Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Sueli Chaves Andrade (PUC-SP)

Minicurrículo

    Sueli Andrade é doutoranda em Comunicação e Semiótica (PUC-SP, 2012/2016), tendo realizado estágio de pesquisa doutoral na Wayne State University (2014-2015), Detroit, USA – bolsa CAPES sob a supervisao de Steven Shaviro; mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP, 2009); graduada em História (UFF-RJ, 2006). Possui formação em Psicanalise Lacaniana pelo CLIN-a/EBP-SP, (2010/2012), sendo também pesquisadora e pensadora dos temas da cultura contemporânea tais como corpo e arte.

Ficha do Trabalho

Título

    Rubber Johnny: hibridismo de corpos e linguagens

Resumo

    Rubber Johnny (2005) é um dos trabalhos mais autorais do diretor Chris Cunningham, conhecido por inaugurar o videoclipe de autor nos anos 1990. O objetivo desta apresentação é situar tal obra dentro do contexto de discussão que marca os encontros e desencontros entre as linguagem cinematográfica e videografica sob a perspectiva da representacao do corpo freak. Corpo este responsavel por uma vivencia de estranhamento estético e sensorial, o qual pode ser lida a partir do unheimlich freudiano.

Resumo expandido

    Rubber Johnny (2005) é o trabalho mais radical e experimental do videomaker Chris Cunningham até o presente momento. O objetivo desta apresentação é situar tal obra dentro do contexto de discussão que marca as intersecções entre as linguagem cinematográfica e videografica na qual hibridos imagéticos e corporais podem advir conforme veremos a seguir. No que diz respeito às aproximações que podem ser vistas no vídeo junto a teoria e técnica filmica, a considerar dois aspectos. O primeiro deles a questão sobre autoria, debate que perpassou a historia do cinema nos idos 1960 através da Politique des Auteurs com suas dezenas de artigos publicados junto ao periódico Cahiers du Cinema. Cunningham é o roteirista, diretor, ator e editor do vídeo em questão, em suma, o seu legitimo autor se tomarmos em conta que o autor no cinema é aquele que detém o controle sobre o processo produtivo, fazendo valer sua identidade, além claro da recorrência e insistência de temas que podem ser observadas ao longo de uma carreira. No caso do britânico, essa marca temática diz respeito ao corpo e suas representações freak e cyborg. Como segundo ponto de aproximação à linguagem cinematográfica, temos na edição de Rubber Johnny o que Eisenstein denominou de montagem atonal, ou seja, aquela que mescla métrica, rítmica e tonal de modo a causar um efeito/afeto especifico junto ao espectador. Tal modelo de edição é fundamental para suportar a construção da narrativa acerca da experiência de viver o unheimlich no sentido freudiano do termo. O que necessariamente nos leva a tratar da questão do corpo pelo binômio alteridade-identidade, visto que o corpo de Johnny é um corpo abjeto. Remetendo aqui não somente ao conceito desenvolvido por Judith Butler acerca da performatividade, mas também como uma projeção de corpo que vai além do projeto humanista e que Vilem Flusser nomeou de Vampyrotheutis Infernalis com sua metáfora acerca das infinitas possibilidades de corporalidade e existência humana além da primazia do tecnológico e orgânico. Posto isso, podemos descrever brevemente o objeto deste trabalho com uma narrativa na qual um garoto tem a marca da desproporção e do assimétrico em seu corpo: sua cabeça é macrocéfala enquanto seu tronco e membros são de proporções delicadas com pouco desenvolvimento muscular. O video é mais uma parceria com o músico Aphex Twin e conta a historia de um menino enclausurado em um quarto escuro e que tem como passatempo a dança e o consumo de drogas. Mas o que o corpo de Johnny nos remete em termos de afetação corporal? A primeira sensação refere-se a uma constatação acerca da falência do projeto de um corpo humanista no qual as proporções do homem vitruviano não dão mais conta de serem representativos da complexa diversidade de corpos, gêneros e identidades no contemporâneo. Johnny então, seria uma metáfora de como se re-perspectivar o homem para além do próprio homem pois flerta com o monstro, o desconhecido, o estranho. Outra indagação diz respeito a concepção de um novo inconsciente, o falasser ou corpo falante. Corpo atravessado pela linguagem e tomado pelo sintoma. Sintoma não no sentido de uma clinica psicanalítica, mas no sentido de uma clinica da cultura e dos seus respectivos corpos. Portanto, este trabalho pretende analisar os hibridismos que se colocam na obra de Chris Cunningham através da interlocução que se faz entre vídeo e cinema pelo ponto de vista da linguagem e do cinema de autor e, sobre corpos, pela representacao do corpo freak e como ele pode ser experimentado pelo viés do unheimlich freudiano, no qual a parceria familiar e não-familiar fazem laço. Desse emaranhado todo, espera-se poder encontrar algum eco de modo a se refletir sobre atravessamentos de linguagens e corpos na produção de imagens audiovisuais que marcam o discurso contemporâneo.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean-Claude. O autor no Cinema. São Paulo: Brasiliense, 1994.
    BUTLER, Judith. Bodies that Matter: On the Discursive Limits of ́Sex‘. New York and London: Routledge, 1993.
    FLUSSER, Vilem e BEC, Louis. Vampyroteuthis Infernalis. Sao Paulo: Annablume, 2011
    FREUD, Sigmund. O Estranho. In Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, volume XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. pp. 237-269
    MACHADO, Arlindo. A Televisão Levada a Serio. São Paulo: Editora Senac, 2000.
    MILLER, Jacques-Alain. O osso de uma analise + o inconsciente e o corpo falante. Rio de Janeiro, Zahar: 2015.
    SANTAELLA, Lúcia. Corpo e Comunicação – Sintoma da Cultura, São Paulo: Paulus, 2004

    SANTAELLA, Lúcia. Culturas e artes do pós-humano – Da Cultura das mídias à cibercultura, São Paulo: Paulus, 2003.

    SHAVIRO, Steven. The Erotic Life of Machines, in Parallax 8.4 (October/December 2002): 21-31