Ficha do Proponente
Proponente
- MARIA JOSÉ GENUINO BARROS (UNICAMP)
Minicurrículo
- Graduada em Ciências Sociais em 2011 pela Universidade Cândido Mendes (UCAM) com a monografia: Neorrealismo italiano e o cinema como arte. Obteve o título de mestre em 2015 pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) sob o título: Cinema de horror e sociedade: found footage e medos modernos. Iniciou o doutorado em Sociologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2016 com o projeto: Cinema e sociedade: um estudo sociológico sobre o monstro do cinema de horror.
Ficha do Trabalho
Título
- O cinema como objeto da sociologia
Seminário
- Cinema e Ciências Sociais: diálogos e aportes metodológicos
Resumo
- Ao longo da história da sociologia, alguns autores têm tomado o cinema como objeto de pesquisa. No entanto, tal tarefa não tem sido fácil, dado o status que o cinema possui no meio acadêmico. A sociologia do cinema, nesse sentido, vem adquirindo espaço em pesquisas sociológicas, buscando se fundar enquanto um campo na disciplina. O presente trabalho pretende realizar um estudo sobre como a sociologia tem tomado o cinema como objeto, analizando as principais abordagens e metodologias.
Resumo expandido
- Como estudar sociologicamente o cinema? Essa questão tem se diferenciado inteiramente da prática, ou seja, de como o cinema tem sido considerado pela sociologia. Em 1954, Edgar Morin escreveu um artigo intitulado Préliminaires a une sociologie de cinéma, no qual afirmava que a sociologia, quando não despreza o estudo do cinema, o analisa de forma fragmentada, como meio de comunicação, mídia de massa ou através da análise de audiência e conteúdo. Seu status de indústria geraria um preconceito por parte de quem escrevia naquele momento sobre cinema: a intelligentsia via o cinema, de forma geral, como um atentado à arte.
Morin reportava a maneira como a sociologia encarava naquele período o estudo do cinema. A situação, entretanto, não mudou muito com o passar dos anos. Em Images and Influence: Studies in the Sociology of Film (1975), o sociólogo Andrew Tudor alerta para a ausência de estudos sobre cinema na sociologia e frisa a importância de sua análise por se tratar de um fenômeno social popular. Para a socióloga Vera Zolberg (2006), o desprezo pelo estudo do cinema na sociologia está dentro de um contexto maior: as artes, populares ou de elite, sofrem uma reputação de banalidade, em comparação com disciplinas mais obviamente materiais, como sociologia urbana, criminalidade, gênero, entre outras.
Todavia, essa visão, por vezes preconceituosa, dos estudos do cinema (seja ele popular ou não) tem sido superada aos poucos no campo da sociologia às custas de trabalhos que buscam tomar o cinema como objeto por assumir que este tem questões pontuais a serem analisadas. A sociologia do cinema, um ramo recente da sociologia das artes, tem buscado se afirmar como campo ao analisar o cinema enquanto uma obra de arte e, por conseguinte, um fenômeno social, não apenas para ilustrar ou exemplificar um estudo sociológico. Como levanta Zolberg (2006), a arte como reveladora ou simples reflexo das tendências políticas e socioeconômicas das sociedades é apenas o começo da análise sociológica, que enfatiza agora a complexidade da reflexão, incorporando os processos históricos de mudança, e as reinterpretações das obras ao longo do tempo e por diferentes grupos.
Na obra Sociologie du cinema et de ses publics (2011), o sociólogo francês Emmanuel Ethis afirma que a sociologia do cinema se desenvolveu dentro de três domínios principais. No primeiro, o cinema é estudado como indústria cultural sob aspectos socioeconômicos, influenciado pelos estudos de Theodor Adorno e Max Horkheimer sobre a indústria cultural. No segundo é compreendido como uma instituição social tanto de produção como de recepção cultural e artística, tendo como principais integrantes Morin, Georges Friedmann, Ian Charles Jarvie, Fabrice Montebello, Jean-Marc Leveratto, Emanuel Ethis, entre outros. Já no terceiro, é estudada a representação do mundo social pelo cinema, tendo como autores principais Siegfried Kracauer, Marc Ferro, Pierre Sorlin e Jean-Pierre Esquenazi.
Em Towards a sociology of the cinema (1970), Jarvie buscou sistematizar o estudo sociológico do cinema, propondo repensar a relação entre cinema e sociedade. Na obra, o autor aponta um método para a análise sociológica dos filmes que se preocupa não apenas com o contexto social no qual as obras estão imersas, pensando o cinema como um documento cultural. Portanto, as análises fílmicas não seriam compreensíveis se as quatro perguntas a seguir não fossem respondidas: Quem faz os filmes e por quê? Quem vê os filmes, como e por quê? O que se vê, como e por quê? Como se avalia os filmes e por que eles são avaliados?
Pretendemos, desta forma, realizar um estudo sobre como a sociologia tem tomado o cinema como objeto, analizando suas principais abordagens e metodologias. Destarte, observaremos a constituição do campo da sociologia do cinema como um importante movimento no sentido de buscar um estudo sociológico do cinema que o enxergue como um documento cultural, um fenômeno cultural e uma obra de arte.
Bibliografia
- ETHIS, E. Sociologie du cinema et de ses publics. Paris: Armand Colin, 2011.
JARVIE, I. C. Toward a Sociology of Cinema. Londres: Routledge, 1970.
MORIN, E. Préliminaire d’une sociologie du cinema. Cahiers internationaux de
Sociologie. Nouvelle série, Vol. 17. Paris: Presses Universitaires de France, 1954.
Disponível em:
TUDOR, A. Image and influence: studies in the sociology of film. Nova Iorque: St.
Martins Press, 1975.
ZOLBERG, V. Para uma sociologia das artes. Tradução de Assef Nagib Kfouri. São
Paulo: Senac, 2006.