Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Gheysa Lemes Gonçalves Gama (UFJF)

Minicurrículo

    Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (2012) onde desenvolve pesquisa na área de antropologia do cinema. É Mestre em Ciências Sociais (2008), Especialista em Planejamento e Gestão Social (2005) e Graduada em Turismo (2004), todos pela UFJF. Atualmente é professora efetiva do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IF), campus Juiz de Fora, onde atua no curso técnico em Eventos.

Ficha do Trabalho

Título

    A estrada como alegoria da identidade cultural em filmes de estrada

Seminário

    Cinema e Ciências Sociais: diálogos e aportes metodológicos

Resumo

    Este artigo pretende observar as mudanças ocorridas na identidade cultural brasileira a partir das modificações alegóricas assumidas pela estrada em road movies nacionais. Para cumprir tal objetivo pretende-se realizar um estudo comparativo entre os road movies Iracema, uma transa amazônica (BODANZKY; SENNA, 1974) e Dromedário no asfalto (VARGAS, 2014), sendo que no primeiro filme a estrada é apresentada como uma alegoria da nação e no segundo como alegoria da transformação pessoal, caracterizando um rito de passagem.

Resumo expandido

    Este trabalho se propõe a analisar filmes a partir de uma categoria das Ciências Sociais, a saber, a identidade cultural. Parte-se do pressuposto que ao investigar a trajetória de filmes de estrada nacionais, realizados no período que compreende o início da década de 1960 até 2015, é possível observar que, num determinado momento histórico as obras pertencentes a esta categoria fílmica apresentam representações de identidade coletiva (a identidade nacional), modificando-se posteriormente, para representar uma identidade fragmentada.

    Essa tese será verificada, neste artigo, a partir de um estudo comparativo entre dois filmes de estrada: Iracema, uma transa amazônica (BODANZKY; SENNA, 1974) e Dromedário no asfalto (VARGAS, 2014). Enquanto em Iracema… a estrada aparece como uma alegoria do Brasil, onde a jornada dos protagonistas Iracema e Tião Brasil Grande pela Transamazônica funciona como um relato às críticas condições do país à época, em Dromedário… a estrada é um ritual de passagem, no qual Pedro, o personagem principal, deve transcorrer para viver seu luto pela morte da mãe e ir ao encontro do pai, resultando numa odisseia subjetiva, no qual o protagonista emerge transformado.

    Esse estudo comparativo será realizado a partir da análise fílmica das duas películas, preocupando-se, especialmente, com as representações assumidas pela estrada/viagem; amparado por estudos e artigos de jornais e revistas colhidos em pesquisa feita na Cinemateca Nacional, situada em São Paulo.

    Há diferenças consideráveis entre esses dois filmes: Iracema… é um filme da década de 1970, situado no norte do país enquanto Dromedário…, filme mais contemporâneo, está no outro extremo, no sul do Brasil. Contudo outra característica se faz relevante neste momento, o fato de serem representantes de dois momentos distintos dos filmes de estrada nacionais, sendo que a diferença está nas alegorias assumidas pela estrada nestes road movies, que se modificam, ao mesmo tempo em que se verifica mudança na própria identidade cultural, esta última confirmada em autores como Anderson (2008); Bauman (2008, 2001) e Hall (2005).

    Enquanto Iracema… representa um momento do país no qual as identidades culturais estavam muito vinculadas à ideia de nação e à identidade nacional; Dromedário… é representante de um outro momento, onde observa-se uma mudança na identidade cultural, agora mais fragmentada e centrada no indivíduo, o projeto de nação e de identidade nacional persiste, mas agora dialoga com as outras identidades culturais que o sujeito constrói pra si (HALL, 2005).

    Por esta razão, em Iracema… a estrada aparece como uma alegoria da nação brasileira, pois é a partir desta obra que conhecemos o Brasil daquela época, país de grande extensão territorial, e exuberância natural, mas que sofre de diversas mazelas, como a exploração do homem, falta de terra, degradação ambiental, ilegalidades nas transações, miséria e trabalho escravo. Já em Dromedário… percebe-se o papel transformador da estrada. O protagonista Pedro prolonga seu período na estrada, porque percebe sua existência nela como um momento de reflexão e redenção, a estrada funciona como evidente rito de passagem, no qual Pedro precisa sair de seu local de origem, permanecer na estrada (na communitas) e chegar ao seu destino final transformado e revitalizado por sua experiência na communitas (TURNER, 2013).

Bibliografia

    ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
    BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
    ______. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
    BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro – propostas para uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
    COHAN, Steven; HARK, Ina Rae. The road movie book. New York: Routledge, 1997.
    HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005.
    PAIVA, Samuel. Gêneses do gênero road movie. In: XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2010, Caxias do Sul.
    TURNER, Victor W. O processo ritual. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.
    VAN GENNEP, Arnold. Os ritos de passagem. Petrópolis: Vozes, 2013.
    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. São Paulo: Brasiliense, 2012.