Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    GEÓRGIA CYNARA COELHO DE SOUZA (USP)

Minicurrículo

    Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP. Graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás-UFG (2005), especialista em Cinema e Educação pelo Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás (2010) e mestre em Comunicação/Mídia e Cultura pela UFG (2012). Desenvolve pesquisa sobre a música no cinema brasileiro contemporâneo. É docente titular do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), nas disciplinas de Produção Sonora.

Ficha do Trabalho

Título

    O compositor-personagem no cinema brasileiro: André Abujamra

Resumo

    Reflexão sobre o compositor no processo de realização cinematográfica: sua inserção na equipe; a interação com outros profissionais; as principais etapas de seu trabalho; a integração de sua trilha musical ao conjunto de procedimentos sonoros e visuais do cinema, até a finalização do filme. Como estudo de caso, abordaremos o percurso André Abujamra, um dos compositores mais recorrentes nos créditos de longas-metragens de ficção produzidos no país a partir da Retomada do cinema brasileiro.

Resumo expandido

    Até que o nome do compositor apareça nos créditos de um filme, é comum que boa parte de sua ideia original tenha sido alterada pelas sugestões de outros profissionais da equipe. No cinema, a música não é a obra final e não constitui uma obra de arte independente, lembra Giorgetti (2008). Sendo um dos elementos sonoros que comporá, juntamente com os demais sons e elementos visuais, a narrativa fílmica, a música já nasce orientada – pelo roteiro, pela fotografia –, e com as colaborações do produtor, editor de som, montador e, principalmente, do diretor, que assume a responsabilidade pelas decisões artísticas.

    Embora a assinatura da música original de um filme seja atribuída ao compositor, ela é proveniente de um conceito estabelecido por outrem, a partir do qual o músico compõe. A clareza no diálogo com o compositor, aliada à compreensão da linguagem musical e sua importância por parte do diretor, tende a contribuir para a construção de uma relação intrínseca entre a música e o filme.
    Há, neste processo, uma constante negociação entre a liberdade criativa do músico e o projeto artístico do diretor, na qual interferem aspectos como a notoriedade artística, o conhecimento técnico, as relações políticas e interpessoais estabelecidas na área cinematográfica e a capacidade de argumentação de um e de outro.

    Abordaremos, em especial, as experiências do músico popular André Abujamra. Com formação erudita em Música não concluída, grande domínio da tecnologia digital de áudio e há mais de 20 anos compondo para filmes de vários gêneros, estilos, tamanhos, equipes e orçamentos, pode-se afirmar que o compositor especializou-se nessa função, aprendendo, ao longo de sua prática artística e profissional, as especificidades que a música adquire quando inserida em um filme e tensionando as características dos scores tradicionais, seja optando por timbres artificiais produzidos em computador graças à tecnologia digital, seja misturando-os à música popular de diferentes origens, acessível em coleções de arquivos sonoros disponíveis na internet.

    A recorrência do nome do artista nos créditos de longas-metragens brasileiros a partir da segunda metade da década de 1990 e a consequente visibilidade adquirida pelo seu trabalho face a outros diretores em atividade no país fizeram surgir parcerias entre Abujamra e alguns cineastas importantes além de Anna Muylaert, como Beto Brant, Marcelo Masagão, Aluizio Abranches e Ricardo Elias. O estabelecimento dessas parcerias, aliado ao reconhecimento da crítica e do público, também contribuiu para a carreira do compositor no sentido de confirmar sua permanência no ambiente cinematográfico nacional contemporâneo.

    Um traço interessante do percurso do artista que pretendemos abordar é o fato de, desde o início de sua trajetória como compositor no cinema, Abujamra negociar uma aparição como figurante. Assim o compositor começou a ser creditado, também como personagem, em filmes e telenovelas. Quando perguntado sobre os motivos dessa negociação, o artista é direto: “Eu adoro aparecer! Eu sou egocêntrico, eu sou artista, eu gosto de me exibir!” (ABUJAMRA, 2016). Dentre os personagens interpretados por ele no cinema, um se destaca por ter saído da ficção e ganho vida própria, chegando, inclusive, a gravar discos e assinar músicas integrantes de trilhas sonoras de várias obras cinematográficas. Trata-se de Fat Marley, personagem “batizado” por Abujamra e criado por Anna Muylaert para Durval Discos (Anna Muylaert, 2003).

    A construção da carreira de Fat Marley, bem como a negociação para figuração e a participação de fonogramas de seus discos em filmes, nos leva a crer que Abujamra busca uma visibilidade que extrapola sua função de compositor de trilha musical para cinema, uma vez que a música, não sendo a obra final, não deve desviar a atenção do espectador a ponto de desconectá-lo da experiência cinematográfica. Analisaremos aqui, portanto, o discurso do compositor sobre o seu próprio ofício no cinema.

Bibliografia

    ABUJAMRA, André. André Abujamra: depoimento [mar. 2016]. Entrevistadora: Geórgia Cynara. São Paulo: entrevista inédita concedida para a pesquisa, 2016.

    BERCHMANS, Tony. A música do filme: tudo o que você gostaria de saber sobre a música de cinema. São Paulo: Escrituras, 2006.

    BUSCOMBE, Edward. Ideias de autoria. In: RAMOS, Fernão (org.). Teoria contemporânea do cinema: pós-estruturalismo e filosofia analítica. São Paulo: SENAC, 2004, vol. 1, p. 281-294.

    GIORGETTI, Mauro. Da natureza e possíveis funções da Música no Cinema. Disponível em: . Acesso em: 19 julho 2014.

    GORBMAN, Claudia. Unheard Melodies: Narrative Film Music. Bloomington: Indiana University Press, 1987.

    MATOS, Eugênio. A arte de compor música para o cinema. Brasília: Editora Senac, 2014.

    SERAFIM, José Francisco (org). Autor e autoria no cinema e na televisão. Salvador: EDUFBA, 2009.