Ficha do Proponente
Proponente
- Roberto Tietzmann (PUCRS)
Minicurrículo
- Roberto é professor e pesquisador do programa de pós-graduação em comunicação social da PUCRS. Concluiu doutorado em comunicação social pela PUCRS (2010) onde estudou efeitos visuais, montagem e narrativa cinematográfica através dos filmes de King Kong. É professor desde 1999, lecionando disciplinas relacionadas a audiovisual, design e tecnologia. Pesquisa temas relacionados a imagem em movimento, cultura e tecnologia. Coordena o grupo de pesquisa ViDiCa – Cultura Digital Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- O legado do cinema como meio de instrução nos tutoriais na internet
Resumo
- Tutoriais em vídeo são um dos três gêneros de conteúdo audiovisual mais assistidos na internet, segundo um relatório da Pew Internet Research (2013). Nesta comunicação questionamos o quanto estes conteúdos são tributários da produção de filmes informativos de não-ficção nas primeiras décadas do cinema, apontando rupturas tecnológicas e temáticas no contemporâneo e sublinhando uma continuidade de registro, racionalização e retórica na construção destes pequenos filmes.
Resumo expandido
- Tutoriais em vídeo são um dos três gêneros de conteúdo audiovisual mais assistidos na internet, segundo um relatório da Pew Internet Research (2013). Numerosos exemplos de culinária, beleza pessoal e outras instruções a respeito de diversos temas expressam uma estética contemporânea do audiovisual online. Nesta comunicação questionamos o quanto estes conteúdos são tributários da produção de filmes informativos de não-ficção nas primeiras décadas do cinema, bem como sugerindo possíveis pontos de ruptura e inovação com os exemplos recentes.
Esta comunicação é fruto do projeto de pesquisa “A estética comunicacional da instrução autônoma – tutoriais online como um formato audiovisual contemporâneo” desenvolvido na PUCRS entre 2015 e 2016, incorporando conteúdos coletados por Ellen Baldissera, bolsista PIBIC / FAPERGS.
No começo do cinema, como coloca Saettler (2004), a novidade do meio transformava quase qualquer imagem em entretenimento. Embora muitos filmes —mesmo ficcionais— fossem entendidos como informativos, ainda era emergente seu uso educacional ou instrucional. De acordo com Alexander (2014) e Gaycken (2015) catálogos de filmes educacionais lançados a partir de 1907 foram responsáveis por iniciar a aproximação com escolas e instituições de ensino na Europa e Estados Unidos, um movimento que acabou por atrair a atenção de Thomas Edison que em 1913 afirmou “Livros em breve estarão obsoletos nas escolas. Estudiosos logo serão instruídos pela visão. É possível ensinar qualquer ramo do conhecimento humano pelos filmes”.
Hediger e Vonderau (2009) afirmam que três eixos que se estabelecem de forma regular nos gêneros educativo e instrucional a partir dali: o registro (a apropriação da câmera como escrita de algo não-ficcional), a racionalização (a ideia de segmentação das explicações de maneira sequencial) e a retórica (a busca da clareza, da atenção e da economia de tempo). Estes eixos são reconhecíveis nos tutoriais online contemporâneos que, argumentamos, são descendentes dos filmes informacionais e instrucionais do começo do século XX, ainda que demonstrando continuidades e rupturas com eles.
Em busca de vínculos com o contemporâneo foi feito um levantamento na imprensa sobre informações publicadas a respeito de tutoriais. Foram encontradas e analisadas 168 menções sobre o assunto no Acervo da Folha de São Paulo a partir de abril de 1990. Nas primeiras, ao longo da década de 90, a temática predominante era de auto-instrução vinculada ao uso de computadores pessoais, distribuídas em fitas VHS e anunciadas como um diferencial competitivo na publicidade destes produtos, que prometiam uma agilidade maior e custo menor do que um curso presencial.
De 2000 até 2005 observou-se um período de transição, com o abandono dos suportes físicos e o aparecimento de tutoriais sobre variedades em paralelo aos que continuavam a tematizar a informática. O panorama contemporâneo de distribuição online se desenha a partir de 2006 com a popularização de blogs pessoais em vídeo e a subsequente formação de canais no Youtube e similares com o deslocamento de temáticas dos tutoriais em direção ao cotidiano. Tutoriais deixam de ser diferenciais e passam a ser algo pressuposto, com a auto-instrução acompanhando este movimento.
Continuam a ser constantes ao longo deste período os eixos mencionados anteriormente, com a predominância do registro de demonstrações do tema abordado, sua apresentação em etapas progressivas e da busca de uma clareza na exposição, mantendo assim um elo de ligação com os filmes informativos e instrucionais dos pioneiros. No entanto, além da mudança de suporte tecnológico, estes conteúdos instrucionais se afastaram do contexto escolar organizado, vinculando-se a um repertório de curiosidades, necessidades cotidianas e narcisismos variados, um reflexo da segmentação crescente dos meios audiovisuais.
Bibliografia
- EDISON, Thomas. A Evolução do filme cinematográfico: VI olhando para o futuro com Thomas A. Edison. The New York Dramatic Mirror, Nova York, p. 24, 9 de julho 1913.
GAYCKEN, Oliver. Devices of curiosity: early cinema and popular science. 1. ed. Inglaterra: Oxford University Press, 2015. 272 p.
LEÓN, Bienvenido. O documentário de divulgação científica. Portugal: Cine-Clube Avianca de Avanca, 2001. 174 p.
Purcell, Kirsten. Online Video 2013. Washington D.C., Pew Internet Research, 2013. Disponível online em http://pewinternet.org/Reports/2013/Online-video, acesso online em 10/05/2016.
SAETTLER, Paul. The evolution of american educational technology. Califórnia: Information Age Publishing Inc. (IAP), 2004. 573 p.
VONDERAU, Patrick; HEDIGER, Vinzenz. Films that work: Industrial film and the productivity of media. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2009. 496 p.