Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Matheus José Pessoa de Andrade (UFPB)

Minicurrículo

    Matheus Andrade é professor de Fotografia Cinematográfica do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal da Paraíba. Mestre em linguística, graduado em Rádio e TV. Publicou os livros Rec: uma iniciação à filmagem (Editora Ideia, 2013) e O sertão é coisa de cinema (Marca de Fantasia, 2008). Documentarista, realizou vários trabalhos, entre eles Eu sou Maria (doc, 2014), Vírus (2009) e Uma Flor na Várzea (2006). Áreas de interesse: fotografia cinematográfica, documentário e videoclipe.

Ficha do Trabalho

Título

    Fotografia cinematográfica: as tramas do cinema documentário

Resumo

    Nossa proposta aponta para o trabalho de fotografia cinematográfica no filme documentário. Para lidar como o mundo real, o documentarista cria estratégias de filmagem a fim de abordar determinados assuntos. Contudo, diante de mecanismos censores, o trabalho de gravação está submetido a um jogo político de negociação e controle, pois nem tudo pode ser filmado. Destacamos, assim, o método de filmagem de dois filmes brasileiros capazes de oportunizar o acesso a informações reguladas.

Resumo expandido

    Nosso trabalho tem como proposta discutir características inerentes à fotografia cinematográfica no filme documentário, mirando, mais precisamente, no processo de captura das imagens. Tecnicamente, os princípios da fotografia do documentário são mais simples que o filme de ficção. Entretanto, ao abordar o mundo real, o cineasta defronta-se com circunstâncias regulatórias de suas gravações, pois, no geral, a linguagem é constitutiva das interdições discursivas, ou seja, ninguém pode falar o que quer, onde e quando quiser. Existem posições que delegam o discurso e podem dizer. Outras não. Na mídia, os mecanismos de controle da produção simbólica são denominados de censura, existentes em formas variadas, tais como: jurídica, política, econômica, cultural, educativa, afetiva etc. Nesse contexto, nem tudo pode ser filmado. O diretor do cinema documentário vive circunstâncias que demarcam esse lugar de barganha dos sentidos. Para capturar suas imagens, o documentarista vale-se de estratégias para garantir o privilégio de se chegar a determinados assuntos, de forma autorizada. delegando funções de fotógrafo para si mesmo ou para outros sujeitos com a câmera. São manobras de resistência no âmago da imagem capazes de colocar informações politicamente sonegadas em circulação. Compreendemos como um gênero que opera com os silêncios da grande mídia, o qual articula dispositivos para um jogo enunciativo pelos sentidos. Para tanto, observamos os filmes O prisioneiro da grade de ferro – autorretratos (Paulo Sacramento, 2004) e Doméstica (Gabriel Mascaro, 2012). Ambos são obras cujos dispositivos demonstram as estratégias de filmagem e seu afrontamento com os assuntos. No primeiro filme, os detentos fazem uma oficina de vídeo e passam um final de semana com as câmeras no Carandiru; o segundo entrega câmeras nas mãos de adolescentes para filmar suas empregadas em casa. Tais propostas indicam, de início, as tramas da filmagem do cinema documentário. Analisamos os métodos como caminhos peculiares para o acesso aos níveis de informação posto na tela. Entendemos a fotografia cinematográfica do documentário, portanto, como um processo de negociação de sentidos, um ato político fundamentado nas relações de poder expressas nas práticas discursivas dos filmes, em suas visibilidades e dizibilidades.

Bibliografia

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    RAMOS, Fernão P. Mas afinal… o que é mesmo documentário? São Paulo: Editora Senac, 2008.