Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Raquel Assunção Oliveira (UFPE)

Minicurrículo

    Mestranda no PPGCOM, Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), na linha de pesquisa Estética e Culturas da Imagem e do Som, sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Duarte Gomes da Silva e financiada pelo CNPQ. Especialista em Cinema e bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Graduada em Design Gráfico pela Universidade Potiguar (UnP). Áreas de interesse: arte, estética, cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema e pintura em “Um Pombo…” (2014), de Roy Andersson

Resumo

    Este trabalho tem como proposta explorar as relações entre cinema e pintura a partir do filme Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência (2014), terceira produção da Trilogia do Ser Humano, dirigida pelo sueco Roy Andersson. Estudaremos de que forma as duas manifestações estéticas, com suas distintas temporalidades, dialogam entre si, especialmente através do conceito trabalhado por Jacques Aumont de instante pregnante e do embaçamento das noções de moldura e máscara, trazidas por BAZIN (1991).

Resumo expandido

    Desde seu surgimento, o cinema tem sua história atravessada por aproximações, flertes e intersecções com a pintura. Observamos essa relação desde os antigos filmes em branco e preto pintados à mão; passando pelas parcerias de pintores colaborando com a produção cinematográfica – relembremos a célebre parceria no filme Spellbound, de 1945, dirigido por Hitchcock e cuja cenografia foi assinada por Salvador Dalí; pelas histórias de grandes nomes da pintura dando mote para cinebiografias (vide Sede de Viver, de 1959, dirigido por Vincente Minelli, sobre Van Gogh); até mesmo por meio da fotografia ou de cenas e detalhes de filmes inspirados por quadros, como é o caso da casa dos Bates em Psicose (1960), extremamente semelhante à do quadro Casa Junto à Rodovia (1925), de Edward Hopper.

    Neste artigo nos centraremos no estudo da produção contemporânea Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência (2014) que, junto com Vocês, os Vivos (2007) e Canções do Segundo Andar (2000), compõem a Trilogia do Ser Humano, dirigida pelo sueco Roy Andersson. Nosso interesse está em entender de que forma o cinema e a pintura, com suas distintas temporalidades, dialogam entre si, através do conceito trabalhado por Jacques Aumont de instante pregnante e do embaçamento das noções de moldura e máscara, trazidas por BAZIN (1991). Aqui, vale ressaltar que todo o trabalho será realizado de modo a evitar o perigo de subordinar uma das artes à outra, levando em conta a opinião de BAZIN (1991, p. 176) de que “o cinema não vem ‘servir’ ou trair a pintura, mas acrescentar-lhe uma maneira de ser”.

    Um Pombo, que tem como proposta levantar um olhar sobre a existência humana que seja ao mesmo tempo reflexivo, panorâmico – como de um pássaro – e preocupado, é construído através da montagem de uma série de planos-tableau (AUMONT, 2000 apud OLIVEIRA, 2013). Estes planos são unidades de ação e dramaturgia que se assemelham à visão frontal e fixa que temos de um palco cênico (OLIVEIRA, 2000, p. 190).

    Tais planos, aliados às cenas em plano-sequência, ao empobrecimento dramático – no sentido de a duração da cena equivaler à duração real (AUMONT, 2013) -, à fotografia e direção de arte milimetricamente calculadas, carregando os cenários de uma mesma paleta de cores e textura, além dos figurinos e maquiagem pensados em conjunto e dos enquadramentos que buscam contemplar a mise-en-scène em sua totalidade, aproximam o filme da tradição pictórica ocidental. Em filmes como Um Pombo a imagem cinematográfica deixa de ser apenas centrífuga, como delimita BAZIN (1991), para carregar também certa medida de força centrípeta, levando o nosso olhar para passear dentro do quadro, como é típico da nossa postura frente a uma pintura.

    No filme em estudo, a sucessão de planos-sequência estáticos nos leva ainda ao conceito trabalhado por AUMONT (2011) de instante pregnante: a busca por representar um acontecimento (portanto espacial e temporal) num só plano, iluminação e gestualidade que resumam da melhor forma aquela ação – por sinal, uma tentativa fadada ao fracasso, como todas aquelas que tentam capturar o tempo (aqui incluímos a pintura). No caso do filme, enxergamos o conjunto das suas características aqui já mencionadas (textura da imagem, enquadramento, etc.) como uma escolha estética e narrativa que aproxima o cinema da arte pictórica.

Bibliografia

    AUMONT, J. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 2012.

    _________. O olho interminável: cinema e pintura. 16ª ed. São Paulo: Cosac & Naify, 2011.

    _________. Que reste- t-il du cinéma? Paris, França: Vrin, 2013.

    BAZIN, André. O cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.

    FARTHING, Stephen. Tudo sobre arte. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.

    GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. 16ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

    OLIVEIRA, Luiz Carlos Jr. A mise en scène no cinema: do clássico ao cinema de fluxo. Campinas, SP: Papirus, 2013.

    Roy Andersson, Pigeon. Disponível em: . Acesso em: 10 de junho de 2016.