Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Cleber Fernando Gomes (UNIFESP)

Minicurrículo

    Sociólogo, cursando mestrado acadêmico em História da Arte (cinema), na linha de pesquisa Imagem, Cidade e Contemporaneidade, no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP, com bolsa de pesquisa da FAPESP. Possui Pós-Graduação em Artes Visuais, Intermeios e Educação pela Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP, e Pós-Graduação em Estudios Culturales pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales/CLACSO/Argentina.

Ficha do Trabalho

Título

    Produção de bens culturais no Brasil: Pólo Cinematográfico de Paulínia

Resumo

    O Pólo Cinematográfico está localizado na cidade de Paulínia, no interior do Estado de São Paulo/Brasil. Foi inaugurado oficialmente no ano de 2008 e desde então já foi responsável pela produção de mais de 40 filmes brasileiros com repercussão nacional e internacional. Esse complexo cinematográfico brasileiro também sinaliza como uma potente área de criação, profissionalização e educação em bens culturais por que possui duas escolas de formação no campo do cinema, além de conter fenômenos políticos intermitentes.

Resumo expandido

    A cidade de Paulínia inaugurou o Pólo Cinematográfico no ano de 2008, se consolidando como um dos principais espaços para produções audiovisuais no país. A estrutura do Pólo Cinematográfico é composta por quatro estúdios, escritórios temporários, motor home (casa motorizada), e duas escolas para formação no campo do cinema. Esse complexo cinematográfico está localizado em uma área total de 2,5 milhões de m², tendo um orçamento total de R$ 2 bilhões previstos para sua conclusão até o ano de 2023; sua estrutura foi projetada para concentrar 18 km de monotrilho, 2 parques temáticos, 1 parque aquático, além de 5 hotéis. A construção parcial do Pólo, já serviu de base para produção de vários filmes com projeção nacional e internacional. Alguns dados estatísticos mostram que já foram investidos milhões de reais no complexo cinematográfico. Em um país, como o Brasil, no qual os investimentos em cultura são poucos e intermitentes, trata-se de uma experiência diferenciada cujos resultados precisam ser melhor compreendidos. Em Magenta (2012), observamos que o Pólo Cinematográfico de Paulínia/SP foi idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura com investimentos aproximados em mais de R$ 400 milhões de reais. Por meio de editais de fomento de produção audiovisual, já foram disponibilizadas cifras milionárias para produção de diversos filmes nacionais no Pólo Cinematográfico de Paulínia. No período de 2007 a 2010, foram distribuídos R$ 38,8 milhões para realização de 42 filmes no Pólo de Paulínia, alguns destes com sucessos de bilheteria. No Informe Anual da Agência Nacional de Cinema (ANCINE), apresentado no início do ano de 2015, podemos observar que o público total que foi ao cinema em 2014 assistir a filmes nacionais atingiu um total de 19 milhões de espectadores, um decréscimo em referência ao ano anterior que atingiu um público de 27,8 milhões. (BRASIL, 2015). Do ano de 2009 a 2014, mesmo funcionando parcialmente, houve uma produção variada de filmes no Polo, dos quais um conseguiu projeção internacional, oferecendo aos espectadores uma experiência cinematográfica no campo cultural e histórico. Por motivos políticos, o Pólo Cinematográfico de Paulínia, na sua breve história no cenário cultural brasileiro, acaba sendo afetado por disputas de poder que interferem no seu desenvolvimento como uma importante área industrial de produção de bens culturais para o Brasil. De acordo com Genestreti (2015), e ilustrando a questão da interferência política no Pólo, em 27 de fevereiro de 2015 foi anunciada, mais uma vez, a suspensão do Festival de Cinema da cidade de Paulínia e, consequentemente a suspensão e revisão do edital que previa a produção de oito obras cinematográficas, totalizando um valor de R$ 8 milhões de reais. O Pólo Cinematográfico de Paulínia, como produtor de filmes, e as escolas de cinema, tem em sua estrutura o poder de gerar bens culturais para o Brasil, além de valorizar o fazer cinematográfico, podendo aderir ao conceito “soft power” (MARTEL, 2012, p.12). No livro Mainstrem – a guerra global das mídias e das culturas, de Frédéric Martel, observamos que, com o fenômeno da globalização as influências não se materializam apenas pela força militar, econômica e industrial. Segundo Joseph Nye, vice-ministro da Defesa no Governo de Bill Clinton (EUA), a cultura passa a ser um recurso indispensável para se sobressair em um mundo de “interdependência complexa” das interações sociais. Nesse caso, Nye destaca que “o soft power é a atração, e não a coerção”, ou seja, o objetivo dos EUA deve estar centrado também na obtenção e garantia do poder através da difusão dos bens culturais produzidos em seu país, principalmente a produção vinda de Hollywood. (MARTEL, 2012, p. 12). Porém, No Brasil não temos uma indústria cinematográfica consolidada. Segundo Autran (2009, p.02) “o cinema brasileiro é algo descontínuo (…) nunca conseguiu se industrializar efetivamente, limitando-se a alguns surtos de produção”.

Bibliografia

    Autran, A. (2009). O Pensamento Industrial Cinematográfico Brasileiro: Ontem e Hoje. Intercom. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Curitiba.

    Brasil. (2015). Ancine. Informe de Acompanhamento do Mercado. Distribuição em Salas de Exibição. Informe Anual. Superintendência de Análise de Mercado – SAM. Brasília. Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual – OCA.

    Genestreti, G. (2015). Festival de Cinema de Paulínia é Suspenso. São Paulo: Jornal Folha de S.Paulo.

    Magenta, M. (2012). Após declínio, polo cinematográfico de Paulínia é retomado. Jornal Folha de São Paulo.

    Martel, F. (2012). Mainstream: a guerra global das mídias e das culturas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.