Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabrizio Di Sarno (FATEC-TATUÍ/CEUNSP)

Minicurrículo

    Formado em Composição e mestre em Comunicação Audiovisual. Professor na FATEC-TATUÍ e CEUNSP. Gravou, produziu e tocou com um grande número de bandas de Rock, MPB e POP. Já tocou e gravou com bandas importantes como: Angra, Paul di Anno, Shaman, Bittencourt Project, Karma, Edu Ardanuy etc. Já compôs trilhas sonoras para marcas como: Natura, Governo Federal, Guaraná Antártica, Laboratórios Fleury, Ambev, Justiça Federal, Caixa Econômica Federal, Banco Bradesco, Revista Playboy, Odebrecht etc.

Ficha do Trabalho

Título

    Aspectos inovadores da Construção Narrativa de Som em Interestelar

Resumo

    Esta pesquisa aborda alguns aspectos da construção narrativa que o som promove no filme Interestelar (Christopher Nolan, 2014). A película apresenta propostas inovadoras de mixagem e edição de som (ambas concorrentes ao Oscar) que desconstroem os paradigmas sonoros usuais do cinema vococêntrico e verbocêntrico. O objetivo deste trabalho é expor as razões estéticas e tecno-expressivas que levaram o diretor e a equipe de som a produzir tais inovações que renderam, ao mesmo tempo, tanto críticas quanto elogios.

Resumo expandido

    Dirigido pelo britânico Christopher Nolan, o filme Interestelar foi lançado em 2014 tendo como principal apelo comercial a promessa de uma incrível experiência audiovisual. Com este intuito o diretor, já conhecido por filmes como Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012), e A Origem (Inception, 2010), buscou frisar nas entrevistas de promoção do filme que filmou no formato IMAX (produzido pela empresa canadense IMAX Corporation, conhecido por oferecer imagens maiores em tamanho e resolução do que os formatos convencionais). Além disso, Nolan detalhou diversos processos utilizados na produção dos efeitos visuais de Interestelar, vencedor do Òscar nesta categoria.
    Para que o som não ficasse aquém das imagens, Nolan contratou uma experiente equipe que contou com o Sound Designer Richerd King, e os engenheiros de mixagem Gregg Landaker e Gary Rizzo, além de contar com o famoso compositor alemão Hanz Zimmer para a trilha musical. A equipe já havia trabalhado no filme A Origem, que rendeu o Òscar de edição de som para King e o de mixagem para Rizzo, em companhia de Ed Novick e Lora Hirschiberg e Zimmer também recebeu uma indicação ao prêmio pela trilha musical. Escorado por este time, o diretor se preocupou em abordar os processos de edição e mixagem sob um novo paradigma em Interestelar, o que lhe rendeu críticas e elogios, mas acima de tudo, fez com que o público se atentasse para a mixagem de som do filme, processo que na maioria dos casos passa desapercebido.
    Afirmar que, no cinema, o som é maioritariamente vococêntrico significa lembrar que, em quase todos os casos, favorece a voz, evidencia-se e destaca-a dos outros sons. É a voz que, na rodagem, é captada na tomada de som, que é quase sempre, de fato, uma tomada de voz; e é a voz que se isola na mistura, como um instrumento solista, do qual os outros sons, música e ruídos, seriam apenas o acompanhamento (CHION, 2011, p.13).

    Como constata Chion, o vococentrismo é uma característica praticamente unânime no cinema comercial atual. Chion continua afirmando que: “Não se trata da voz dos gritos e gemidos, mas da voz enquanto suporte da expressão verbal. E aquilo que se procura obter quando a captamos não é tanto a fidelidade acústica ao se timbre original, mas a garantia de uma inteligibilidade clara das palavras pronunciadas” (CHION, 2011, p.13).
    Na estreia de Interestelar, podemos conferir o resultado de uma proposta estética de som que subverte as regras acima apontadas por Chion. Em diversos momentos do filme, a mixagem de som enaltece a música ou os efeitos sonoros elevando-os acima das vozes, tornando alguns diálogos ininteligíveis aos ouvidos do público. Não se trata de momentos inexpressivos ou de diálogos secundários, mas de fato, diálogos chave para a absoluta compreensão do enredo. Não é de se surpreender, portanto, que as primeiras críticas se referissem ao fato de que a ininteligibilidade destes diálogos prejudicam a compreensão do enredo. De início, essa repercussão negativa refletiu de tal forma que algumas salas de cinema se sentiram na obrigação de avisar o público quanto ao bom funcionamento do seu sistema de som, deixando à cargo da mixagem do filme (creditada ao próprio Nolan) quaisquer problemas encontrados durante a compreensão das vozes. É o caso do cartaz exibido pela rede Cinemark, encontrado em fotos publicadas em sites como o Slashfilm (http://www.slashfilm.com/interstellar-sound-issues-update/ – acesso em 16/05/2016).
    Acreditando que a ininteligibilidade observada foi intencional, esta pesquisa busca expor as razões estéticas e tecno-expressivas que levaram o diretor e a equipe de som a produzir tais inovações que renderam, ao mesmo tempo, tanto críticas quanto elogios.

Bibliografia

    ALTMAN, Rick (org.). Sound theory – Sound practice. New York: Routledge, 1992.
    __________. (org.). Yale French Studies – Cinema/Sound. New Haven: Yale University, n°60, 1980.
    BURLINGAME, Jhon. Sound and Vision – Sixty Years of Motion Picture Soundtracks. New York: Billboard Books, 2000.
    CHION, Michel. A Audiovisão: Som e Imagem no Cinema. Lisboa: Texto&Grafia, 2011.
    _________. Film: a Sound Art. New York: Columbia University Press, 2009.
    GORBMAN, Claudia. Unheard melodies – narrative film music. Blommington: Indiana University Press, 1987.
    ROEDER, Juan G. Introdução à Física e Psicofísica da Música. São Paulo: EDUSP, 1998.
    SIDER, Larry et al (org). Soundscape – The school of sound lectures 1998-2001. London: Wallflower, 2003.
    SONNENSCHEIN, David. Sound Design: The Expressive Power of Music, Voice and Sound Effects in Cinema. Los Angeles: Michael Wiese, 2001.
    WEIS, Elisabeth, BELTON, John (org.). Film Sound: theory and practice. New York: Columbia University Press, 1985.