Ficha do Proponente
Proponente
- Sandra Straccialano Coelho (UFBA)
Minicurrículo
- Pós-doutoranda em Comunicação e Culturas Contemporâneas na UFBA, onde participa do Laboratório de Análise Fílmica e atualmente desenvolve pesquisa sobre a temática migratória em documentários latino-americanos realizados a partir dos anos de 1980. Pesquisadora associada ao Centro das Migrações e Relações Interculturais da Universidade Aberta de Lisboa, é mestre em multimeios pela Unicamp e graduada em Letras pela mesma universidade.
Ficha do Trabalho
Título
- Epistolaridade audiovisual em I for India: uma análise etnobiográfica
Resumo
- Inserida no âmbito de uma pesquisa que tem como um de seus objetivos cartografar a produção documental contemporânea na qual têm sido encenadas diferentes experiências migratórias, a presente comunicação se dedica a uma análise etnobiográfica (GONÇALVES, 2012) de “I for India” (2005), primeiro longa documentário de Sandhya Sury. Composto a partir dos arquivos familiares de uma prática epistolar audiovisual que foi estabelecida pelo pai da diretora a partir dos anos 1960, momento em que este migrou com a família para a Inglaterra, o filme apresenta um relato simultaneamente íntimo e universal da experiência migratória. Da análise das particularidades desse dispositivo central utilizado no filme, assim como das principais estratégias que foram utilizadas pela diretora na articulação dos sons e imagens desse “diário” migratório familiar, se tem como objetivo depreender as diferentes dinâmicas de alteridade presentes no filme.
Resumo expandido
- Inserida no âmbito de uma pesquisa pós-doutoral que tem como objetivo central cartografar e desenvolver uma perspectiva de análise etnobiográfica (GONÇALVES, 2012) a respeito da produção documental em primeira pessoa realizada a partir dos anos de 1980 na qual têm sido encenadas diferentes experiências migratórias, a presente comunicação se dedica, especificamente, a uma análise de “I for India” (2005), primeiro longa documentário de Sandhya Sury.
A recorrência atual de filmes nos quais cineastas tentam (re)construir em sons e imagens uma memória familiar marcada pela migração, inscrevendo-se, assim, enquanto personagens de narrativas caracterizadas pelo deslocamento, sugere a vitalidade com que a análise de tais filmes pode contribuir não apenas no horizonte dos estudos cinematográficos, como para a pesquisa sobre as representações dos fenômenos migratórios – nesse escopo pode figurar, por exemplo, grande parte da obra de Jonas Mekas, precursor dessa vertente, assim como documentários mais recentes, tais como “Nobody’s business” (1996) de Alain Berliner, “Um passaporte húngaro” (1997) de Sandra Kogut, “Mémoires d’immigrés: L’héritage maghrébin” (1997) de Yamina Benguigui, “The Flat” (2011) de Arnon Goldfinger, “Mare mater” (2013) de Patrick Zachmann, dentre outros.
Frente a esse objeto instigante, se julga especialmente interessante a adoção da abordagem etnobiográfica como aporte teórico-metodológico que procura “dar conta da intrincada relação entre indivíduo, sujeito e cultura” por meio da investigação das estratégias textuais e performáticas que são colocadas em ação pelo “eu” e que evidenciam sua “função poética de dar forma ao ‘real’” (GONÇALVES, MARQUES e CARDOSO, 2012, p. 9-10). Assim, do vislumbramento dessa perspectiva como possibilidade de articular as ferramentas da análise fílmica com a discussão necessariamente interdisciplinar sobre a representação dos movimentos migratórios no domínio audiovisual, se acredita na possibilidade de avançar na construção de conhecimentos sobre um objeto que se crê ainda pouco explorado.
No escopo do corpus de análise que foi levantado até o momento no interior dessa pesquisa, acredita-se que “I for India” se apresenta como um objeto privilegiado para o desenvolvimento de tal análise. Nele, a diretora, filha de um médico indiano que se estabeleceu na Inglaterra em meados dos anos de 1960, irá construir um relato que é ao mesmo tempo íntimo e universal da experiência migratória a partir, principalmente, dos arquivos familiares de uma prática epistolar audiovisual que foi estabelecida entre seu pai e os familiares que permaneceram na Índia ao longo de décadas. Da análise das particularidades desse dispositivo central utilizado pela diretora, assim como das principais estratégias colocadas em ação por ela na articulação dos sons e imagens desse “diário” migratório, se tem como objetivo, para os fins da comunicação aqui proposta, depreender a construção audiovisual das diferentes dinâmicas de alteridade em jogo nesse filme.
Bibliografia
- GONÇALVES, M.A., Etnobiografia: biografia e etnografia ou como se encontram pessoas e personagens In: GONÇALVES, M. A. & MARQUES, R. & CARDOSO, V. Z. (org.) Etnobiografia: subjetivação e etnografia, Rio de Janeiro: 7 Letras, p.19-42, 2012.
GONÇALVES, M. A. & MARQUES, R. & CARDOSO, V. Z. (org.) Etnobiografia: subjetivação e etnografia, Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012.
LEBOW, A. (Editor), The cinema of me: the self and subjectivity in first person documentary. London & New York: Wallflower Press, 2012.
NAFICY, H. An accented cinema: exilic and diasporic filmmaking, Princeton: Princeton University, 2001.
________. Epistolarity and textuality in accented films in: EGOYAN, A. & BALFOUR, I. (org.) Subtitles: on the foreignness of film, Massachusetts Institute of Technology and Alphabet City Media, 2004, p.131-151.
RUSSEL, C. Autoethnography: Journeys of the self In: RUSSEL, C. Experimental Ethnography: The Work of Film in the Age of Video, Duke University Press, p. 275-314, 1999.