Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Luiz Vadico (UAM)

Minicurrículo

    Prof. Dr. Luiz Vadico – Historiador e Escritor – graduado em História/IFCH – UNICAMP – Doutor em Multimeios/IA – UNICAMP. Prof. Titular do PPG em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, SP. Participa do Grupo Religião e Sagrado no Cinema e no Audiovisual. Autor de O Campo do Filme Religioso. Cinema, Religião e Sociedade. Pesquisas: Hagiografia Fílmica. Porque a vida de um santo não é uma cinebiografia; e O Especial Efeito do Efeito Especial. A representação de hierofanias no cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Chico Xavier, o filme. Um santo do nosso tempo.

Mesa

    Exemplaridade e Devoção nos Filmes Hagiográficos

Resumo

    Analisaremos o filme Chico Xavier, de Daniel Filho (2010), verificando como o médium é retratado, defendendo a idéia de que não é uma cinebiografia como anunciado, mas uma hagiografia fílmica (filme de vida de santo). E, neste sentido está localizado entre outras produções espíritas no Campo do Filme Religioso (VADICO, 2015). Mesmo o Espiritismo não admitindo santos, pretendemos responder à questão relativa a cinebiografia de personagens religiosos, elas obedecem os parâmetros da hagiografia?

Resumo expandido

    O médium Francisco Cândido Xavier, ou simplesmente Chico Xavier, foi uma das figuras religiosas mais importantes e influentes no Brasil do século XX. Representante máximo do Espiritismo no país, seu trabalho – através de centenas de livros psicografados – foi fundamental para a sua consolidação e divulgação. O Espiritismo, originado na França, em 1857, com a obra O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, teve aqui bom acolhimento.
    O discurso oficial espírita caminha em direção parecida ao de Kardec, mas suas práticas absorveram traços da cultura local. Kardec batia-se por uma espécie de laicismo científico/filosófico/religioso, uma filosofia baseada na ciência da comunicação entre vivos e mortos. Por aqui, devido ao trabalho de Bezerra de Menezes (sec. XIX), e de Chico Xavier (sec. XX), o aspecto científico foi negligenciado, e se enfatizou o lado fenomênico e religioso adaptado ao cristianismo.
    Indicado ao Nobel da Paz, tendo psicografado mais de 400 livros, a maioria publicados pela Federação Espírita Brasileira (FEB), Chico Xavier, após uma existência simples e pobre, como funcionário de uma repartição pública, deixou um grande legado espiritual para o país e para o mundo. Suas obras traduzidas circulam por vários países, tornando-o um dos responsáveis pela reintrodução do Espiritismo na França. Respeitado por todas as confissões religiosas, na tarefa de intermediário entre os encarnados e os desencarnados transcendeu as fronteiras da sua religião. Durante décadas caravanas de peregrinos seguiam até as cidades de Pedro Leopoldo e depois Uberaba (MG), desejosos de notícias dos parentes mortos ou apenas para conhece-lo.
    Chamou atenção pela primeira vez com o livro de poemas psicografados Parnaso de Além Túmulo (1935), e foi catapultado para os noticiários nacionais a partir do Caso Humberto de Campos (1944), no qual a família do escritor processava o médium pelos direitos autorais. Os espíritas perderam a causa, mas isso garantiu notoriedade ao médium.
    Nesta comunicação analisaremos o filme Chico Xavier, de Daniel Filho (2010). Verificaremos como o médium é retratado, defendendo a idéia de que não se trata de uma cinebiografia como anunciado, e nem de um melodrama, mas de uma hagiografia fílmica (filme de vida de santo). E, neste sentido está localizado entre outras produções espíritas no Campo do Filme Religioso (VADICO, 2015). Essa questão se impõe pois não se trata de uma simples personalidade da América Latina, mas de um homem religioso, que se destacou pela exemplificação constante da Doutrina Espírita.
    A produção possui duas linhas narrativas entrecruzadas, a estória da vida de Chico Xavier e o processo de realização do programa televisivo Pinga Fogo, do qual ele participou em 1974, na extinta TV Tupi, a maior do país no período. A partir das falas do entrevistado surgem elaborados flashbacks constituindo sua estória passada.
    Na construção da forma do filme desde a primeira imagem da abertura somos avisados que veremos “fatos escolhidos”, numa busca de isenção: A história de um homem não cabe num filme. Não há como dar o devido peso a cada ano vivido, nem como incluir cada evento e cada pessoa que fizeram parte de uma vida inteira. O que se pode é ser fiel aos acontecimentos e à essência da sua trajetória.
    Enquanto acompanhamos no filme o programa de TV, a partir da sala de direção e edição, somos lembrados que edição é isso: construir um discurso com as imagens, um discurso com um sentido (GARDIÉS, 2008, p. 35). Assume-se para o espectador que é um filme e não a realidade, ainda que buscando respeitar a sua “essência”. Isto, evidentemente, escamoteia a representação final gerada.

Bibliografia

    CERINOTTI, Angela. Santos e e Beatos de ontem de hoje. São Paulo: Ed. Globo, 2004.
    CORBINS, Alain (org.). História do Cristianismo. Para compreender melhor nosso tempo. São Paulo: WMF/Martins Fontes, 2010.
    CÁNEPA, Laura. Notas para pensar a onda dos filmes espíritas no Brasil in: Rumores, Brasil, v. 7, n. 13, p. 46-64, Jul. 2013. ISSN 1982-677X. Disponível em: . Acesso em: 14 Set. 2015
    GARDIÉS, René. Compreender o Cinema e as Imagens. Lisboa: Texto & Graphia, 2008.
    KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Araras: IDE, 1991. 73ª. Ed.
    VADICO, Luiz. O Campo do Filme Religioso. Cinema, religião e sociedade. Jundiaí: Paco Editorial, 2015.
    VADICO, Luiz. “O Processo de Sacralização do Filme: o produto e o evento”. In: Revista Fronteiras – Estudos Midiáticos. Vol. 13 no. 1 – Janeiro/Abril de 2011. São Leopoldo, Unisinos, 2011.