Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Demian Albuquerque Garcia (UPJV)

Minicurrículo

    Compositor e diretor de som para cinema e teatro. Doutorando em Cinema na Univ. de Picardie Jules Verne. Orientação de Sébastien Denis. Tema: A construção do medo através do som no cinema japonês. Professor de som e trilha sonora no cinema na UNESPAR. Bolsista da CAPES-proc. BEX 1149/15-6. Integrante do Grupo de Pesquisa Cinema: Criação e Reflexão (Unespar/Cnpq) e do CRAE: Centre de Recherche en Arts et Esthètique (UPJV). Terminou seu mestrado em Cinema na Univ. Paris 3 Nouvelle Sorbonne em 2009

Ficha do Trabalho

Título

    Depuração e exageração: Escritura sonora nos filmes de sabre japoneses

Seminário

    Teoria e Estética do Som no Audiovisual

Resumo

    Esta proposta tem por objetivo analisar e refletir sobre o realismo sonoro – a depuração e a exageração -, examinando as transformações da escrita sonora através da história. O objeto principal é o som das cenas de combate nos filmes de sabre do cinema japonês – o chanbara. Faremos uma comparação entre os filmes dos anos 1950 à 1970 e os filmes dos anos 2000, analisando a passagem de uma construção sonora trabalhada em função dos aspectos estéticos e narrativos da obra, para uma espetacularização do desenho sonoro no cinema de grande público. Se, no som do cinema de ação a “atração” pode, as vezes, coabitar com a “narração” [HIGGINS, 2008], em uma grande parte dos casos ela pode desviar a atenção da narração para um espetáculo de “fogos de artifício” sonoro. As questões analisadas são: como os japoneses trabalharam o som das cenas de duelo nos chanbaras, quais as variações entre esses dois períodos, e como a construção sonora dessas cenas pode contribuir com a expressão dos cineastas.

Resumo expandido

    Chanbara designa familiarmente o filme de sabre japonês, chamado ken-geki, que tem sua origem no teatro tradicional japonês, precisamente o kabuki. O nome vem da contração da onomatopeia japonesa Chan-chan-bara-bara, utilizada pra evocar o som do sabre cortando a carne. Mas é realmente este som que ouvimos nesses filmes? Esta comunicação propõe estudar como se apresentam os sons dos sabres nesses filmes e a maneira como eles são produzidos, assim como examinar o processo de manipulação do som, levando em conta suas mudanças e transformações segundo o grau de realismo e a época à qual essas obras foram filmadas.
    Primeiramente estudaremos o som dos filmes de sabre a partir dos anos 1950, onde, livre da tutela dos Estados Unidos, os estúdios japoneses voltam a produzir o chanbara inaugurando uma “Era do ouro” do gênero – entre 1954 e 1974. [RICHIE, 1971; TESSIER, 2008] Analisaremos alguns filmes de sabre de Akira Kurosawa, Hideo Gosha e Kenji Misumi. Esses filmes manifestavam uma ideia de realismo sonoro através da utilização de sons e foleys mais moderados, assim como uma escritura sonora mais depurada. Durante esse período os imperativos técnicos – principalmente o uso do som ótico com seu caráter monofônico – não permitiam a sobreposição de uma grande quantidade de sons; o cinema, então, teve que desenvolver uma hierarquia de sons onde cada cena deveria conter um só elemento sonoro principal, o que privilegiava geralmente a voz ou a música [CHION, 2003]. Assim, o foley dos sabres se revezava com os gritos de samurais ou com a música. Esses cineastas desenvolveram uma ideia de escrita sonora ligada à caligrafia japonesa – baseada na precisão, na depuração, no simbolismo, e numa estética de “fazer escolhas”: neste caso, o uso de sons pontuais e a supressão de alguns sons para colocar outros em evidencia, chegando mesmo a remover os sons das espadas. Alguns trabalhavam com o efeito desses sons na construção da violência, modificando e dramatizando cada choque das katanas na construção das cenas.
    A partir dos anos 1990, o dolby e a possibilidade de espacialização sonora abrem o caminho para a composição de um desenho sonoro mais trabalhado.[CHION, 2002] O cinema “grande público” de hoje, pode ser definido como um cinema de profusão sonora: o efeito do real é frequentemente construído com uma exageração sonora. Nesse contexto, analisaremos alguns chanbaras dos anos 2000, nos quais a abundância sonora é significativa, especialmente nos remakes de Takashi Miike e Takeshi Kitano.
    Partindo dessas análises vamos traçar as diferenças entre esses dois períodos, desde a economia e depuração do pós guerra até a exageração dos anos 2000. A partir desta investigação tentaremos colocar em evidência como o som, mais precisamente o foley – onde os ruídos reais são substituídos por um “simulacro” [DESHAYS, 2010] -, pode modificar a percepção dos espectadores, assim como fazer parte da criação dos autores e responder à exigências comerciais ligadas à expectativa do público, exploração do sistema surround, etc.

Bibliografia

    DESHAYS Daniel, Entendre le cinéma, Paris, Klincksieck, 2010
    CHAMPCLAUX Christophe, Tigres et Dragons – les arts martiaux au cinéma, Paris, G. Trédaniel, 2008
    CHION Michel, Technique et création au cinéma, Paris, Esec, 2002
    ______, Un art sonore, le cinéma, Paris, Cahiers du Cinéma, 2003
    ______, Y a-t-il un “son numérique” au cinéma?, Paris, Positif n° 603, mai 2011
    ______, L’audio-vision : son et image au cinéma, Paris, Armand Colin, 2013
    FINE Robert, PERSPECTA – the All-Purpose Recording and Reproducing Sound System, International Projectionist, jul 1954
    GATTO Robin, Hideo Gosha: Cinéaste sans maître, Paris, LettMotif, 2014
    HIGGINS Scott, Suspenseful Situations: Melodramatic Narrative and the Contemporary Action Film, Cinema Journal, vol 47, n° 2, 2008
    KUROSAWA Akira, Comme une autobiographie, Paris, Cahiers du Cinéma, 1997
    RICHIE Donald, Japanese Cinema: Film Style and National Character, New York, Doubleday, 1971
    TESSIER Max, Le cinéma japonais, Paris, Armand Colin, 2008