Ficha do Proponente
Proponente
- Fernando Gerheim (UFRJ)
Minicurrículo
- Fernando Gerheim é professor da UFRJ – ECO, professor do Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena (PPGAC) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV – UFRJ). Publicou Signofobia (Multifoco, 2012) e Linguagens inventadas – palavra imagem objeto: formas de contágio (Ed. Zahar, 2008). Realizou, entre outros, os filmes Salomé (2011), e Urubucamelô (2002). É entrevistado do livro Poesia e viedoarte (K. Maciel e R. Rezende. Rio de Janeiro: Circuito; Funarte, 2013).
Ficha do Trabalho
Título
- Zaumdata: videoperformance entre escrita e imagem
Seminário
- Cinema e literatura, palavra e imagem
Resumo
- A videoperformace Zaumdata (2015) foi criada contra o fundo de uma reflexão sobre os limites entre imagem e escrita. Entrecruzando videoarte, cinema e imagem numérica, a obra incorpora a própria tela à imagem, e torna a imagem, por sua vez, objeto. Além de apontar para esta dualidade, característica da arte do vídeo, Zaumdata incorpora a multiplicidade de telas da mídia contemporânea e o cinema como linguagem. Opõe a montagem eisensteniana a uma montagem benjaminiana, e amplia as possibilidades da montagem sequencial cinematográfica pela espacializacão, característica da montagem entre múltiplas janelas ou telas do vídeo. Com tablets presos ao rosto por toucas ninja e meias-calça, como máscaras, Zaumdata confronta Big-Data e poesia Zaum. No cruzamento entre videoarte, cinema e imagem numérica, o som pré-linguístico de um bebê permite refletir sobre o limiar entre imagem e linguagem e a concepção de escrita icônica de Anne-Marie Christin.
Resumo expandido
- A videoperformace Zaumdata (2015) foi criada contra o fundo de uma reflexão sobre os limites, convergências e divergências entre imagem e escrita. O trabalho é indissociável da pesquisa teórica sobre uma escrita fora da língua, ou não restrita à língua, que possa abarcar a imagem e, possivelmente, outras modalidades perceptivas e meios. É possível ver a incorporação que Zaumdata faz da tela enquanto elemento significativo como “pensamento de tela”, conceito de Anne-Marie Christin que define o pressuposto da imagem e, consequentemente, dos sinais gráficos que originam a escrita. Para se realizar, a escrita toma emprestado de um outro meio que lhe é estranho: a imagem. Essa heterogenidade congênita é apagada pela “civilização do alfabeto”, que privilegia a língua em detrimento de sua origem icônica.
Zaumdata, pelo contrário, torna a materialidade da tela parte da imagem, e converte esta em objeto. Tal indissociabilidade entre imagem e objeto pertence ao vídeo, que é algo diverso de uma nova modalidade dentro da categoria das imagens, como aponta com razão Philippe Dubois. O vídeo recupera assim o suporte que, segundo Christin, foi apagado da imagem pelo alfabeto. A imagem em Zaumdata transmite a própra tela. O retângulo com proporção 16:9 é destituído de imagens, mas nele são incrustadas 3 janelas – duas retangulares na parte superior e uma comprida e estreita na parte inferior -, transformando o espaço neutro e abstrato do quadro numa figura anímica, que sugere um rosto-tela com olhos e boca. O animismo cruza uma condição arcaica, mágica e mítica da imagem, com outra contemporânea, da imagem eletrônica.
Zaumdata aponta também para a presença ubíqua da imagem no mundo, em sua condição hipermidiática. Ao partir da concepção geral de “tela” como componente da imagem, chegou-se a um vídeo para toda e qualquer tela, para as telas em geral. Além do caráter videográfico propriamente dito, esse aspecto telemático, em que a imagem numérica se confunde com a idéia de mídia, compõe outra camada do trabalho. Pensar a imagem como objetualidade é pensá-la no presente.
Se a princípio as imagens que preenchem essas janelas são as do próprio sinal de vídeo, a estas somam-se imagens da luz refletida na água do rio, como traços luminosos de uma escrita fluida. À imagem do chiado televisivo, característica dos primórdios da videoarte, é acrescentada a da pura luz em movimento. Ambas, a do rio e a da estática, são um fluxo contínuo, como canais abertos por onde a imagem transcorre. Dirse-ia que são máscaras daquilo que passa, de toda transmissão. O primeiro transmite o próprio canal, o segundo, a própria luz em movimento, células respectivamente do vídeo e do cinema. Máscara eletro-cinemática. Transcorrer eletrônico e luminoso. A relação com o cinema vem confirmar aquela relação com a escrita, presente desde o início na motivação do trabalho, porque ela coloca, num segundo momento, como uma camada que se desdobra, a questão do sentido. Ou seja, da língua. E, com ela, a da montagem. Fruto da reflexão sobre os limites entre imagem e escrita, Zaumdata explora o cruzamento entre vídeo, imagem informática e cinema.
No cinema, a montagem está no centro da idéia de linguagem. Será analisada a teoria eisensteniana e proposta uma montagem benjaminiana. A partir da apropriação de momentos antológicos de montagem da história do cinema, Zaumdata explora as possibilidades de montagem pela espacialização do tempo, abertas pela multiplicidade de janelas e de telas próprias do vídeo e da video-instalação. À sequencialidade cinematográfica é acrescentada a sincronia, própria da montagem de vídeo. Com tablets presos ao rosto por toucas ninja ou meias-calça, o trabalho ganha mais outra camada, em que a imagem é pensada como performance, na sua relação com o corpo.
Bibliografia
- BELTING, Hans. Por uma antropologia da imagem. In Concinnitas, ano 6, volume 1, número 8, julho 2005. http://www.fnac.pt/Antropologia-da-Imagem-Hans-Belting/a802003
BENJAMIN, Walter – Questões introdutórias de crítica do conhecimento. In Origem do Drama Barroco Alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
DUBOIS, Phillipe – Cinema Vídeo, Godard. São Paulo: CosacNaify, 2004.
_______________ – A questão da “forma-tela”: espaço, luz, narração, espectador. In Narrativas Sensoriais (org. Osmar Gonçalves). Rio de Janeiro: Circuito, 2014.
EISENTEIN, Sergei – O Sentido do Filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
______________ – A Forma do Filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
SELIGMANN-SILVA, Márcio – Walter Benjamin e os sistemas de escritura. In A hitoriografia literária e as técnicas de escrita. Do manuscrito ao hipertexto. Org. Flora Sussekind e Tânia Dias. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa / Vieira & Lent, 2004.