Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Juily Jyotsna Seixas Manghirmalani (UFSCAR)

Minicurrículo

    Formada em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac, é mestre em Imagem e Som pelo Programa de Pós Graduação em Imagem e Som (PPGIS) da Universidade Federal de São Carlos. Desde 2014, faz parte do grupo BrIndArc, associação de estudos entre Índia e Brasil. Ministra aulas esporádicas sobre cinema indiano em casas de cultura e universidades. Integrante do Coletivo Lumika desde 2011, trabalha com a produção de obras audiovisuais com a temática de discussão de gênero e diversidade sexual.

Ficha do Trabalho

Título

    As mulheres hindus no cinema de diáspora indiano de Deepa Mehta

Seminário

    Cinema Queer e Feminista

Resumo

    Com os filmes ambientados entre os períodos de 1938 e início dos anos 1990, a “Trilogia dos Elementos” de Deepa Mehta discute os fenômenos pertencentes aos processos de modernização na Índia através da subjetividade feminina. A diretora particulariza, através de três momentos da história da Índia, tensões de gênero em meios a estruturas patriarcais e religiosas advindas do pensamento nacionalista hindu.

Resumo expandido

    A “Trilogia dos Elementos” da diretora Deepa Mehta, foi lançada entre 1996 e 2005 e trabalha de forma alegórica a relação do corpo e gênero feminino com a nação indiana e o hinduísmo.
    O primeiro filme, “Fogo e Desejo” (1996), questiona a ideia coletiva de gênero imposta a todas as mulheres indianas e pela qual elas podem ser discriminadas em níveis de normatividade. Ao se passar diegeticamente no começo dos anos 1990, o filme apresenta as possibilidades de articulação do desejo feminino dentro da classe média hindu, em que frequentemente é repreendido ou condenado por normas sociais. Por outro lado, ele apresenta a afiliação e a ligação das protagonistas femininas de forma a reverter estas formas opressivas e recuperar a autonomia de suas sexualidades.
    A existência e a união do casal Radha e Sita torna-se uma forma de resistência de gênero a regimes sociais, já que “Fogo e Desejo” não apresenta as protagonistas como lésbicas reprimidas, mas sim sujeitos resultantes da modernidade na Índia em processo de globalização.
    Deepa Mehta pontua como a história indiana caracterizou as mulheres como uma massa coletiva, sem poder ou ambições individuais.
    O segundo filme, “1947-Earth” (1998), problematiza de forma inovadora a Partilha, através do testemunho de uma visão feminina desse processo de divisão territorial entre a Índia e o Paquistão.
    O filme é contado pela perspectiva de Lenny em sua fase adulta, sobre esse momento histórico que ocorreu em sua infância, em relação à culpa e à perda da inocência, dentro de um contexto histórico traumático.
    Durante a Partilha, os corpos femininos foram utilizados como prêmios de guerra e conquista entre as comunidades étnicas. Um dos protagonistas masculinos, Dil Navaz, é um mulçumano enraivecido que utiliza a religião como ornamento, junto das forças nacionalistas emergentes, para conseguir o que deseja perante o momento de guerra no país. Com isso, ele acaba por relacionar o corpo de Shanta, a babá hindu de Lenny, como exemplo de prêmio da guerra sectária, ao abduzi-la de forma violenta ao final do filme.
    O terceiro filme, “As Margens do Rio Sagrado” (2005), relata a tentativa de resistência de gênero de três mulheres, Chuyia, Kalyani e Shakuntala, que buscam questionar o ciclo imposto pelo hinduísmo à condição de viuvez.
    O filme passa-se em 1938, em um mosteiro que é financiado por caridade e prostituição. Madhumati é a idosa viúva que comanda o local e que negocia a prostituição de Kalyani, uma das mais jovens viúvas.
    Na primeira parte do filme, o foco se encontra na pequena Chuyia, de 8 anos, ao tornar-se viúva e entrar para o mosteiro. Após conhecer Kalyani, ambas se tornam as personagens condutoras dos conflitos do filme. Kalyani é vista metaforicamente como a flor de lótus, referida como a flor que sobrevive em águas sujas. O corpo da jovem não é apenas marginalizado como o das outras viúvas pela sociedade, mas também pela prostituição. Shakuntala é mais velha e alfabetizada que começa a questionar a sociedade e a religião em que está inserida em relação a vida em que são obrigadas a levar.
    Rama Rani Lall (in JAIN, 2007, p. 236) elege três poderes estruturais responsáveis pela situação das viúvas. O primeiro seria o aspecto ideológico religioso. A interpretação feita por religiosos de poder, acaba por implicar juízo de valores em mulheres e viúvas. A segunda seria a hegemonia patriarcal dos donos de terra e pequena nobreza liderada por homens. Esta explora as viúvas que se encontram marginalizadas por instituições sociais para satisfazer seus desejos físicos. Por último, a falta de poder feminino, que sofrem continuamente com o jugo masculino. Elas acreditam que estas são as condições e limitações a quais estão designadas, vividas por gerações, sem qualquer opção ou esperança.
    Como uma obra fechada, a “Trilogia dos Elementos” apresenta diversos problemas relacionados à sociedade, à cultura, à religião e ao corpo das mulheres.

Bibliografia

    BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
    DESAI, Jigna. Beyond Bollywood: the Cultural Politics of South Asian Diasporic Film. New York/London: Routledge, 2004.
    GAYATRI, Spivak Chakravorty. Pode o subalterno falar?. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
    GOPINATH, Gayatri (org.). Impossible Desires – Queer Diasporas and South Asian Public Cultures. Durham e Londres: Duke University Press, 2005.
    HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro, DP&A, 2011.
    ___________. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2013.
    JAIN, Jasbir. Films, Literature and Culture: Deepa Mehta’s Elements Trilogy. Jaipur: Chaman Publications, 2007.
    MAJITHIA, Sheetal. Rethinking Postcolonial Melodrama and Affect. Toronto: University of Toronto Press, Modern Drama, Vol. 58, 2005.
    SAID, Edward W. Orientalismo – O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.