Ficha do Proponente
Proponente
- Lucas Bastos Guimarães Baptista (USP)
Minicurrículo
- Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP).
Ficha do Trabalho
Título
- Três dimensões da composição fílmica
Resumo
- É proposto aqui um estudo da composição fílmica através do cruzamento de duas tradições críticas, e do foco em suas concepções do que seriam as categorias fundamentais para a criação no cinema: de um lado, os críticos franceses que gravitaram em torno dos Cahiers du Cinema e que definiram o cinema como uma arte essencialmente espacial; de outro, críticos americanos e ingleses que trataram do cinema experimental, defendendo uma arte essencialmente temporal.
Resumo expandido
- É proposta aqui a descrição da hipótese de uma pesquisa de doutorado. O projeto tem como objetivo central o estudo da composição fílmica através do cruzamento de duas tradições críticas, e do foco em suas concepções do que seriam as categorias fundamentais para a composição no cinema: de um lado, os críticos franceses que gravitaram em torno dos Cahiers du Cinema, e de outro os teóricos americanos e ingleses que trataram do cinema experimental. As diferenças nos pressupostos teóricos se refletem na definição das categorias composicionais, e na preferência por certos filmes como melhores representantes dessas características. O ponto de partida para a pesquisa é a preferência de cada um dos lados por um aspecto da composição: a definição do cinema como uma arte essencialmente temporal ou essencialmente espacial. Descrevemos, assim, os tipos de espaço identificados por Éric Rohmer, e os tipos de tempo identificados por Peter Gidal, e apontaremos as semelhanças estruturais nas duas abordagens.
O alicerce sobre o qual Rohmer constrói seu pensamento é a concepção de “ontologia fotográfica” como postulada por André Bazin. O que Rohmer defende é que, ainda que o tempo esteja implicado no cinema, não deve ser privilegiado. O espaço deve ser o fator-guia na composição, pois é nele que está inscrita a relação ontológica entre o cinema e a realidade. Em consonância com essa postura, em sua tese sobre Fausto (Murnau, 1926), Rohmer distingue três tipos de espaço: pictórico, arquitetônico e fílmico. O espaço pictórico seria o da imagem projetada sobre a tela; o espaço arquitetônico, a representação de um mundo sobre essa tela; e o espaço fílmico, aquele reconstituído na mente do espectador através de fragmentos fornecido pelo filme.
Os pressupostos de Gidal são, naturalmente, distintos. Ele se filia à linhagem da vanguarda, que desde os anos 1920 busca o “específico fílmico” ao desviar da representação realista e narrativa preferida por Bazin. O “cinema estrutural” é a tendência mais extrema da vanguarda reconhecida por Gidal, dando preferência à materialidade do aparato e à neutralização do “conteúdo”. Essa tendência evidencia, para Gidal, o quanto o cinema é, acima de tudo, uma arte da duração, uma arte do tempo. Assim, ele descreve três aspectos do tempo no cinema: real, ilusionista e pós-newtoniano. O tempo real seria o tempo cronométrico da projeção; o tempo ilusionista, aquele denotado pela filmagem; o tempo pós-newtoniano, aquele que depende da interação entre o espectador e os fragmentos dispostos pelo filme.
Seja na descrição do espaço por Rohmer ou na do tempo por Gidal, um nível, ou uma dimensão, parece sempre depender da anterior para se constituir – deve de alguma maneira integrar a dimensão anterior sob um novo sentido. O espaço pictórico é pressuposto no arquitetônico, mas este o integra sob um novo termo; da mesma forma, o espaço arquitetônico é a base para o espaço fílmico. O mesmo princípio ocorre na descrição de Gidal, onde o tempo da projeção é um pré-requisito, portanto é a partir dele que o tempo ilusionista deve se constituir; e o tempo pós-newtoniano lida necessariamente com referências virtuais, às quais só podemos considerar através da projeção e da representação.
Sendo o espaço e o tempo categorias inevitáveis na composição de qualquer filme, podemos investigar as maneiras pelas quais as duas tipologias se cruzam em suas semelhanças estruturais, o que talvez nos permita tratar obras das mais diferentes procedências e inclinações através de um mesmo arcabouço teórico.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. O Olho Interminável. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
BAZIN, André. O Que é o Cinema? São Paulo: Cosac Naify, 2014.
BRAKHAGE, Stan. Metaphors on Vision. Nova York: Film Culture, 1963.
GIDAL, Peter (ed.). Structural Film Anthology. Londres: British Film Institute, 1978.
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ROHMER, Éric. L’organisation de l’espace dans le Faust de Murnau. Paris: UGE, 1977.
SITNEY, P. Adams. Visionary Film. Nova York: Oxford University Press, 2002.
XAVIER, Ismail. O Discurso Cinematográfico: A Opacidade e a Transparência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.