Ficha do Proponente
Proponente
- Beatriz Saldanha (UAM)
Minicurrículo
- Beatriz Saldanha é mestranda em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi, com pesquisa intitulada “Protejam todos a criança: Um estudo sobre Hitchcock e a infância”, apoiada pela CAPES. Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Ceará (2012), onde desenvolveu a pesquisa desenvolveu a pesquisa “Violência e erotismo nos contos de Grimm: releituras no cinema moderno”, financiada pelo CNPq.
Ficha do Trabalho
Título
- A adultização dos corpos infantis em Baby Burlesks
Seminário
- Corpo, gesto, performance e mise en scène
Resumo
- Baby Burlesks é uma série de oito curtas-metragens produzidos por Jack Hays e Charles Lamont para a Educational Pictures nos anos de 1932 e 1933. Os filmes faziam paródias de longas-metragens famosos, dos bastidores de Hollywood, dos esportes e da política. O destaque desses filmes eram os atores, crianças de cerca de três anos de idade, ainda em fraldas, interpretando gângsteres, dançarinas de cabaré. Investigo neste trabalho o processo de adultização ao qual eram submetidos os jovens atores.
Resumo expandido
- De início, quero explicar a definição de cinema da infância, a qual permeia e fundamenta a minha pesquisa: podem ser considerados como integrantes de um cinema da infância filmes protagonizados por uma ou mais crianças, que tragam uma visão mais realista sobre ser criança e que possam, de alguma maneira, enriquecer o debate sobre a infância. O autor José de Sousa Miguel Lopes, em seu artigo “O cinema da infância”, faz a seguinte definição: “Todo filme que tem como protagonista uma ou várias crianças, e não filmes que se dirigem às crianças, (…) nos quais se tenta abandonar o terreno da narração na busca de uma imagem diferente ou mais justa da infância”. (LOPES, 2008). François Truffaut, enquanto crítico, dedicou parte de sua escrita à análise dos filmes sobre a infância. Em 1975, escreveu para o Le Courier de l’Unesco, em uma edição especial sobre crianças: “Em relação à sua importância na vida cotidiana, a criança é sub-representada no cinema. É claro que há um certo número de filmes com crianças, mas poucos filmes sobre crianças. Por quê? Simplesmente porque não existem estrelas-crianças. Como os filmes são comercialmente elaborados em cima da exibição de estrelas, a criança só é utilizada neles como extras, à margem da ação e não raro de forma decorativa”. (TRUFFAUT: 2006)
Entre 1935 a 1938, nos Estados Unidos, presenciou-se um fato até então inédito: Shirley Temple, uma menina de idade inferior a dez anos, foi a grande campeã de bilheteria, ultrapassando astros como Clark Gable e Gary Cooper. Um produto da Grande Depressão, Temple salvou o estúdio Fox da bancarrota e arrancou elogios até mesmo do presidente Roosevelt: “era uma coisa esplêndida. Por apenas 15 centavos, as pessoas poderiam ir ao cinema, ver o rosto sorridente da garotinha e esquecer dos problemas”. Com seu carisma e sorriso cativante, Temple transmitia às pessoas, fragilizadas pela crise econômica, a ideia de que, pelo menos por 90 minutos, não havia problemas no mundo. O que ficou para a posteridade foi a encantadora imagem de Temple em A queridinha da família, mas, anos antes, a jovem atriz havia protagonizado uma série de curtas-metragens de moral duvidosa.
Baby Burlesks é uma série de oito curtas-metragens produzidos por Jack Hays e Charles Lamont para a Educational Pictures nos anos de 1932 e 1933. Os filmes faziam paródias de longas-metragens famosos, bem como dos bastidores de Hollywood, dos esportes e da política. O destaque desses filmes eram os atores, crianças de cerca de três anos de idade, ainda em fraldas, interpretando gângsteres, dançarinas de cabaré, entre outros personagens tipicamente adultos.
O primeiro deles, Runt Page, é uma história de gângsteres baseadas no filme A primeira página, e já traz um triângulo amoroso. É o único dos curtas em que as crianças têm as vozes dubladas pelas de adultos. War Babies, o mais representativo, tem como base o filme Sangue por glória. Mais uma vez, mostra um triângulo amoroso, e a pequena Shirley Temple interpreta aqui a personagem que fora de Dolores Del Rio no filme original: uma dançarina de cabaré. The Pie-Covered Wagon, por sua vez, tem inspiração no filme Os bandeirantes; enquanto Glad Rags to Riches parodia o melodrama romântico. Kiddin’ Hollywood brinca com os bastidores do cinema e Temple encarna aqui a sexy Marlene Dietrich. The Kid’s Last Fight mostra os bastidores do boxe e Polly Tix in Washington, da política. Neste, Temple interpreta uma mulher fatal que seduz um político. Kid ‘in Africa, o último curta-metragem da série, é baseado nos filmes de aventura na selva.
As perguntas que faço neste trabalho são: o fato de uma criança ser uma estrela de cinema implica que ela seja representada de forma digna? Qual o papel da criança dentro do sistema de estrelas de Hollywood? Por fim, qual o lugar do corpo infantil neste sistema?
Bibliografia
- BAECQUE, Antoine de. “O corpo no cinema”. In: COURTINE, Jean-Jacques. História do corpo: As mutações do olhar. O século XX. Petrópolis: Vozes, RJ, 2008.
LOPES, José de Sousa Miguel. O cinema da infância. In: Revista TXT. Belo Horizonte, junho de 2008.
MORIN, Edgar. As estrelas: mito e sedução no cinema. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.
OSTERWEIL, Ara. Reconstructing Shirley: Pedophilia and Interracial Romance in Hollywood’s Age of Innocence. Camera Obscura 72, Volume 24, Number 3. Duke University Press: Durham, 2009.
TRUFFAUT, François. O prazer dos olhos: escritos sobre cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.