Buenas noches, Boa noite, Mba’eichapa nde pyhare! Como nosotros hablamos en la frontera com nuestro imperfecto portunhol que mescla esta linguagem selvática entre o guarani, o português e o castelhano.

Queremos convidar todas/os a fazer uma reflexão do porquê é importante neste momento histórico fazermos o Encontro da Socine na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, a UNILA, na região da fronteira, onde de um lado temos a imponência das Cataratas do Iguazu – cenário dos filmes A Missão, Happy Together, Pela Janela, La Embrujada, e tantos mais -, e o Rio Iguazu, e do outro lado temos o grande Rio Paraná na fronteira com o Paraguai. Por ali também é possível contemplarmos o encontro dos dois rios.

Mas por que a UNILA?

Neste exato momento, no Equador, vivemos uma insurreição popular, quando os movimentos indígenas desceram das montanhas, dos seus pueblitos na beira do que um dia foi um vulcão, e organizados em caminhões e ônibus chegam à cidade de Quito para dizer não ao capital, para dizer não à mão sangrenta do Fundo Monetário Internacional que apunhala as veias abertas da América Latina. Ele sabem da necessidade de lutar pela soberania de seu povo. Alguns destes indígenas possivelmente podem ser pais, mães, parentes de nossos estudantes da UNILA, que vindos de tantos outros países da América Latina e do Caribe, ao chegar à UNILA muitas vezes falam mais aimara, quéchua, creolé e guarani do que propriamente o castellano e o português.

Fazer a Socine na UNILA é entender que do outro lado da fronteira encontramos o Paraguai, um país destruído pela Grande Guerra (eles não gostam que chamamos de Guerra do Paraguai, a guerra nunca foi deles, sempre foi da Argentina, do Brasil, do Uruguay e do imperialismo que massacrou e assassinou praticamente todos os homens daquele país). É o país reerguido pelas mãos das mulheres e que infelizmente também viveu a maior ditadura da América Latina sob o comando do ditador Strossner (homenageado por Bolsonaro recentemente em Foz do Iguaçu), um ditador que enterrava suas vítimas mortas nos porões da própria casa. O Paraguai é um país que até hoje não tem nenhum curso de Cinema e Audiovisual em uma universidade pública e que só recentemente, em 2018, aprovou sua Ley de Cine depois de incansáveis esforços dos cineastas, gestores e entidades daquele país.

Fazer a Socine na UNILA é entender que estamos a 20 minutos também da Argentina, este país que 1918 teve uma insurgência estudantil, a Reforma de Córdoba, quando os estudantes, entusiasmados pelo momento histórico pós Revolução Russa e pós Revolução Mexicana, entenderam que era preciso avançar na defesa da universidade pública e da sua autonomia e construir uma sociedade mais justa para além dos muros da universidade, na perspectiva de reconhecer toda classe trabalhadora, que em sua maioria sempre esteve e segue fora dos muros da nossa universidade.

A UNILA nos lembra o tempo todo que também vem de Cuba os brados de um povo revolucionário que há 60 anos tomou as rédeas da sua história e fez com que a ilha pudesse ser um respiro de outra humanidade não só pautada pelo capital, ali foi criada a Escuela Internacional de Cine e Television, onde Gabriel Garcia Marquez, Fidel Castro e Fernando Birri manifestaram também suas utopias no/pelo cinema. Nos lembra que foi o Haiti, este país negro, um dos primeiros a lutar pela sua independência. A UNILA nos lembra todos os dias que desde o Chile o neoliberalismo aprofunda as mazelas de um povo que hoje já não conta mais com previdência, educação e saúde pública. A UNILA nos lembra todos os dias que a soberania do povo venezuelano é permanentemente ameaçada pelo imperialismo e sua ambição pelo ouro negro do mundo, o petróleo. A UNILA é um lugar que nos provoca todos os dias a sairmos das nossas posições confortáveis e privilegiadas da docência, da pesquisa, da extensão, nos provoca a entender que ao rompermos com a perspectiva eurocêntrica de mundo, também precisamos construir novas epistemologias, novas estratégias de resistência e, neste sentido, nos provoca todo tempo a buscar horizontes revolucionários para um mundo sem machismo, sem exploração do homem pelo homem, sem racismo, sem lgtefobia, sem todas as formas de preconceito e de opressão. A UNILA nos faz todos os dias lembrar que precisamos entender que a arte, a ciência, a filosofia é o que nos permite caminhos utópicos de liberdade.

A cidade de Foz do Iguaçu e a região também carregam profundas cicatrizes no território. Uma região que faz parte do que um dia foram os 30 povos guaraníticos que resistiram aos bandeirantes e que abriram parte do caminho Peabiru que ligava um oceano ao outro. Estamos sobre o aqüífero guarani, em meio a uma vasta extensão de Mata Atlântica, uma região em que as Sete Quedas foram caladas pela construção de uma das maiores obras da engenharia do mundo, a Itaipu. Vale lembrar que esta construção não se deu sem derramar sangue indígena, sem traumatizar muitas de suas gentes arrancadas de suas terras (mas também por lá não se gosta de falar sobre o assunto, de se rememorar os traumas desta época).

Mas é também uma região que acolhe uma das maiores comunidades árabes do mundo, além de muitas outras etnias. Foz do Iguaçu e a região da fronteira nos lembram todos os dias que são as mulheres paseras, laranjas, empregadas domésticas, comerciantes que carregam um mundo nas costas e que cruzam a fronteira carregando também sonhos, elas estão nas lendas e nos imaginários. Afinal, não sei se vocês sabem, mas as Cataratas do Iguaçu são de Naipi uma bela indígena caiguangue que ali resguarda o cair de suas águas. Já o Rio Paraná é resguardado pelo olhar de Jupira, uma indígena do povo acarayense que desde a Ilha Acaray olha todos os dias para a Ponte Internacional da Amizade.

Vamos parando por aqui por que não nos faltam motivos para conquistar suas mentes e corações e sensibilizá-los para estar na UNILA no ano que vem. Venham uns dias antes, ou então permaneçam uns dias depois, por que além de todas as inquietações que nos movem em nossas pesquisas, além dos karaokês nacionais e internacionais que lhes proporcionaremos, também há muito que se conhecer pela fronteira. E nós generosamente queremos acolhê-los num pequeno/grande pedaço e abraço de nossa América Latina…nessa América Latina que nos escancara todos os dias que o Brasil também é parte deste continente. E não poderíamos deixar de dizer, mesmo com todas as críticas que lhe sejam possíveis, que a UNILA foi criada e sonhada pelo nosso ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva e por isso também, fazer a Socine na UNILA é seguirmos denunciando que Lula é um preso político! Nós esperamos vocês na UNILA em 2020.

Fran Rebelatto

Carta-manifesto-convite UNILA

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