Ficha do Proponente
Proponente
- Myriam Pessoa Nogueira (IFG)
Minicurrículo
- Doutora em artes – Análise, Crítica e Criação da Imagem, pela UFMG, Escola de Belas Artes, com ênfase em cinema. Professora do Instituto Federal de Goiás, do curso de Cinema e Audiovisual do Campus Cidade de Goiás e de Técnico de Áudio e Vídeo. Mestre em Literaturas em Língua Portuguesa pela PUC-MG, especialista em Cinema, Vídeo, TV e Novas Mídias pela UCLA e bacharel em Radialismo pelo Departamento de Comunicação Social da UFMG. Foi bolsista da Capes, e fez doutorado sanduíche na Wayne State US
Ficha do Trabalho
Título
- Woody Allen: o teatro em seus filmes, o cinema em suas peças
Resumo
- Procuramos analisar nos filmes e peças teatrais de Woody Allen, cineasta e ator, também dramaturgo e contista, uma influência recíproca do cinema em seu teatro e do teatro em seu cinema, desde citações intertextuais até autoadaptações de suas obras para outras mídias, suas paródias e a presença da linguagem fílmica na sua escritura de peças teatrais e do papel desempenhado pela linguagem dramatúrgica na sua narrativa cinematográfica.
Resumo expandido
- Nosso objetivo é a análise da obra de um autor cinematográfico que sempre sofreu influência da literatura teatral, sendo ele também um exemplo de dramaturgo que se influenciou pela linguagem cinematográfica.
Nosso objetivo consiste na análise descritiva de alguns filmes de Allen que tiveram relação direta com a literatura dramática, análise da linguagem cinematográfica utilizada por ele em sua obra teatral, além da análise das citações de outros autores que tiveram influência sobre ele.
Como nossa especialidade são as relações entre artes performáticas, o cinema e a literatura, é nesse terreno que se dará nossa análise, utilizando referenciais teóricos tomados de empréstimo desta última arte. Poderíamos analisar a obra de Allen através de várias teorias, a da intermidialidade, a da intertextualidade, ou a da reciclagem cultural, por exemplo. Existe um campo imenso no estudo das interações entre as linguagens de cinema e teatro. Essas interações entre as mídias ocorrem tanto no nível linguístico (textual, na literatura dramática, no roteiro), quanto na linguagem do espetáculo, e no nível temático.
A metodologia utilizada para nossa análise é a da teoria da intertextualidade de Gérard Genette, atualizada por Robert Stam, passando pela ironia intertextual de Umberto Eco e pela teoria da paródia de Linda Hutcheon. A intertextualidade era o referencial comum de todos esses autores. Linda Hutcheon trabalhou a paródia como homenagem, Stam analisa os vários tipos possíveis de intertextualidade com base em Genette, além de desmistificar o antigo hábito da fidelidade ao autor original, o que faz com que a idéia de originalidade se perca no labirinto do mise-en-abîme…Eco nos convida a todos a um banquete de citações, sabendo que alguns de nós vamos saber apreciar mais do que os outros as iguarias oferecidas em tão vasto cardápio…
Sobre “autorreferências”, passamos a um exemplo de má adaptação de uma das peças de Allen, Don’t Drink the Water (Quase um Sequestro, 1967) para o cinema (1969) e sua versão para a TV (1994). É o caso de um filme de Allen que tem como matriz peças de teatro ou mesmo filmes adaptados de teatro, e este é o caso das peças da Broadway You Can’t Take It with You (Do mundo nada se leva, de George Kaufman) e Teahouse of the August Moon (Casa de Chá do Luar de Agosto) em Don’t Drink the Water; Vemos também a influência de Casablanca (1942) e de The Seven Year Itch (O pecado mora ao lado, peça) na sua peça sobre filme que virou roteiro de filme: Play it Again, Sam (Sonhos de um sedutor, 1969) .
Há uma adaptação da peça de teatro de absurdo Death (Morte) numa homenagem a Brecht, Fritz Lang, Murnau e ao expressionismo alemão. Um caso singular é o filme sobre teatro que virou musical, Bullets Over Broadway (Tiros na Broadway, 1994) , baseado em George Kaufman, o que nos introduz ao tema seguinte, o cinema no teatro.
Ainda dentro de uma prática de autotextualidade, há a peça God (Deus), de Allen, que servirá de palimpsesto para outros filmes, como em Mighty Aphrodite (Poderosa Afrodite, 1995). É um exemplo da influência de grandes dramaturgos na obra de Allen, como Aristófanes ou Shakespeare. A Megera Domada , por exemplo, é a matriz das comédias dos anos 30 do cineasta George Cukor, que influenciaram, por sua vez, a obra de Woody Allen dos anos setenta.
Por fim, falarei de uma pesquisa feita na Biblioteca da Universidade de Princeton, onde tive acesso a seus manuscritos na sessão de livros raros, para onde, desde 1980, Allen vem doando seus roteiros e textos teatrais originais. Pude ver sua técnica de recortar e grampear – literalmente – suas páginas amarelas e seus rabiscos que originaram seus roteiros e peças. Ali estão trabalhos inéditos, exibidos na TV ou no teatro, e alguns jamais montados, gravados ou filmados.
Bibliografia
- ALLEN, Woody. Don’t Drink the Water. Samuel French, N.Y., 1995.
ALLEN, Woody. Play It Again, Sam. L&PM, Porto Alegre: 1984.
ALLEN, Woody. “Cupid’s Shaft” ; “Sex” and “Death”; “A Second-Hand Memory”; “The Woody Allen Special”; “God, the Flag and Motherhood”; “New Milford” ; Woody Allen Papers; Rare Books Special Collection. Firestone Library. Princeton University, New Jersey, USA.
AXELROD, George. “The Seven Year Itch. “In: GASSNER, John. Best American Plays Fourth Series 1951-1957, N Y, Crown Publishers, 1958.
ARISTÓFANES. As nuvens. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1995.
ECO, Umberto. Sobre a literatura. SP: Record, 2003.
GENETTE, Gérard. Palimpsests – Literature in the Second Degree – 1997, University of Nebraska Press.
HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia. RJ. Edições 70, 1985.
KAUFMAN, George & MOSS, Hart. You can’t take it with you. N Y: Farrar & Rinehart, 1937.
PATRICK, John. “The Teahouse of the August Moon.” In: GASSNER, John. Best American Plays 1918-1958