Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Rafael de Luna Freire (UFF)

Minicurrículo

    Professor adjunto no Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e no Programa de pós graduação em Comunicação da UFF. Autor de inúmeras publicações, entre as quais “Cinematographo em Nictheroy: história das salas de cinema de Niterói” (2012).

Ficha do Trabalho

Título

    A história dos fabricantes de projetores cinematográficos no Brasil

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidade e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Esta comunicação investiga um aspecto talvez nunca discutido em profundidade pelos historiadores do cinema brasileiro: a história das empresas brasileiras fabricantes e montadoras de projetores cinematográficos. A lacuna desse tema em nossa historiografia pode ser explicada por dois motivos: a escassez de estudos sobre a história da exibição e dos exibidores cinematográficos no Brasil e o igualmente parco interesse por estudos econômicos e tecnológicos do passado do cinema brasileiro. Assim, essa comunicação visa abordar a história de uma das mais importantes indústrias do setor cinematográfico no Brasil, mas que se desenvolveu prestando serviços e oferecendo produtos ao setor da exibição. Apontaremos como foi com o advento do som que suscitou o desenvolvimento inicial de um conjunto de empresas brasileiras de fabricação de projetores cinematográficos, entre as quais destacaremos as três pioneiras: Cinephon (RJ, 1930), Phonocinex (SP, 1931) e Cinetom (RJ, 1932).

Resumo expandido

    Ao longo do século XX, os historiadores do cinema brasileiro privilegiaram o estudo e análise do fenômeno da produção de filmes no Brasil, em detrimento de aspectos relacionados à exibição e distribuição (Bernardet, 1995, p. 26-29). Além disso, desde os anos 1920, mas acentuando-se a partir da década de 1950, criou-se no meio cinematográfico brasileiro (com influência clara na historiografia) um antagonismo entre lideranças do setor da produção – que se arvorava ideais nacionalistas – e o empresariado do setor da exibição, tido como subserviente a interesses econômicos e políticos estrangeiros (Autran, 2013, p.70-75; Johnson, 1993, p. 42-44).
    Diante dessas questões, relacionadas entre si, não é surpresa que ainda sejam relativamente poucos os estudos sobre a história dos exibidores e da exibição cinematográfica no Brasil. Nesse sentido, mesmo com o crescimento no número de trabalhos sobre o mercado cinematográfico brasileiro, são extremamente raras as pesquisas históricas sobre os setores industriais que se desenvolveram oferecendo produtos e serviços para o circuito exibidor cinematográfico brasileiro. Ou seja, as indústrias que se desenvolveram em função não da produção de filmes brasileiros, mas da exibição de filmes no Brasil.
    Esta comunicação busca contribuir para suprir essas lacunas, investigando a história de uma das indústrias dedicadas ao fornecimento de equipamentos utilizados pelo setor da exibição cinematográfica: o conjunto de empresas brasileiras de montagem, fabricação e comercialização de equipamentos de projeção cinematográfica sonora. Foi o advento do filme sonoro na passagem para os anos 1930 que, além de provocar inúmeras mudanças no mercado cinematográfico brasileiro, alavancou o desenvolvimento dessa indústria no país.
    Em seus primórdios no final do século XIX, o cinema no Brasil era uma atração e uma tecnologia essencialmente importadas. Tanto os filmes quantos os equipamentos – e até mesmo os primeiros profissionais – vinham do exterior, sobretudo da Europa. Mais importante ainda, nos primeiros tempos dos exibidores ambulantes e das salas de cinema temporárias a compra de algumas cópias de filmes representava um investimento financeiro mais alto do que a aquisição do equipamento de projeção em si.
    Ao longo dos anos 1910 e 1920, com o crescimento do circuito exibidor e a sofisticação dos aparelhos, o mercado brasileiro será dominado por projetores franceses, alemães e norte-americanos. A chegada do cinema sonoro, porém, irá demandar uma reformulação radical dos espaços de exibição para a introdução da nova tecnologia, inclusive com a instalação de caros e complexos equipamentos. Inicialmente, os palácios de cinema das grandes capitais brasileiras instalaram projetores sonoros importados dos Estados Unidos, fossem os das poderosas Western Electric e Radio Coporation of America, fossem marcas mais modestas como Pacent e Mellophone.
    Entretanto, a crise econômica (com a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar) e a demanda crescente de aparelhos mais baratos pelos exibidores menos capitalizados, motivou o início da oferta de contrafações nacionais do Vitaphone e Movietone. Em 1930, no Rio de Janeiro, a empresa J. Barros & Cia começou a comercializar os projetores da marca Cinephon. Já no ano seguinte, começaram as vendas da aparelhagem Phonocinex, fabricada pela poderosa empresa paulista Byington & Cia. O mercado cresceu tanto ao ponto de dois funcionários da Cinephon saírem da empresa e fundarem uma nova companhia, a Cinetom (1932). A demanda por projetores nacionais mais baratos, simples e acessíveis continuou crescendo, motivando o surgimento de novas empresas, todas sediadas em São Paulo, como Sólidus (1934), Centauro (1935) e Triunfo (1939).
    Esta comunicação irá traçar a história desses fabricantes pioneiros, investigando as circunstâncias que permitiram o surgimento dessa indústria no Brasil dos anos 1930, e seu desenvolvimento posterior.

Bibliografia

    AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec Editora, 2013.
    BERNARDET, Jean-Claude. Historiografia clássica do cinema brasileiro. São Paulo: Annablume, 1995.
    CAPELLARO, José Jorge Vittorio. História da indústria de equipamentos de telecomunicações no Brasil. In: BARROS, Henry British Lins. (ed.). História da Indústria de telecomunicações no Brasil. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Telecomunicações, 1989. p. 13-45.
    FREIRE, Rafael de Luna. Da geração de eletricidade aos divertimentos elétricos: a trajetória empresarial de Alberto Byington Jr. antes da produção de filmes. Estudos Históricos, v.26, p.113-131, 2013.
    JOHNSON, Randal. Ascensão e queda do cinema brasileiro, 1960-1990. Revista USP, n.19, p.31-49, 1993.