Ficha do Proponente
Proponente
- Fabrizio Di Sarno (FATEC-TATUÍ/CEUNSP)
Minicurrículo
- Formado em Composição e mestre em Comunicação Audiovisual. Professor na FATEC-TATUÍ e CEUNSP. Gravou, produziu e tocou com um grande número de bandas de Rock, MPB e POP. Já tocou e gravou com bandas importantes como: Angra, Paul di Anno, Shaman, Bittencourt Project, Karma, Edu Ardanuy etc. Já compôs trilhas sonoras para marcas como: Natura, Governo Federal, Guaraná Antártica, Laboratórios Fleury, Ambev, Justiça Federal, Caixa Econômica Federal, Banco Bradesco, Revista Playboy, Odebrecht etc.
Ficha do Trabalho
Título
- Aspectos inovadores da Construção Narrativa de Som em Interestelar
Resumo
- Esta pesquisa aborda alguns aspectos da construção narrativa que o som promove no filme Interestelar (Christopher Nolan, 2014). A película apresenta propostas inovadoras de mixagem e edição de som (ambas concorrentes ao Oscar) que desconstroem os paradigmas sonoros usuais do cinema vococêntrico e verbocêntrico. O objetivo deste trabalho é expor as razões estéticas e tecno-expressivas que levaram o diretor e a equipe de som a produzir tais inovações que renderam, ao mesmo tempo, tanto críticas quanto elogios.
Resumo expandido
- Dirigido pelo britânico Christopher Nolan, o filme Interestelar foi lançado em 2014 tendo como principal apelo comercial a promessa de uma incrível experiência audiovisual. Com este intuito o diretor, já conhecido por filmes como Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012), e A Origem (Inception, 2010), buscou frisar nas entrevistas de promoção do filme que filmou no formato IMAX (produzido pela empresa canadense IMAX Corporation, conhecido por oferecer imagens maiores em tamanho e resolução do que os formatos convencionais). Além disso, Nolan detalhou diversos processos utilizados na produção dos efeitos visuais de Interestelar, vencedor do Òscar nesta categoria.
Para que o som não ficasse aquém das imagens, Nolan contratou uma experiente equipe que contou com o Sound Designer Richerd King, e os engenheiros de mixagem Gregg Landaker e Gary Rizzo, além de contar com o famoso compositor alemão Hanz Zimmer para a trilha musical. A equipe já havia trabalhado no filme A Origem, que rendeu o Òscar de edição de som para King e o de mixagem para Rizzo, em companhia de Ed Novick e Lora Hirschiberg e Zimmer também recebeu uma indicação ao prêmio pela trilha musical. Escorado por este time, o diretor se preocupou em abordar os processos de edição e mixagem sob um novo paradigma em Interestelar, o que lhe rendeu críticas e elogios, mas acima de tudo, fez com que o público se atentasse para a mixagem de som do filme, processo que na maioria dos casos passa desapercebido.
Afirmar que, no cinema, o som é maioritariamente vococêntrico significa lembrar que, em quase todos os casos, favorece a voz, evidencia-se e destaca-a dos outros sons. É a voz que, na rodagem, é captada na tomada de som, que é quase sempre, de fato, uma tomada de voz; e é a voz que se isola na mistura, como um instrumento solista, do qual os outros sons, música e ruídos, seriam apenas o acompanhamento (CHION, 2011, p.13).
Como constata Chion, o vococentrismo é uma característica praticamente unânime no cinema comercial atual. Chion continua afirmando que: “Não se trata da voz dos gritos e gemidos, mas da voz enquanto suporte da expressão verbal. E aquilo que se procura obter quando a captamos não é tanto a fidelidade acústica ao se timbre original, mas a garantia de uma inteligibilidade clara das palavras pronunciadas” (CHION, 2011, p.13).
Na estreia de Interestelar, podemos conferir o resultado de uma proposta estética de som que subverte as regras acima apontadas por Chion. Em diversos momentos do filme, a mixagem de som enaltece a música ou os efeitos sonoros elevando-os acima das vozes, tornando alguns diálogos ininteligíveis aos ouvidos do público. Não se trata de momentos inexpressivos ou de diálogos secundários, mas de fato, diálogos chave para a absoluta compreensão do enredo. Não é de se surpreender, portanto, que as primeiras críticas se referissem ao fato de que a ininteligibilidade destes diálogos prejudicam a compreensão do enredo. De início, essa repercussão negativa refletiu de tal forma que algumas salas de cinema se sentiram na obrigação de avisar o público quanto ao bom funcionamento do seu sistema de som, deixando à cargo da mixagem do filme (creditada ao próprio Nolan) quaisquer problemas encontrados durante a compreensão das vozes. É o caso do cartaz exibido pela rede Cinemark, encontrado em fotos publicadas em sites como o Slashfilm (http://www.slashfilm.com/interstellar-sound-issues-update/ – acesso em 16/05/2016).
Acreditando que a ininteligibilidade observada foi intencional, esta pesquisa busca expor as razões estéticas e tecno-expressivas que levaram o diretor e a equipe de som a produzir tais inovações que renderam, ao mesmo tempo, tanto críticas quanto elogios.
Bibliografia
- ALTMAN, Rick (org.). Sound theory – Sound practice. New York: Routledge, 1992.
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BURLINGAME, Jhon. Sound and Vision – Sixty Years of Motion Picture Soundtracks. New York: Billboard Books, 2000.
CHION, Michel. A Audiovisão: Som e Imagem no Cinema. Lisboa: Texto&Grafia, 2011.
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GORBMAN, Claudia. Unheard melodies – narrative film music. Blommington: Indiana University Press, 1987.
ROEDER, Juan G. Introdução à Física e Psicofísica da Música. São Paulo: EDUSP, 1998.
SIDER, Larry et al (org). Soundscape – The school of sound lectures 1998-2001. London: Wallflower, 2003.
SONNENSCHEIN, David. Sound Design: The Expressive Power of Music, Voice and Sound Effects in Cinema. Los Angeles: Michael Wiese, 2001.
WEIS, Elisabeth, BELTON, John (org.). Film Sound: theory and practice. New York: Columbia University Press, 1985.