Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Arthur Autran Franco de Sá Neto (UFSCar)

Minicurrículo

    Professor da UFSCar desde 2002. É bolsista PQ Nível 2 do CNPq. Doutorou-se no Instituto de Artes da Unicamp. Publicou os livros Alex Viany: crítico e historiador (2003) e O pensamento industrial cinematográfico brasileiro (2013), bem como colaborou na Enciclopédia do cinema brasileiro (orgs. F. Ramos e L. F. Miranda, 2012) e no Diccionario del cine iberoamericano (org. E. C. Rodicio, 2011). Dirigiu os documentários Minoria absoluta (1994, cm) e A política do cinema (2011, lm).

Ficha do Trabalho

Título

    NAMORANDO O BRASIL: O CASO DE ROMANCE NO RIO

Seminário

    Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais

Resumo

    Essa comunicação visa discutir Romance no Rio (Caminito de gloria, Luis Cesar Amadori, 1939), película da Argentina Sono Film estrelada por Libertad Lamarque. O filme narra a história de Marta Rinaldi, uma pobre camareira que no Brasil é confundida com sua patroa, uma cantora argentina de destaque.
    A apresentação analisará Romance no Rio em dois sentidos: o primeiro liga-se ao modo como a cultura brasileira é representada no filme; já o segundo diz respeito à circulação do película no Brasil.

Resumo expandido

    Essa proposta é relativa a uma análise do filme argentino Romance no Rio (Caminito de gloria, Luis Cesar Amadori, 1939), estrelado por Libertad Lamarque e Roberto Airaldi, no qual a atriz e cantora interpreta o conhecido tango Caminito. A fita narra a história de uma moça pobre chamada Marta Rinaldi (Libertad Lamarque) que pretende seguir a carreira artística, mas tudo o que consegue é ser a camareira da grande cantora Luisa Maraval (Emperatriz Carvajal). Por capricho a cantora desiste na última hora de embarcar para uma temporada de apresentações no Brasil. Marta, que já estava no navio que as conduziria, acaba vindo para o Rio de Janeiro e é confundida com Luisa, fazendo muito sucesso nas apresentações. Para além disso, Marta encontra um grande amor no navio, coincidentemente o produtor do espetáculo Dario Ledesma (Roberto Airaldi). Mas eis que no Brasil um incêndio deixa Marta cega e ela resolve voltar sem avisar a ninguém, Dario desesperado retorna para a Argentina, reencontra a amada, colabora na sua cura e eles finalmente ficam juntos.
    Trata-se de uma produção da Argentina Sono Film, então a principal produtora do país vizinho, em um momento no qual a cinematografia argentina estava em plena “época de ouro” – para utilizar a expressão consagrada pelo historiador Domingo di Núbila. O filme teve um orçamento alto, mas o investimento tinha o seu retorno garantido, pois se tratava de uma película estrelada por Libertad Lamarque (ESPAÑA, 1984), que anteriormente fizera grande sucesso entre o público latino-americano em Ayúdame a vivir (José A. Ferreyra, 1936), Madreselva (Luis Cesar Amadori, 1938) e Porta fechada (Puerta cerrada, Luis Saslavsky, 1939).
    A proposta em tela buscará analisar Romance no Rio em dois sentidos: o primeiro se liga ao modo como o Brasil e a cultura brasileira são representados no filme; já o segundo diz respeito à divulgação e à exibição do filme no Brasil e sua repercussão junto à nossa crítica cinematográfica.
    Em relação ao primeiro ponto, note-se que dos 73 minutos do filme quase quinze transcorrem no Brasil, índice indicativo da importância da parte que se passa diegeticamente no Rio de Janeiro. As apresentações de sucesso de Marta fazendo-se passar por Luisa Maraval dominam esse trecho da película, com destaque para o momento no qual Luisa / Marta canta A jardineira vestida com roupas que remetem explicitamente a Carmem Miranda – o que foi bastante explorado quando do lançamento do filme entre nós. As apresentações ocorrem em um teatro cuja esplêndida cenografia foi inspirada no Cassino da Urca e que ficou a cargo Raúl Soldi (ESPAÑA, 1980). É de se notar que em Três ilhados em Paris (Tres anclados em París, Manuel Romero, 1938), filme da produtora Lumiton, também havia a presença da música brasileira, mas desta feita com as Irmãs Pagãs cantando peças do nosso cancioneiro.
    Quanto ao segundo ponto, já consegui estabelecer que o filme estreou no cine Ópera, em São Paulo, e no Palácio, no Rio de Janeiro, em janeiro de 1940 por meio da Cinesul – distribuidora que trabalhou no Brasil com as produções da Argentina Sono Film. Para além do título da fita no mercado brasileiro remeter explicitamente ao Rio de Janeiro, produtora e distribuidora tiveram o cuidado de filmar uma espécie de homenagem ao país na qual Libertad Lamarque dedicava Romance no Rio aos espectadores brasileiros. Tudo isso demonstra o grau de atenção com que a película foi lançada entre nós. Em relação à crítica, Romance no Rio mereceu a cotação “Bom” de um crítico anônimo da revista Cinearte, para quem o filme destacava o cinema argentino.
    Por meio dessa proposta de comunicação pretende-se compreender quais as estratégias narrativas e comerciais por meio das quais os produtores argentinos buscaram o acesso ao público brasileiro, justamente no momento em que a cinematografia argentina começava não apenas a ter sucesso internamente como também nas telas de toda a América Latina hispânica.

Bibliografia

    AUTRAN, Arthur. Sonhos industriais: o cinema dos estúdios na Argentina e no Brasil nos anos 1930. Contracampo, Niterói, n. 25, dez. 2012. P 117-132.
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    PARANAGUÁ, Paulo Antônio. Le cinéma en Amérique Latine – Le miroir éclaté. Paris: L´Harmattan, 2000.