Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Paulo Cunha (CEIS20-UC)

Minicurrículo

    Doutor em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra, onde integra o Centro de Estudos Interdisciplinares do Séc. XX (CEIS20-UC). Docente de Cinema na Universidade da Beira Interior (UBI) e de Vídeo e Cinema Documental na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes (ESTA-IPT). Colaborador dos festivais de cinema Curtas Vila do Conde e Porto/Post/Doc. Programador do Cineclube de Guimarães. Membro fundador e dirigente da AIM – Associação de Investigadores da Imagem em Movimento.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinefilia e cultura cinematográfica na Guiné-Bissau

Seminário

    Cinemas em português: aproximações – relações

Resumo

    Na situação actual de cinema informal e alternativo em relação aos meios mais convencionais, a experiência cinematográfica na Guiné-Bissau tem-se vindo a reconfigurar. Influenciado pelas práticas produtivas de países africanos com iguais limitações técnicas e financeiros, a produção e exibição guineense tem evoluído numa lógica de autodidatismo e empreendedorismo. Neste trabalho pretendo analisar e reflectir sobre a situação cinematográfica da Guine-Bissau desde o colonialismo até à actualidade.

Resumo expandido

    Flora Gomes, o nome internacionalmente mais reconhecido do cinema guineense, acredita que a Guiné-Bissau “é um país com muita história para contar em diversas formas”, mas é cada vez mais um país sem cinema próprio. Sem produção própria, o cinema da Guiné-Bissau é pratica-mente inexistente e só sobrevive devido a algumas coproduções que são rodadas em território guineense.
    Sem meios financeiros e técnicos para ter uma produção profissional própria, o cinema da Guiné-Bissau é praticamente inexistente e só sobrevive devido a algumas coproduções que são rodadas em território guineense ou a apoio financeiro estrangeiro concedido a realizadores guineenses. De uma forma ou outra, a coprodução é hoje um mecanismo vital, não só para a sobrevivência do cinema guineense, mas também para a recuperação da memória visual do país.
    Os casos de Flora Gomes e Sana Na N’Hada são paradigmáticos do percurso do cinema guineense desde o seu nascimento: todas as longas-metragens realizadas pelas duas principais referências internacionais do cinema guineense, aqueles que foram formados para produzir o olhar pós-colonial guineense, só se concretizaram com o apoio financeiro maioritariamente estrangeiro. Nas últimas duas décadas, Portugal tem sido mesmo o principal financiador do cinema guineense. Perante a falta de apoios financeiros internos, o cinema da Guiné-Bissau, como de outros países da mesma dimensão e na mesma situação político-social, o apoio externo torna-se fundamental.
    A situação actual, em que o cinema sobrevive numa lógica informal e alternativa em relação aos meios mais convencionais, tem vindo a reconfigurar toda a experiência cinematográfica na Guiné-Bissau. Influenciado pelas práticas produtivas de países africanos com iguais limitações e condicionalismos técnicos e financeiros, a produção e exibição cinematográfica guineense tem evoluído numa lógica de autodidatismo e empreendedorismo.
    Para além das formais mais convencionais, nos últimos anos tem-se verificado um surto de produção cinematográfica e audiovisual proveniente de núcleos amadores e semi-profissionais que tem aumentado exponencialmente. Trata-se de produções de baixíssimo orçamento, com técnicos e actores amadores ou não-profissionais, com recurso a meios técnicos mais acessíveis aos potenciais realizadores ou meros curiosos. Este tipo de produções não é fácil de mapear porque tem uma circulação local (predominantemente em formato DVD) e porque a maioria dos seus promotores são produtores pontuais. Ainda assim, e graças ao recente recurso à Internet, foi possível identificar alguns produtores mais bem sucedidos.
    Tal como a produção, o sector da exibição também se tornou progressivamente informal e não-profissional. Apesar de não existir nenhuma sala de cinema comercial licenciada em todo o território guineense, além de algumas salas com programação cinematográfica não-comercial pontual, estima-se que existam só na cidade de Bissau (cerca de 350 mil habitantes) cerca de 150 salões de cinema, com lotação entre os 50-80 lugares. Estes espaços informais destinados à exibição de filmes através de DVD em ecrã de televisão , exibindo sobretudo títulos norte-americanos e produções locais. Mesmo sem as condições formais necessárias, este circuito de salões mantém o sector da distribuição bastante activo e consolidado, promovendo uma cultura cinematográfica muito particular.
    A partir das ideias de “cinefilia” e de “cultura cinematográfica”, desenvolvidas respectivamente por Antoine de Baecque (2010) e Thomas Elsaesser (2005), pretendo analisar a produção e a circulação de cinema na Guine-Bissau desde o período colonial até à actualidade e reflectir sobre o modo de pensar, ver e fazer cinema nesse território.

Bibliografia

    Baecque, Antoine de. Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura, 1944-1968. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
    Cabral, Amílcar. 1979. Análise de alguns tipos de resistência. Bolama: Imprensa Nacional.
    Cunha, Paulo. 2015. O Novo Cinema Português. Políticas públicas e modos de produção (1949-1980). Coimbra: Tese de Doutoramento apresentada à Universidade de Coimbra.
    Cunha, Paulo. 2013. A Alvorada do Cineclubismo. In Angola, o nascimento de uma nação. Vol. 2. O cinema da libertação, ed. Maria do Carmo Piçarra; Jorge António, 43-64. ISBN: 978-989-702-089-6. Lisboa: Guerra e Paz.
    Cunha, Paulo. 2013. Guiné-Bissau: as imagens coloniais. In Os cinemas dos países lusófonos, ed. Jorge Luiz Cruz; Leandro Mendonça, 33-48. ISBN: 978-85-62864-08-7. Rio de Janeiro: Edições LCV.
    Elsaesser, Thomas (2005). European Cinema: Face to Face with Hollywood. Amesterdão: Amsterdam University Press.