Ficha do Proponente
Proponente
- Pascoal Farinaccio (UFF)
Minicurrículo
- Pascoal Farinaccio formou-se em Letras pela USP, tendo posteriormente realizado seu mestrado e doutorado na UNICAMP e pós-doutorado na Università di Bologna / Itália. Atualmente é professor de literatura brasileira na UFF, onde atua nos cursos de graduação e pós-graduação. Publicou os livros “Serafim Ponte Grande e as Dificuldades da Crítica Literária” (Ateliê Editorial, 2001) e “Oswald Glauber: Arte, Povo, Revolução” (EdUFF, 2012).
Ficha do Trabalho
Título
- A Significação dos Lugares e das Coisas no “Gattopardo”
Resumo
- Em 1963 o cineasta Luchino Visconti realizaria a sua adaptação cinematográfica do romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, “Il Gattopardo”. A intencionalidade inicial do diretor, em diálogo com intelectuais de esquerda, muitos deles ligados ao Partido Comunista Italiano, era o de “corrigir” ideologicamente o romance, superando sua visão conservadora da História e realçando a participação popular no movimento de Unificação do país. Este trabalho procura mostrar como Visconti modificou seus objetivos iniciais ao se sentir seduzido pelo universo material da aristocracia siciliana que trouxe à cena, com destaque para os lugares e as coisas. Um universo que lhe era caro e, em determinado sentido, familiar, pois ele próprio era descendente de uma aristocrática família milanesa.
Resumo expandido
- Em 1963, o cineasta italiano Luchino Visconti apresentava ao público sua adaptação cinematográfica do romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, “Il Gattopardo”. Como demonstra convincentemente Alberto Anile em estudo recente e muito bem documentado sobre essa adaptação, intitulado “Operazione Gattopardo”, a intencionalidade do diretor, em diálogo com intelectuais de esquerda, muitos deles ligados ao Partido Comunista Italiano, era o de “corrigir” ideologicamente o romance, superando sua visão conservadora da História e realçando a participação popular nas batalhas que levariam à unificação da Itália. Entretanto, enquanto preparava o filme, Visconti, um aristocrata de nascença, sentia-se cada vez mais atraído pelo mundo da nobreza siciliana que reconstruía no set de filmagem; aos poucos, também a figura do Príncipe de Salina, personagem principal do romance, impôs-se a ele com toda a força de seu fascínio. O mundo do gattopardo era também o seu mundo de infância e juventude e durante as filmagens Luchino Visconti esmerou-se, mais que nunca, para reconstruir nos mínimos detalhes a cenografia conforme as descrições de Lampedusa, buscando fidelidade histórica em relação a móveis, objetos de decoração, vestuários etc., sempre valendo-se, quando possível, de ambientes e utensílios originais de época (a trama do romance tem seus episódios principais entre os anos de 1860 a 1862). A famosa cena do baile, praticamente um filme dentro do filme, é prova inconteste deste apuro viscontiano na reconstrução cenográfica, em seu grau de exigência máxima. São recorrentes os depoimentos acerca dos sentimentos do diretor no set, visivelmente emocionado e tocado por nostalgias familiares. Cabe notar, por outro lado, que na obra de Giuseppe Tomasi de Lampedusa os lugares e os objetos são descritos à exaustão e tomam boa parte das suas narrativas. Já em um extraordinário texto memorialístico, “Ricordi d’ Infanzia” (recolhido no volume “I Racconti”), o escritor siciliano traz à baila o seu “paraíso perdido”, os palácios da família nos quais habitou em sua meninice, relembra-os em seus detalhes de decoração, iluminação, as mais sutis peculiaridades arquitetônicas, confessando-se ainda uma criança solitária, que apreciava estar mais entre objetos singulares do que entre pessoas. No romance “Il Gattopardo” os lugares têm importância fundamental na própria caracterização psicológica dos personagens; também os objetos descritos são carregados de simbologia pessoal e de classe e pode-se afirmar que todo esse mundo material é percorrido pelo olho do narrador com notório prazer sensorial. O objetivo deste trabalho é explorar as afinidades de Lampedusa e Visconti no que se refere a esse apego a lugares e objetos em sua especificidade irredutível, considerando ainda que ambos os artistas apresentam indiscutível talento para representá-los, em seus meios expressivos próprios, com senso de beleza e plasticidade excepcionais. Para tanto, analisaremos o filme de Visconti, sempre referindo-o ao romance, tendo como enfoque central a atenção dos artistas para a “vida” ou a “alma” das coisas e dos lugares. Valendo-se de bibliografia crítica sobre o romance e o filme e de ensaios teóricos sobre a “alma” dos lugares e das coisas, isto é, sobre a relação dialógica e sentimental que os homens estabelecem com o universo material ao redor, buscaremos chamar a atenção para as imagens literárias e cinematográficas nas quais se pode verificar o empenho de ambos de fazerem lugares e coisas nos falarem de perto, atingindo ao mesmo tempo nossa razão e sensibilidade
Bibliografia
- ANILE, Alberto e GIANNICE, Maria Gabriella. Operazione Gattopardo: Come Visconti Transformò un Romanzo di “Destra” in un Successo di “Sinistra”. Milano, Feltrinelli, 2014.
BODEI, Remo. La Vita delle Cose. Roma, Laterza, 2011.
COSTA, Antonio. La Mela di Cézanne e l’ Accendino di Hitchcock: Il Senso delle Cose nei Film. Torino, Einaudi, 2014.
MICCICHÉ, Lino (a cura di) Il Gattopardo. Napoli, Electa Napoli, Centro Sperimentale di Cinematografia, 1996.
PEREGALLI, Roberto. I Luoghi e la Polvere: Sulla Bellezza dell´Imperfezione. Milano, Bompiani, 2010.
SCHIFANO, Laurence. Visconti: O Fogo da Paixão. Trad. Maria Helena Martins. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1990.
TOMASI di LAMPEDUSA, Giuseppe.Il Gattopardo. Milano, Feltrinelli, 2014.
———————————————–. I Racconti. Milano, Feltrinelli, 2015.
TOMASI, Gioacchino Lanza. I Luoghi del Gattopardo. Palermo, Sellerio,