Ficha do Proponente
Proponente
- Cristiane da Silveira Lima (UEM)
Minicurrículo
- Professora do curso de Comunicação e Multimeios da Universidade Estadual de Maringá (PR). Doutora em Comunicação Social (PPGCOM-UFMG). Realizou estágio doutoral no Départment d’Histoire de l’Art et d’Études Cinématographiques, da Université de Montréal (Canadá), no âmbito do laboratório de pesquisa La Création Sonore, por meio do Programa Doutorado Sanduíche no Exterior da CAPES. Bacharel em Radialismo pela UFMG, com formação complementar em Música pela Fundação de Educação Artística.
Ficha do Trabalho
Título
- Jards: reverberações entre som e imagem
Seminário
- Teoria e Estética do Som no Audiovisual
Resumo
- Propomos uma breve análise das reverberações mútuas entre os procedimentos de montagem, mixagem e desenho de som do documentário Jards (Eryk Rocha, 2012), que acompanha as gravações do álbum homônimo do compositor e intérprete Jards Macalé. A nossa hipótese é de que Jards é um ensaio-poético-musical que possui forte afinidade plástica com o fenômeno abordado, proporcionando uma experiência rica (em ritmos, dinâmicas e intensidades) ao espectador.
Resumo expandido
- Propomos uma análise do filme Jards (Eryk Rocha, 2012), a fim de perceber de que maneira a escritura do filme articula componentes imagéticos e sonoros, sobretudo por meio dos procedimentos de montagem, mixagem e desenho de som. O filme acompanha as performances musicais de Jards Macalé em estúdio, ao lado de alguns parceiros (como Cristóvão Bastos, Adriana Calcanhoto, Luiz Melodia, Ava Rocha, Roberto Frejat, Thaís Gulin, dentre outros). Estas situações são cotejadas com outras imagens, algumas delas em super 8, tomadas pelo próprio músico e protagonista. Filmado na maior parte do tempo com uma câmera na mão que se coloca bem próxima ao corpo do músico enquanto canta e toca, o filme parece querer dançar ao sabor da música, como reivindica o diretor, em entrevista à RollingStone – UOL: “o filme nasce da dança entre música e cinema” (ANTUNES, 2013, s/p).
Realizado na parceria entre Aruac Filmes, a Biscoito Fino e o Canal Brasil, podemos afirmar com segurança que o filme se distingue fortemente de grande parte dos documentários musicais televisivos, que se configuram como retratos em diálogo com os músicos (LIMA, 2015). Não se trata aqui de mais um filme permeado pelas imagens de arquivo dos shows, intercaladas com entrevistas com especialistas da área e com o próprio protagonista. Existe um interesse maior na performance musical enquanto ela se dá diante da câmera, isto é, uma atenção ao presente da filmagem e aquilo que surge a partir desse encontro com o corpo que trabalha a música – e que nela é trabalhado.
Se nos interessamos pelo encontro entre montagem, mixagem e desenho de som do filme, é porque notamos que, uma vez filmado este encontro entre câmera/microfones/equipe e personagem/fenômeno musical abordado, as etapas de pós-produção do filme são fundamentais para experiência que se proporciona ao espectador. A montagem faz ressaltar uma série de variações na imagem (obtidas inicialmente na tomada), em termos de ritmos, cores e texturas, que parecem querer reverberar as qualidades plásticas da música que é performatizada em cena. São particularmente notáveis as associações produzidas entre as variações de cor e luz e as intensidades, dinâmicas e timbres da voz e instrumentos no momento em que determinadas peças são executadas, como é o caso de Burninght night, logo no início do filme. De modo semelhante, é igualmente notável o trabalho de som que o filme apresenta, rico e nuançado, com sonoridades pouco óbvias e em profundo diálogo com os componentes visuais. Lembramos que as imagens foram produzidas por Eryk Rocha (que possui uma relação afetiva e próxima de Jards Macalé), Miguel Vassy (diretor de fotografia) e também Joaquim Castro (que assina a montagem do filme e a edição de som, esta em parceria com Edson Secco que, por sua vez, assina o desenho de som e a mixagem do filme). O som direto é de Renato Vallone.
Nas palavras do diretor, Jards se configura como um ensaio-poético-musical. Com uma análise mais detida da escritura do filme, pretendemos verificar se nossa hipótese se confirma: a de que o filme possui uma forte afinidade plástica com o fenômeno abordado, como verificamos em outros documentários que buscaram filmar o trabalho de músicos (LIMA, 2015). De todo modo, já podemos afirmar que o retrato feito de Jards Marcalé nos permite vislumbrar um fazer musical que alterna momentos de grande vitalidade e outros marcados demais calmaria, temperados pela melancolia que se esboça no rosto e comportamento do protagonista. Como o movimento das ondas do mar, que ora quebram pesadas na praia, ora ondulam tranquilas – mas que sempre despertam certo encantamento naqueles que se propõem a parar para mirá-las e escutá-las.
Bibliografia
- ANTUNES, Pedro. “Documentário sobre Jards Macalé ‘nasce da dança entre música e cinema’, diz diretor”. RollingStone, Portal UOL; 04 de maio de 2013. Disponível em: http://rollingstone.uol.com.br/noticia/o-filme-nasce-da-danca-entre-musica-e-cinema-diz-o-diretor-eryk-rocha-sobre-o-documentario-de-jards-macale. Acesso em: 15/05/2016.
CAMPAN, V. L’écoute filmique: écho du son en image. Paris: Presses Universitaires de Vincennes, 1999.
GOMES, Juliano. “O som e o sentido. Jards, de Eryk Rocha (Brasil, 2012)”. Revista Cinética, out./2012.Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/jards.htm. Acesso em: 15/05/2016.
LIMA, C. S. Música em cena: à escuta do documentário brasileiro. Belo Horizonte, PPGCOM-FAFICH/UFMG, 2015. (Tese de doutorado).
ROCHA, Eryk. Entrevista concedida ao Programa Perfil & Opinião. Instituto de radiodifusão Educativa da Bahia. 03 de Dezembro de 2012. Disponível em: http://www.irdeb.ba.gov.br/tve/catalogo/media/view/3967. Acesso em: 15/05/2016.