expressa sua singularidade, seu modo único de estar em cena – e para a cena. O fio-condutor deste estudo é a intercorporalidade da câmera e do ator no ato cinematográfico – onde o gesto de um fomenta e traz visibilidade e relevância ao outro.

Resumo expandido

    Este trabalho dedica-se ao vínculo criado entre os gestos da câmera cinematográfica e os gestos dos atores no momento da filmagem. No ato cinematográfico o mundo físico – de objetos e corpos amparados pelo cenário – é convertido em quadro pela ação da câmera. A transformação ocorre num duplo processo de codificação: um realizado pela interface corporal (ator/operador) e outro pelo aparato foto-cinematográfico. A confluência dos gestos acolhidos pela câmera se dá de forma ativa, recíproca e simultânea. É a conexão sutil entre os corpos (humano e técnico) que propicia a elaboração da experiência fílmica. Desta maneira, propomos investigar este elo através da análise visual de alguns gestos da câmera cinematográfica em relação ao corpo do ator.
    As possibilidades de expressão disponíveis no corpo de uma câmera são inúmeras. Estas podem ser abordadas desde um ponto de vista interno ao aparato (velocidade de obturação, textura do sensor/emulsão, exposição, ângulo de visão, profundidade de campo, movimento de foco) ou a partir da sua relação com o espaço e os objetos (posicionamento, movimento, composição). Cada escolha efetuada no momento da filmagem – como uma simples mudança da altura da câmera por exemplo – resulta em uma significativa alteração do mosaico que constitui a imagem. O domínio sobre a complexidade deste universo de configurações é o instrumento fundante da criação fílmica e um dos mais valiosos dispositivos de estímulo sensorial e de produção de presença. No entanto, o gesto “técnico” isolado não nos interessa, sua real contribuição apenas acontece na conexão recíproca entre quem filma e o que é filmado – sempre em favor dos resultados almejados pela obra. A performance do ator acontece na sua interação com elementos concretos – como cenário, objetos de cena, outros corpos, luz etc. – e a câmera. Deste modo, o ator é acolhido e impulsionado pelo contexto físico e, ao mesmo tempo, conduz e oferece uma nova forma à imagem captada. A câmera é alimentada e guiada por seus gestos que, por sua vez, são estimulados pelo desempenho do aparato. Esta relação de criação interdependente, onde o gesto de um fomenta e traz visibilidade ao gesto do outro, é o objeto desta análise.
    Sendo assim, propomos a investigação do cruzamento de um duplo percurso de observação do gesto: um que prioriza o encadeamento entre ator e operador e outro que evidencia o desempenho do aparato cinematográfico na composição fílmica. Como a materialidade dos gestos destes corpos são remodelados a partir das acomodações e retoques executados pela câmera? Quais os efeitos de presença desta relação? A intercorporalidade do ato cinematográfico parece-nos fundamental para a investigação, dado que concentra sua atenção no espaço que está entre os agentes da ação – em sua relação. A dimensão consciente e intelectual da interação dos corpos humano e técnico deve ter sua importância minimizada se quisermos investigar a coexistência sensorial e carnal dos mesmos no momento da filmagem. Nossos caminhos não seguem os da interpretação da imagem como produtora de significados, em realidade, tomam um rumo diametralmente oposto a este. Para além da interpretação textual e narrativa, o ator – através de seu corpo – evidencia seu vínculo entre si próprio e seu entorno e ao interagir com a câmera (e vice-versa) constrói este único corpo que é o filme. A partir da análise das imagens incorporadas pela obra cinematográfica podemos discernir quais são os liames de sua composição e, dentro das múltiplas variações das interações dos gestos, investir na apreensão dos detalhes da imanência da experiência fílmica.

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