Ficha do Proponente
Proponente
- Rogério Luiz Silva de Oliveira (UESB)
Minicurrículo
- Professor da área de Fotografia e Iluminação do Curso de Cinema e Audiovisual, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. É autor do livro Fotografia e Memória: a criação de passados. Concluiu mestrado e doutorado com estudos dedicados à imagem fotográfica. Na tese, estudou a relação entre memória e criação na cinematografia, tomando como objeto os trabalhos de Edgar Brazil, Dib Lutfi e Walter Carvalho. Atua como diretor de fotografia e documentarista.
Ficha do Trabalho
Título
- A DF e a sutilização da câmera num processo sócio-histórico
Mesa
- Movimentos de câmera: teorias e análises sobre um recurso fotográfico
Resumo
- Valendo-se de modelo analítico sociológico, a presente comunicação objetiva uma apresentação acerca de um específico período sócio-histórico, revelador do modo como a câmera cinematográfica – dirigida e/ou operada pelo diretor de fotografia -, ganhou contornos de sutilização ao longo do tempo. Para tanto, tomamos os trabalhos de cinematografia realizados por Edgar Brazil, Dib Lutfi e Walter Carvalho – respectivamente nos filmes Limite (1930), Os Deuses e os Mortos (1970) e Lavoura Arcaica (2001) -, como fontes de planos a serem depurados e analisados segundo a movimentação da câmera.
Resumo expandido
- Introdução
A colaboração entre direção e direção de fotografia fora destacada nas linhas de muitos escritos dedicados à cinematografia. Destas cooperações duradouras ao longo da história do audiovisual, extraímos os elementos que dão base à investigação sobre distintos modos de movimentar a câmera. Para tanto, tratamos das condições de constituição de gosto e, porque não dizer (?), da fisionomia do estilo, do modo de fazer direção de fotografia. A questão não ocupa lugar central em nossa reflexão, apenas pulsa como critério a ser utilizado na observação de um breve espaço de tempo de aproximadamente 70 anos, constituído por três diferentes regimes fotográficos.
Metodologia
Tomando a análise fílmica como ponto de partida, seguimos um caminho metodológico feito de uma abordagem analítico-descritiva de planos dos filmes Limite (1930), Os Deuses e os Mortos (1970) e Lavoura Arcaica (2001), em que atuaram, respectivamente, os supracitados diretores de fotografia. A escolha pelos planos é guiada pela característica da movimentação da câmera, procurando, mediante os elementos plásticos (MALABOU, 2000) constituintes da imagem fílmica, evidenciar os traços singulares de cada uma das experiências de cinematografia. Lançando mão do que denominamos de etnografia fílmica (FARIAS, 2015), propomos uma imersão em dados planos específicos, que buscamos explicar também com a ajuda da análise figuracional (ELIAS, 2006, p. 25) do período em que o plano foi produzido. O que significa dizer que consideraremos os grupos e condições de interdependências entre indivíduos e, consequentemente, as condições materiais possibilitadas por esta interpenetração, ou seja, o desenvolvimento material/tecnológico ocasionado pelos encontros humanos.
Resultados e Discussões
Ao tocarmos a superfície constituinte de nossos objetos de análise, brevemente, notaremos a tipicidade de cada uma das três formas de fazer fotografia. Se em Limite, Edgar Brazil vai nos limites das sua engenhosidade, desenvolvendo artefatos e instrumentos possibilitadores do movimento de câmera, em Os Deuses e os Mortos testemunhamos a transformação de corpo em instrumento por Dib Lutfi, fazendo câmera percorrer livremente pelos espaços. Já em Walter Carvalho, parece encontrarmos o ponto alto de amadurecimento de um percurso sócio-histórico de sutilização da câmera, mediante o uso de gruas de grandes extensões e/ou mesmo movimentos de travelling sutis e precisos. O conciso percurso considerado é, ele mesmo, exemplar de parte da própria história de emancipação da câmera que, segundo o desejo dos diretores, conduzem a direção de fotografia a um rumo de esmero fisionômico. A análise destes três modos de produção cinematográfica apresenta-nos as veredas percorridas pela linguagem audiovisual, que encontra na fotografia, ponto capital de expressão. O exame dos três estatutos de movimentação de câmera evidencia, ainda, a contribuição da direção de fotografia na criação de sensações, a partir do enriquecimento da linguagem audiovisual.
Conclusões
A apreciação dos sistemas imagéticos, no final das contas, parece servir como método de aprendizado de direção de fotografia, pois a consideração da tríade de fotógrafos patenteia a expressão das técnicas corporais (MAUSS, 2003) desenvolvidas e praticadas por cada um deles. Este é um dos saldos positivos que retiramos da detida depuração imagética. Além disso, a verificação sistemática dos fluxos adotados pelas três formas de operar as câmeras, comprova a tese eliasiana de que não podemos separar as sociedades dos indivíduos (ELIAS, 1994). O que concluímos por entender que a expressão individual da direção de fotografia não será unicamente suficiente para compreender esta expressão. A sutilização da câmera, neste sucinto percurso sócio-histórico, portanto, é tomado dentro de um contexto em que – parafraseando Norbert Elias – não se pode compreender a estrutura do movimento da câmera num filme, contemplando apenas um plano (ELIAS, 1994).
Bibliografia
- ALEKAN, Henri. Des lumières et des ombres. Paris: Sycomore, 1984.
BROWN, Blain. Cinematografia – Teoria e Prática: Produção de Imagens para Cineastas e Diretores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
ELIAS, Norbert. A Sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
________________. Escritos & Ensaios 1. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
FARIAS, Edson. “Pensando o Brasil em filmes”. Anais do XIX Seminário Interno de Pesquisa do Grupo Cultura, Memória e Desenvolvimento – ICS/UnB, Brasília, 09 a 11 de dezembro de 2015.
MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. p. 399-422.
MALABOU, Catherine. Plasticité. Paris: Éditions Léo Scheer, 2000.
Filmografia
LAVOURA Arcaica. Direção: Luiz Fernando Carvalho. Europa Filmes. 2001. 2h52min. Colorido e P&B.
LIMITE. Direção: Mário Peixoto. Brasil. 1930. 120 min. P&B.
OS DEUSES e os mortos. Direção: Ruy Guerra. Brasil. 1970. 97 minutos. Colorido.