Ficha do Proponente
Proponente
- Juliana Ribeiro Pinto Bravo (UFF)
Minicurrículo
- Mestranda em Comunicação pelo PPGCOM-UFF, graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Integrante dos grupos de pesquisa “Entelas” (UFF) e “Cinema, Televisão e Literatura: Interseções” (PUC-RIO).
Ficha do Trabalho
Título
- Do Melodrama ao New Queer Cinema Brasileiro: As fronteiras subversivas
Seminário
- Cinema Queer e Feminista
Resumo
- Este trabalho tem o objetivo de compreender como o New Queer Cinema brasileiro se reapropriou de elementos do melodrama e do Neon-Realismo da década de 1980, principalmente, a partir do conceito de excesso e pela transgressão estética e técnica neon-realista. Portanto, identificar e analisar as influências, as principais estratégias textuais e audiovisuais adotada pelo New Queer Cinema no Brasil, além de suas formas de produção, exibição e distribuição em âmbito nacional e internacional.
Resumo expandido
- O melodrama se caracteriza por ser um gênero que implica numa pedagogia moral cotidiana, atrelada as imposições patriarcais que tornam a superdramatização um elemento exigido para fortalecer um pensamento comum. O repertório melodramático, segundo Peter Brooks (1995), permeia pela superfície da realidade, onde o drama se estabelece nas dicotomias entre vida e morte, perdição e redenção, paraíso e inferno. No entanto, o forte traço sentimental, as expressões histriônicas derivadas do excesso e as recompensas advindas da virtude fazem do melodrama um conceito oposto ao naturalismo das ações e repleto de moralidades ocultas. As narrativas são adequadas às noções que regulam as representações de gêneros e sexualidades a serem heteronormativas. Assim, um corpo caracterizado como abjeto, como o corpo queer, torna-se um corpo político e de resistência no interior das narrativas.
A Teoria Queer é uma corrente teórica que surge no final dos anos 1980 para contestar a estabilidade das sexualidades, suas aparências definidas, práticas e pensamentos comuns nas sociedades. A teoria critica à normalização da sexualidade e às concepções que tornam a heterossexualidade referência autêntica, hegemônica e superior frente à diversidade de gêneros. Os indivíduos que não se integram a este tipo de lógica sexual são ditos como desviantes, estranhos, malditos. Para Foucault (1988), a sexualidade é um dispositivo do poder, no qual se rejeita uma característica biológica ou natural e argumenta-se a favor de uma construção, em que a sexualidade tem origem histórica, social e cultural. Os mecanismos de linguagem e seus atos consequentes problematizam e expõem efeitos binários: uma relação de subordinação e inferioridade entre os sujeitos, gêneros e identidades. A lógica no interior das sociedades é criar indivíduos coerentes que satisfaçam as expectativas e reafirmem as performances e a performatividade. Esses dois conceitos citados são desmembrados por Judith Butler em seus estudos sobre Teoria Queer e feminismo. Para a teórica, os binarismos tendem a caracterizar uma compreensão tradicional e a aparência estável dos gêneros e da sexualidade nas esferas sociais.
Não por menos, a arte cinematográfica com seus movimentos particulares e as profundas relações com as políticas socioeconômicas e governamentais reproduzem a escrita e a leitura de sociedades e complementam ou escapam os ideais do imaginário, da fantasia e das reapropriações culturais. No entanto, ao cinema hegemônico se opõe os circuitos alternativos e periféricos que atendem as demandas e reivindicações de histórias paralelas. A existência de um Novo Cinema Queer brasileiro sustenta algumas questões que permeiam ao experimentalismo e as produções independentes. Para Guacira Lopes Louro “nem mesmo a exuberância das paradas da diversidade sexual, das feiras mix, dos festivais de filmes alternativos permite ignorar a longa história de marginalização e de repressão que esses grupos enfrentaram” (2008, p.21). O Cinema Queer no país explora os limites das representações ao incorporar cinematograficamente outros tipos de artes e ações performáticas que fagocitam, em muitos casos, a transnacionalidade da contemporaneidade.
Por conseguinte, o New Queer Cinema é um movimento que articula o debate entre afetos, relacionamentos, corpos, identidades e sexualidades. À vista disso, o Neon-Realismo abarca em suas narrativas artifícios de uma visão de mundo poética, no qual estética e politicamente ironiza, satiriza e critica a sociedade ao expor corpos não adequados, hipersexualizados. No entanto, é possível afirmar que a origem estética e visual análoga às propostas que o New Queer Cinema brasileiro adotou tem influência direta do Neon-Realismo e suas perspectivas pós-modernas.
Posto isso, três filmes brasileiros serão utilizados para aplicação teórica e desenvolvimento dos argumentos: “Anjos da Noite” (Wilson Barros, 1987); “Madame Satã” (Karim Aïnouz, 2002); “Tatuagem” (Hilton Lacerda, 2013).
Bibliografia
- BARBERO, Jesús Martín¬. El melodrama en televisón o los avatares de la identidade industrializada. In: Narraciones anacrónicas de la modernidad,¬ H. Herlinghaus (org). Chile: Cuarto Próprio, 2002.
BROOKS, Peter. The Melodramatic Imagination. Balzac, Henry James, Melodrama and the Mode of Excess. New Haven and London: Yale University Press, 1995.
BUTLER, Judith. Cuerpos que importan: sobre los limites materiales y discursivos del “sexo”. Buenos Aires: Paidós, 2002.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I. A Vontade de saber. Tradução, Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-posições, maio/ago, v.19, n.2, 2008.
PUCCI JR, Renato Luiz. Cinema brasileiro pós-moderno: o néon realismo. 1. ed. Editora Sulina, Porto Alegre, 2008.