Ficha do Proponente
Proponente
- BIANCA SANTOS CHISTE (UNIR)
Minicurrículo
- Autora: Bianca Santos Chisté: Professora Doutora da Universidade Federal de Rondônia, Campus de Rolim de Moura. Desenvolve pesquisas relacionadas às temáticas: infância, criança, educação e produção imagéticas. Integrante do Grupo Im@go.
Coautoria: Luana Priscila de Oliveira: Professora Mestre da Universidade Federal de Tocantins, Campus de Palmas. Desenvolve pesquisas relacionadas às temáticas: infância, criança, pesquisa como experiência e produções imagéticas. Integrante do Grupo Im@go.
Ficha do Trabalho
Título
- O QUE PODE AS PRODUÇÕES INFANTIS IMAGÉTICAS?
Resumo
- O texto se apresenta como possibilidade de pensar com infância, com criança, com imagens produzidas por crianças de uma instituição pública de educação infantil, em uma pesquisa que chamamos pesquisa como experiência. As produções imagéticas provocaram encontros com Larrosa (2010) e Leite (2011) nos levando a pensar na potência do corpo, a experimentar outros tempos e espaços, a perder as certezas dos caminhos seguros, sendo convocadas pela força daquilo que passava, trans-formava e de-formava.
Resumo expandido
- O trabalho que desenvolvemos, junto às crianças de 04 e 05 anos de uma instituição de Educação Infantil, da Rede Municipal, de Vilhena, RO, teve por objetivo pensar questões relativas à infância e a criança e a educação. O fato é que, ao oferecermos filmadoras a estas crianças fomos inseridos em um universo onde alguns pressupostos previstos em trabalhos de pesquisa científica e de produção de imagens não aparecem comumente. O ponto central é que na produção de imagens (fotografias e filmagens) amadoras, profissionais, acadêmicas, de uso pessoal ou comercial observamos certa intencionalidade na captura e registro das imagens. No entanto, com as crianças observamos que elas, na maioria das vezes, não buscavam um foco, mas o achavam. Parece que com as crianças as coisas acontecem de modo diferente, primeiro há o encontro, depois a busca; seria como se a intencionalidade viesse depois do encontro, e não antes dele.
Em relação ao próprio ato de pesquisa as imagens produzidas pelas crianças nos convidavam a pensar em uma pesquisa como experiência. A pesquisa aqui não era mais um lugar seguro, de reflexões sobre e a partir de, lugar onde lemos as imagens, interpretamos os dados, os analisamos. Mas se constituía como um, pouco preciso, lugar onde tentamos pensar com… as imagens, a infância, as crianças, as sensações. Uma pesquisa retirada do previsto, do calculável, um lugar de abertura, de vertigem, de corpos que se misturavam, se melecavam, se lambuzavam, se gosmeiavam, se encontravam, uma pesquisa que se constitui como experiência, uma pesquisa infantil, pois “pesquisar com crianças é um convite à abertura, ao deslocamento de lugares e tempo”. (LEITE, 2011, p. 115)
As crianças nos convidavam a olhar, a olhá-las, a enxergar o mundo com a sensibilidade própria da infância, da criança. As crianças provocavam uma relação íntima, efetiva, afetiva não só com o ser pessoa, mas com as coisas. Ou seja, os corpos-crianças de posse da câmera filmadora, para que filmassem sem orientação prévia, sem roteiro, parece que eram sugados, misturados pelo corpocâmera, tornando assim, outros corpos. Como nos diz Leite (2013, p. 09) “corpos produzindo corpos outros, são corpos derivando nas câmeras, das câmeras, são corposcâmeras se produzindo em camerascorpos, corpos zoons, corpos quebras, corpos cenas, corpos montagens.” Muitas vezes a câmera parecia extensão do próprio corpo.
As produções imagéticas das crianças convidavam-nos a entrar nelas, a entregar-se sem reservas, a invadir seu espaço, a arrebatar-se, para com isso, juntos, com elas, delirar, variar, ir para além delas. As imagens infantis nos exigiam um envolvimento íntimo, um abandono, uma entrega infantil. Convidavam-nos a pensar com elas. Pensar com e para além delas é entrar e demorar, se perder na profundidade ou como diz Larrosa, (2010, p. 142) “[…] é trazer o dito à proximidade do que fica por dizer, trazer o pensado a proximidade do que fica por pensar, trazer o respondido a proximidade do que fica por perguntar.” É nos desprendermos de nós mesmos, numa atenção estendida quase até o “limite que paradoxalmente, coincide com uma máxima intimidade com nós mesmos.” (LARROSA, 2010, p. 48)
Dessa maneira, as produções imagéticas das crianças como convite a abertura, à intimidade são movimentos de criação, de imaginação, de devaneios e muitos delírios. São imagens que nada dizem ou dizem muito, imagens incômodas, vertiginosas, enjoativas, desfocadas, embaçadas, vazias, escuras, cansativas, trêmulas, paradas, corridas, rápidas, lampejos de imagens, mas que nos convidam a pensar com e para além delas. Fomos então provocados a pensar no corpo, nos corpos, corpos que pulsam, que pensam, corpos como potência, potência de vida. Corpos coexistindo no mundo conosco em uma intimidade inebriante; em uma experimentação inventiva, brincativa, sem função explicativa, descritiva, padronizativa.
Bibliografia
- LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana. Danças, piruetas e mascaradas. 5 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
LEITE, César Donizetti Pereira. Infância, Experiência e Tempo. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.
______. Cinema, Educação e Infância: Fronteiras entre Educação e Emancipação. Fermentário. Vol 2, n° 7, 2013.